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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Adaptação - Parte II

 

Se para ele não é fácil, para ela também não.

Ao fim de umas semanas de vida a dois, alguns dos medos e receios que tanto a faziam hesitar, começam agora a confirmar-se.

O romance da primeira semana, em que ambos estavam de férias, deu lugar à vida rotineira de casa para o trabalho, e do trabalho para casa.

A calma foi substituída pela correria, a disponibilidade pelo cansaço.

Aquilo que antes acontecia espontaneamente, parece agora soar a obrigação.

E a sensação de que o passado, mais cedo ou mais tarde, se vai repetir começa a ganhar força.

Talvez ela seja uma mulher de outro planeta, estranha, invulgar, diferente...Talvez nenhum homem seja capaz de compreender e aceitar a forma como ela encara a vida e as relações, mas é a sua maneira de ser.

Não pede muito.

Não quer estar com uma pessoa pelas vantagens que isso lhe possa trazer. A única coisa que considera lógica é uma ajuda para as despesas comuns. O resto, fica por conta de cada um gerir e gastar onde bem entende, como já faziam antes.

Sabe que é normal, sempre que o possa fazer, ajudar o companheiro quando estiver em dificuldades, como gostaria que a ajudassem, na mesma situação. Mas não concorda que isso seja uma obrigação adquirida só porque agora estão juntos. E que lhe seja cobrada ajuda, mesmo sabendo que ela não pode, ou que a acusem de todos os males daí resultantes. Ela não tem culpa que as coisas não tenham corrido como estava previsto.

Também não lhe cabe a ela afirmar se ele tem ou não condições para ali estar a viver. É algo que só ele pode saber. Talvez tenha sido precipitado, talvez não tenha contado com tantos contratempos, mas isso agora não importa.  

E se, agora que estão a trabalhar e com horários opostos, sobra pouco tempo para estarem juntos, ela não tem culpa.

Se têm disposições diferentes, nenhum deles tem culpa. Ou conseguem viver assim, ou não conseguem. Podem conversar, tentar aproveitar quando a vontade coincide, chegar a um consenso. Mas não é justo fazer, também disso, uma obrigação a cumprir, e reclamar quando não o é. 

É tudo o que ela não quer - estar numa relação em que, de repente, tudo o que antes acontecia naturalmente se transforma, pelo simples facto de morarem juntos, em deveres a cumprir. Em que a compreensão, amizade e companheirismo de antes, dão agora lugar a um livro de reclamações por deveres não cumpridos.

Talvez não seja mesmo deste mundo...Talvez esteja enganada...Talvez seja, simplesmente, uma questão de afinação de ponteiros, de limar de arestas, e não um mau presságio...

O tempo o dirá...