A propósito do atentado da passada semana, aos jornalistas e cartonistas do Charlie Hebdo, opinou Gustavo Santos que "não tiveram bom senso, puseram-se a jeito".
Pois é verdade, sim senhor! Mas não é o que fazemos todos nós, tantas vezes na vida?!
Cada vez que escrevo e publico um texto para o blog, cada vez que faço comentários, que emito opiniões, que publico fotografias pessoais, que critico ou reclamo de alguma coisa, que me manifesto seja de que maneira for, ponho-me a jeito para as consequências dos meus actos.
O próprio Gustavo Santos, com as suas polémicas afirmações, pôs-se a jeito para o "tiroteio" que a página dele do facebook recebeu durante três dias.
Se há momentos em que mais valia estarmos quietinhos no nosso canto, caladinhos, e guardar as nossas opiniões e humor só para nós? Há.
Mas o que seria do mundo se todos tivessemos medo de falar, de lutar, de nos expressar, de brincar? Por algum motivo, evoluimos (embora muitas vezes pareça que não), e conquistámos a liberdade de expressão. Liberdade essa que termina onde a dos outros começa. E se essa liberdade não nos dá o direito que brincar, ainda que algumas brincadeiras sejam de mau gosto, menos ainda dá o direito de matar, como forma de combate à mesma, ou de lhe pôr termo. Não podemos esperar que por cada palavra ou gesto nos seja apontada uma arma, senão não valerá a pena sequer viver. Para esses radicais, não existem direitos nem limites, nem tão pouco bom senso. Mas matam porque não lhes damos a eles aquilo que eles próprios não possuem.
E agora que, mais uma vez, os sobreviventes do atentado resolveram lutar por aquilo que acreditam, não mostrar medo e publicar a próxima edição do jornal Charlie Hebdo, não faltarão vozes a afirmar que não medem o perigo, que "estão a pedir" ou a "pôr-se novamente a jeito".
A capa volta a incluir uma caricatura de Maomé, com uma lágrima no olho, a segurar num cartaz a dizer “Je Suis Charlie”, acompanhada de uma frase a dizer “Tout est pardonné”. Coragem não lhes falta!
Mas estará mesmo tudo perdoado?