Definem-se como um grupo de teatro comunitário que pretende, através do teatro, “promover o desenvolvimento da comunidade através da Arte, estimulando o envolvimento das pessoas nas actividades artísticas levadas a cabo”, e “transformar realidades”, tornando mais activo e dinâmico o panorama cultural do concelho de Mafra.
Este projeto de Teatro e Comunidade conta com o envolvimento de todas as pessoas da comunidade que queiram passar pela experiência de fazer teatro.
Intitulam-se “A Tribo”, e estão hoje aqui na rubrica “À Conversa com” para nos falar um pouco mais sobre este colectivo e o seu trabalho, pela voz da fundadora, Daniela Simões!
Como é que nasceu A Tribo?
A TRIBO nasceu de um impulso, de uma vontade. Foi um projeto que criei um mês após iniciar, em 2013, o meu mestrado em Teatro e Comunidade e passou a ser nesse instante a minha maior história de amor.
Que elementos fazem, atualmente, parte desta Tribo?
Do grupo central de teatro comunitário d’ A TRIBO fazem parte 12 elementos, todos eles pessoas da comunidade que gostam de teatro. Alguns destes elementos já participaram nos outros projetos anteriores. Todos eles são moradores do concelho de Mafra à expeção de um que mora no concelho vizinho de Torres Vedras, e que não desiste de fazer, desde o início do projeto, teatro comunitário com A TRIBO. Temos também à nossa volta muita gente que sonha connosco e que nos ajuda a crescer e a manter este trabalho vivo.
“Até Onde Voas Quando Fechas Os Olhos?” foi a vossa primeira criação. Como é que o público reagiu à vossa estreia?
De uma forma surpreendente! De forma geral penso que superamos bastante as expectativas do público. Depois dos espetáculos proporcionamos sempre uma conversa pedagógica entre o público e o grupo, e nesses momentos ouvimos os testemunhos da plateia que revelaram a emoção e a felicidade que o espetáculo lhes despertou. Muitas pessoas tomaram contacto pela primeira vez com esta forma pedagógica e estética de teatro. Enchemos as duas salas do concelho onde atuámos, foi uma experiência muito bonita. Com as palavras de força do público percebi que o caminho teria de ser forçosamente em frente!
Seguiram-se “Corpo-Recipiente”, em 2015, e “Vão Viver Juntos? Um Dia”, em Maio deste ano. Que mensagem tentaram transmitir em cada uma destas peças?
O “Corpo-Recipiente” e o “Vão viver juntos? Um dia.” foram dois espetáculos criados com propósitos totalmente distintos.
O “Corpo-Recipiente” foi a segunda criação de teatro e comunidade d’ A TRIBO. Um espetáculo que pretendia que as pessoas olhassem para o corpo como uma caixa onde se guardam todas as histórias e acontecimentos que passam ao longo dos anos das suas vidas, dando especial importância às coisas que as fazem sentir vivas e livres, sendo que cada um é um corpo único, e que o mais importante não é o que está por fora, mas sim aquilo que nos preenche o “recipiente”.
O “Vão viver juntos? Um dia.” foi uma performance criada a pensar na rotina e na não-vida que muitos casais vivem hoje em dia, numa esperança de se encontrarem e entenderem. Quisemos que as pessoas percebessem a importância do diálogo, do toque, do amor.
Mas cada pessoa tem o seu universo e é com esse universo que lê e sente os espetáculos, por isso não gosto muito de fechar a leitura do foi visto ou do que será visto em cena, para não condicionar a leitura de cada espectador.
Este ano decidiram também apostar numa peça infantil “Coisas de Criança”, que estreou a 29 de Maio. Como é que surgiu esta ideia?
Esta era uma ideia que já estava em carteira e decidimos dar-lhe forma em 2016. Achámos que era importante e interessante criar um espetáculo para a infância mas com a pedagogia do teatro comunitário: usámos as memórias de infância dos intérpretes e fizemos algumas perguntas sobre esta temática a uma criança de nove anos. Os intérpretes eram pessoas da comunidade, com vontade de fazer teatro, e algumas crianças, durante o espetáculo foram chamadas a participar.
Também a 28 do passado mês, ocorreu a antestreia de “A Festa”, no Teatro da Trindade, estando em cena também durante o mês de Junho. É difícil apresentar três criações diferentes em tão curto espaço de tempo?
É exigente, requer principalmente um grande rigor no que toca à organização. É preciso coordenar horários, organizar as equipas, os materiais e gerir o cansaço que se vai acumulando. Mas difícil não é, tem é que se querer muito.
Que feedback têm recebido por parte do público que assiste às vossas criações?
É sempre muito positivo. A mais valia do teatro comunitário é que as pessoas revêem-se nas histórias e isso torna o público mais perto das criações, sentem afinidade com o que se passa em palco. Emocionam-se, divertem-se e ao mesmo tempo questionam-se. É para isso que serve o teatro.
De que forma é que A Tribo tem envolvido as pessoas e a comunidade nas diversas actividades artísticas que têm levado a cabo?
O primeiro envolvimento das pessoas da comunidade começa precisamente na criação dos espetáculos. As pessoas que fazem parte d’ A FESTA, neste caso vão dos 17 aos 48 anos, são pessoas da comunidade que se juntaram para, através do teatro, crescer em grupo e criar um espetáculo com o contributo de todos, escrito por todos. Este é o primeiro passo do envolvimento: as pessoas passam de espectadoras a intervenientes no processo de criação. O segundo é quando todo este processo de meses é devolvido a uma comunidade, essa já mais alargada, onde se apresenta o espetáculo final, resultado dos meses de trabalho do grupo. Pretende-se também com isto que se criem hábitos de culturais, vontade de ver teatro nas pessoas, queremos despertar consciências para os temas que são apresentados em palco.
Que apoios mais necessita, atualmente, “A Tribo”, para que o projeto possa crescer e chegar a mais pessoas?
Precisamos de um espaço onde possamos desenvolver de forma permanente as atividades que já temos a acontecer, e as novas que temos pensadas. Precisamos de financiamento que nos ajude a impulsionar os projetos que temos parados. Só assim conseguiremos dar corpo a esses projetos que envolvem naturalmente o teatro e a comunidade, que são a nossa maior paixão, mas também as outras artes, como é objetivo desta Associação. Precisamos também do reconhecimento da importância deste trabalho pedagógico, cultural e artístico por parte da gestão autárquica para a população do concelho de Mafra.
Muito obrigada, Daniela!
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