Que dias...
Estava tão contente: era o meu último dia de trabalho da semana, ia ter quatro dias de férias, ia estar com a minha filha e com o meu namorado!
Na verdade, tinha combinado com o meu namorado que ele vinha cá dormir e almoçava connosco na sexta-feira, mas depois lembrei-me que ainda havia uma pizza que tinha ficado de reserva, e então disse-lhe para vir jantar!
Mas o dia já tinha ameaçado temporal, logo de manhã, no trabalho. Chego a casa dos meus pais, para ir buscar a minha filha que fica lá nas férias enquanto eu estou a trabalhar, e começo logo a ouvir queixas e reclamações. Nada que eu já não esteja habituada, porque conheço bem a minha filha! E ela, desde o dia de Natal que não tem facilitado.
Seguimos então para a minha casa - a minha filha vai para a sala ver desenhos animados com o meu namorado e eu, divido-me entre as arrumações do costume e a correcção dos trabalhos de casa que ela tinha feito à tarde, enquanto a pizza está no forno.
Na sala, já se nota o cheiro, mas falta tão pouco para acabar de corrigir...Não sei se alguém mais o sentiu, mas ninguém se levantou, tal como eu.
E, quando chego à cozinha, já a cheirar-me a esturro, deparo-me com uma pizza em carvão! Que lindo serviço!
Convido o meu namorado para jantar e estrago-lhe o jantar. E ainda fiquei chateada porque ele se recusou a comer a pizza!
Na verdade, acho que estava mesmo chateada era comigo própria, porque quando penso em alguma coisa, corre sempre mal.
Talvez se fosse eu até aproveitasse algum pedacinho da pizza, mas não seria isso que serviria de jantar.
Como já estava aborrecida e sem paciência, mal a minha filha começou a queixar-se que a carne tinha uma gordurita, peguei no prato e deitei tudo fora!
Podia ser que assim estivesse melhor. Às vezes a fartura faz mal.
Claro que quando cheguei à cama, já mais calma, me arrependi de ter agido impulsivamente e de me ter chateado por causa do jantar.
Há dias em que uma pessoa pensa que não vale nada, que não está cá a fazer nada, e nem consegue ser feliz nem fazer os outros felizes.
Fui mãe e nem consigo fazer com que a minha filha se porte bem, trate bem os avós e não faça birras, se calhar nunca devia ter sido, se não sei ser mãe.
E com o meu feitio, o mais certo será eu ainda acabar sozinha.
Sim, fiz um grande drama, mas naquele dia acabei por me sentir mesmo um lixo, depois de ter levado com tudo em cima.
No dia seguinte, acordei com uma enorme dor de cabeça, quase como se estivesse de ressaca, e sem vontade nenhuma de sorrir. O tempo tinha passado e não aproveitei nada como era suposto.
Tinha marcado com a cabeleireira ir là à tarde, mas à última hora não atendeu porque estava doente. E já o meu namorado não aproveitou essas horitas para dormir, antes de ir trabalhar.
E só de pensar que a minha chave de casa desapareceu por causa disso mesmo. Para ele poder entrar em casa, disse-lhe para ficar com a chave que costumo ter sempre na porta. Mas quando foi ver, não havia chave, nem na porta, nem com ele, nem em lado nenhum. Lá teve que fazer uma cópia nova e gastar dinheiro.
A minha filha estava farta de andar de um lado para o outro e eu também.
Pelo menos, consegui fazer um jantar decente nessa noite, para me desculpar pelo da noite anterior.
E para completar, depois de passar o último dia do ano entre compras e cabeleireira, uma passagem de ano na cama a ver televisão e um primeiro dia do ano a fazer limpeza à casa, que mais posso eu desejar?!
Que dias...