Junho é o mês em que se celebra o Dia da Criança e, por isso mesmo, escolhi como tema para este mês, o acolhimento temporário.
Como o próprio nome indica, é um acolhimento de carácter temporário, com um período de duração definido, em ambiente familiar, que exige um grande compromisso e entrega, por parte dessa família de acolhimento, para com a criança acolhida mas, ao mesmo tempo, um grande desprendimento.
O objetivo é confiar a criança ou jovem a uma família, habilitada para o efeito, para integração num meio familiar, evitando assim as instituições, e visa a prestação de cuidados adequados às necessidades, bem-estar e educação essenciais ao desenvolvimento da mesma, num ambiente acolhedor, enquanto aguardam uma solução para o futuro, que pode passar pelo regresso a casa ou pela adoção.
Em Portugal, a nova lei prevê, até aos seis anos, o acolhimento familiar de crianças que tenham sido retiradas aos pais.
Como atrás referi, estas famílias têm que estar devidamente habilitadas, preencher determinados requisitos, satisfazer as condições mínimas necessárias e exigidas, e ter formação específica.
Mas, por mais formação e preparação que se possa ter, é sempre difícil gerir e lidar com as emoções, e agir de forma prática e desprendida, quando se criam laços.
E quando chega o momento da separação, do afastamento, de mais um virar de página, tudo se complica.
Por um lado, depois de uma batalha travada e vencida, as crianças/ jovens acabam por estar integradas naquela família que já consideram sua. Sentem-se estáveis e felizes. E são obrigados a dizer adeus a tudo isso. Um adeus progressivo, é certo, mas um adeus.
Na maioria dos casos, ocorre um retrocesso. As crianças alteram (para pior) o seu comportamento, tentando desligar-se das pessoas com quem conviveram, para não lhes ser tão dura a despedida. Outras, fazem-no para que as deixem ficar mais tempo com as famílias, por não se sentirem preparadas para a separação.
Por outro lado, como se sente quem acolhe estas crianças/ jovens quando lhes é dito, ainda que nem sempre diretamente, que a sua missão está cumprida, e está na hora de “substituir” esta criança por outra? Quando o destino que espera estas crianças é uma nova família de acolhimento, que os obriga, de certa forma, a recomeçar da estaca zero? Quando, nessa altura, já floresceu um sentimento tão forte como o que sentem pelos próprios filhos? Quando sabem, embora não seja possível, que essas crianças/ jovens ficariam melhor se continuassem com essas famílias do que separadas delas?
No nosso país, existem poucas famílias disponíveis, não só pelos motivos acima apontados mas também porque os casais são pouco recetivos a uma das missões da família de acolhimento que é facilitar, e até mediar, a relação da criança com a família de origem.
Por outro lado, apesar de a lei dizer que é uma medida transitória, na prática as crianças acabam por ficar, na maioria das vezes, mais de cinco anos.
Também não ajuda o facto de, sendo família de acolhimento, não se poder candidatar à adoção.
Ainda assim, existem casos de sucesso, e crianças/jovens que nunca cortam definitivamente a ligação com algumas famílias de acolhimento. Porque, no fundo, nunca esquecemos aqueles que sempre nos quiseram bem e nos amaram sem reservas!
Artigo elaborado para a Blogazine de Junho.