A regressão nas relações (em que degrau estamos hoje?)
“Não estamos próximos, vamos estar cada vez mais afastados e, qualquer dia, nem afastados estamos! – disse ele
Ela, não disse, mas pensou: concordo plenamente!”
De facto, aquela situação estava a tornar-se insustentável. E não podiam continuar assim. Ela bem dizia, vezes sem conta, que o casamento estragava as relações. Ele não acreditava. Ela começou a achar que, realmente, estava errada e ele certo.
Tudo parecia correr bem. A subida, degrau a degrau, progredia favoravelmente e estavam, aos poucos, a chegar ao topo.
Mas, sem se aperceberem, começaram a “tropeçar” um no outro, a regredir. Por cada degrau que subiam, desciam dois ou três. E, desde então, têm-se afastado cada vez mais do cimo da escada, e aproximado da base.
Há momentos em que ainda se vislumbra o casal de antigamente – único, cúmplice, romântico, divertido. No entanto, a maior parte do tempo, parecem dois adversários no ringue de boxe, a ver quem dá o golpe mais forte e derruba o outro.
Serão ainda as mesmas pessoas que há uns anos se apaixonaram uma pela outra e que, com o tempo, se vieram a amar? Sim, são as mesmas pessoas. Sim, são os mesmos sentimentos. O contexto é que é diferente. E é nesse contexto que estão a ser postos à prova.
A convivência diária no mesmo espaço, com tudo o que isso implica, fez surgir mudanças que, antes, nunca imaginaram, e as queixas (ainda que nem sempre pronunciadas verbal e directamente) não tardaram:
As queixas DELE
Ando a ficar farto:
- de ela reclamar comigo por tudo e por nada, como se nunca fizesse nada bem feito;
- de não poder falar daquilo que gosto porque nunca tem paciência para me ouvir;
- de não haver tempo para namorarmos;
- de não haver aquela proximidade de antigamente;
- de passarmos o pouco tempo que temos juntos a discutir;
- de ela andar sempre stressada e chateada;
- de ela nunca estar satisfeita com nada, nem contente com nada;
- de dar mais atenção à filha e à gata do que a mim;
- de estar sempre em último lugar na sua lista de prioridades;
- de andar sempre distante, a fugir e com desculpas.
As queixas DELA
Estou farta de quase tudo:
- de ser sempre eu a ter que me preocupar se há roupa para lavar, e pô-la a lavar;
- de ser sempre eu a ter que me preocupar se há roupa para secar, e pô-la a secar;
- de ser sempre eu a ter que limpar o caixote da gata;
- de ser sempre eu a ter que me preocupar se é preciso comprar comida e areia para a gata;
- de não poder dormir até mais tarde porque a gata me acorda de madrugada;
- de ter que me levantar cedo para pôr comida, limpar o caixote e abrir a janela à gata porque o dono não o faz;
- de ter que estar sempre a fechar a torneira que fica a pingar, quando já disse várias vezes para confirmar se fica bem fechada;
- de ter que estar quase sempre a limpar a bancada que fica suja, o tabuleiro que fica com migalhas, os azulejos ou o espelho da casa de banho que fica com espuma de barbear, o fogão que fica cheio de gordura;
- de ouvir falar de ginásio, músculos e futebol, de parecer que é só nisso que pensa e que a sua vida se resume a isso;
- de ele estar sempre a picar a falar de outras mulheres (às vezes já acho que não é a picar), quando as coisas já não estão a ir bem entre nós;
- de certas atitudes como dizer em voz alta, ao meu lado, que ia dançar com a rapariga que estava a dançar sozinha no bar, ou ir de propósito tocar no ombro da colega de ginásio no supermercado para lhe falar, como se não pudesse simplesmente dizer olá.
Ou seja, ele sente falta do tempo, da disponibilidade e da atenção que antes tinha, e ela sente que está sobrecarregada com trabalho que, antes, não tinha. Cada um tem as suas razões, válidas. E estão tão saturados que a tendência é afastarem-se cada vez mais, terem cada vez menos paciência e desejarem cada vez mais estar sozinhos do que com o companheiro.
Haverá alguma forma de evitar essa tendência, que acabará por, a longo prazo, destruir a relação?
A melhor forma será conversarem, tentarem chegar a um entendimento, emendar o que tiver que ser. Mas haverá sempre factores que escapam ao seu controlo e contra os quais nada podem fazer. E terão de aprender a lidar com eles.