Crash! Boom! Bang!
Até me poderia estar a referir à conhecida música dos Roxette, mas não é o caso, embora este fim de semana me tenha feito lembrar assuntos musicais, traduzidos nestas seis palavras - "crash boom bang" e "crash test dummies"!
Foi, de facto, um fim de semana atribulado e acidentado, em que deixei de ser uma mera espectadora, para me tornar co-personagem principal.
Há uns meses atrás, no âmbito de uma festa que aqui se realizou, assisti a uma simulação de acidente, e a todo o trabalho de equipa dos bombeiros na imobilização das vítimas. Mal sabia eu que um dia seria uma delas!
Pensando pelo lado positivo, foi mais uma aventura para o currículo, um momento trágico mas romântico e, ao mesmo tempo, com umas boas gargalhadas e boa disposição, apesar das dores! Podia ter sido bem pior, felizmente estamos bem, o carro sobreviveu e tudo se resolveu (ou quase tudo). Foi um fim de semana hospitaleiro!
Logo no sábado de manhã, fui acompanhar o meu namorado ao serviço de urgência aqui da vila. Claro que é apenas uma espécie de ponto de triagem e passagem. Como tal, encaminharam-no para a cidade, de ambulância. Fui com ele entrando, pela primeira vez, em 33 anos, numa ambulância. Foi uma manhã inteira passada no hospital, entre exames e análises. Já passava das 14 horas quando saímos, já pelo próprio pé, para apanhar o autocarro. Lembro-me de lhe ter dito que esperava nunca ter que voltar a entrar de novo numa ambulância, mas se acontecesse, que fosse como acompanhante...
Três horas depois chegámos finalmente ao carro, já mais animados e com vontade de tentarmos aproveitar o resto da tarde. Fomos às compras e depois íamos à farmácia. Ele parou na passadeira, para os peões atravessarem. E uns segundos depois..."crash boom bang"! Um barulho, um impacto, o nosso carro a ir para a frente, e nós junto com ele. Naquele momento, além do susto, até porque também foi o nosso primeiro acidente, senti que o meu cérebro tinha descolado todo. Fiquei cheia de dores na cabeça, mas mais preocupada ainda com o meu namorado, que estava tão enervado que podia acabar por piorar o problema dele. Depois, foi o pânico e o desespero. Eu de um lado, o meu namorado do outro. Veio a GNR e o Inem, perguntaram-me não sei quantas vezes a mesma coisa, vários bombeiros à minha volta, a porem colares e todas aquelas coisas para eu não me mexer mais, a saída do carro, a entrada na ambulância, e a notícia de que íamos os dois para o hospital.
As compras no carro, a minha mala no carro, o carro no meio de uma estrada, e eu numa ambulância - sem telemóvel, sem carteira, sem casaco, sem poder avisar ninguém. Dali a pouco o pai da minha filha ia levá-la a casa e eu não estava lá. Felizmente, a bombeira foi ao carro e trouxe-me a mala, consegui mandar uma mensagem para o pai da minha filha e ela avisou os meus pais.
Depois, foram mais de 6 horas deitada numa maca, sem me poder mexer, com dores, com frio, a ser levada de um lado para o outro, para exames, a polícia no hospital a fazer perguntas. A nossa sorte foi o pai do meu namorado estar lá, e ser bombeiro. Conseguiu acompanhar-nos, fazendo muitas vezes o trabalho dos auxiliares, e passadas algumas horas estávamos os dois deitados nas macas ao lado um do outro de mão dada. Já mais calmos e com vontade de sair dali para fora. Ele foi o primeiro a ter alta! A seguir chamaram-me. Eu ainda estava com tonturas e o médico disse que se continuasse assim não me ia embora. Ainda faltava ser vista pela cirurgia, que me liberou. Só tive que tirar a agulha do medicamento que me tinham dado para as dores e ainda meio zonza, finalmente viémos para casa, onde era suposto descansarmos, não fazer movimentos bruscos e estarmos sob vigilância.
Claro que, para uma mulher, é difícil seguir as recomendações! Depois de ter arrumado tudo em casa (felizmente o guarda conhecia os meus pais, e foi lá a casa deles pedir para irem buscar as compras e todos os pertences que tinham ficado no carro), deitei-me às 3h da manhã, para acordar antes das 9 horas, e ir buscar a minha filha que tinha ficado a dormir em casa dos avós.
Tratar da roupa, do almoço, dos banhos, da loiça, dos trabalhos de casa da filhota, das burocracias com a participação do acidente, e ainda aturar as birras da minha filha ao fim do dia, foi demais para mim.
Estava fisica e psicologicamente exausta! Hoje estou moída como uma sardinha, mas de regresso ao trabalho para mais uma semana!