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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Se me amas...

...não chores!

 

 

Um pedido nobre, mas muito dificil de satisfazer...

 

Que me lembre, a última vez que fui a um funeral de um familiar próximo, foi há 24 anos atrás, por morte do meu avô.

Na altura, tinha 10 anos, percebi o essencial mas, como a afinidade não era muita, foi um acontecimento que me passou um pouco "ao lado".

Daí em diante, devo ter ido a mais um ou dois, mas nada que me tenha afectado, ou porque apenas conhecia vagamente, ou porque nem sequer conhecia e fui simplesmente como acompanhante.

Depois, há aquelas pessoas que até conhecemos, algumas familiares de amigos nossos, e cujo conhecimento da sua morte nos chocam um pouco na hora, mas logo passa.

 

De repente, vejo-me confrontada com a partida da minha tia, madrinha de batismo e de casamento. Aquela pessoa com quem foi passada a maior parte dos meus natais e páscoas na infância, aquela pessoa que via quase todos os fins de semana em casa dos meus pais, aquela pessoa que chegou a andar com a minha filha pequenina ao colo enquanto servia os clientes no café, e que estava sempre a brincar com ela quando a via...Apesar de ser apenas tia por afinidade, tinha com ela uma relação muito mais forte do que com as minhas tias de sangue.

 

De repente, chego à casa mortuária e a primeira coisa que vejo é uma foto da minha tia, dos tempos em que nem suspeitava o que lhe iria acontecer.

Vejo a minha prima mais nova à porta, agarrar-se à minha mãe, a chorar a morte da sua...Ainda cheia de forças, acabada de chegar, tento confortá-la, pedindo-lhe que recorde a mulher forte que a sua mãe sempre foi, e que guarde essa imagem dela. Falo, entretanto, com a minha prima mais velha (aparentemente mais forte), e com o meu tio.

Aí, as forças começaram-me a faltar. O meu tio não estava, naquele momento, desesperado. Estava perdido...

A gota de água foi ter olhado para a urna, e ver a minha tia ali deitada...tão magrinha, tão envelhecida...e a minha prima agarrada à mãe...

Tive que me afastar para não desabar. Tanta coisa me veio à cabeça naquele momento. A última vez que vi a minha tia viva, a adivinhar já o que a família iria sofrer quando partisse. Pus-me no lugar daquelas filhas, imaginando-me na situação pela qual elas passaram. Pensei no meu tio, seu companheiro de todas as horas, há tantos anos, agora sem rumo. Depois de tantos anos de trabalho, depois de tudo o que construiram e conquistaram, quando podiam agora descansar e aproveitar, acontece isto.

E o meu tio, apesar de ter feito tudo o que podia (infelizmente não havia muito a fazer), ainda assim, acha que podia ter feito mais...Não podia...

 

Por tudo isto, mesmo sabendo que a minha tia iria querer que seguissemos com a nossa vida, que não sofressemos e não chorássemos, foi-nos impossível cumprir esse desejo. Porque quem ama, também chora...

 

 

 

 

 

 

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