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...em pleno verão, querer vestir um casaco de inverno, e calçar meias e botas?!
É que a esta hora até nem está mau, mas de manhã, ainda encoberto e com vento tipo nortada, só apetecia vestir bastante roupa, ou ficar em casa no quentinho!
Saiu hoje o novo lyric video da música “Wall of Love” dos Karetus com o Diogo Piçarra, um video que é mais focado no processo criativo do Grafitty.
O que acham?
Hoje tenho comigo uma convidada que já vos dei a conhecer através dos seus diversos livros, cujas críticas aos mesmos têm vindo a ser publicadas aqui no blog.
Mas nada como conhecer a própria autora!
A Rosana Antonio aceitou o meu convite, e proporciou uma conversa bastante intimista, em que abriu o seu coração e falou sobre os seus livros, os países por onde passou, a sua experiência como mãe e até como, depois de ter trabalhado e vivido em lugares tão distintos, acabou por escolher o nosso país para se fixar definitivamente.
Foi uma das entrevistas que mais prazer me deu fazer, e que partilho agora convosco. Espero que gostem tanto de lê-la, como eu!
Como aqui a menina Marta não se coibiu de fazer imensas perguntas, achei melhor dividir a entrevista em duas partes. Aqui fica a primeira:
Marta: A Rosana nasceu no Brasil, mas já viveu em vários países como Itália, Inglaterra ou Suíça. O que de melhor guarda de cada um deles?
Rosana: Exatamente isso! O melhor de cada um deles!
Do Brasil, o fato de ser feliz sem motivos! Quando nascemos em meio a tantos problemas e dificuldades, temos poucas desculpas para não ser feliz! Esta é a ideia que eu tenho do Brasil. Embora não concorde com quase nada do que acontece no país, sou eternamente grata ao universo por ter-me feito nascer lá.
A Itália é a minha casa. Aprendi tudo que precisava pra viver bem lá. Senti cada vibração! Provavelmente deixada pelos meus antepassados. A minha bisavó era italiana, casou-se com um francês e foram viver pra o Brasil. Lá esqueceram tudo, deixaram tudo pra trás e começaram de novo. Na Itália senti uma reencarnação precoce, antes mesmo de morrer!
Nossa alimentação diária é italiana, apesar de gostarmos de tudo, é a nossa base. Gosto da arte, da moda, da música. É o meu país por excelência, apesar de todos os problemas e ignorâncias incutidas na sociedade.
A Suíça nos deixa vulneráveis. Fiquei com a sensação que merecia mais e mais. Porque o país oferece muito. Me senti valorizada e merecedora de mais. Me tornei mais exigente.
E Portugal é a casa que escolhi pra viver. Inconscientemente, acredito sofrer da síndrome de estar vivendo num “Brasil tranquilo”. Gosto do jeito pacato dos portugueses e graça a esse jeito, aprendi a abrandar. A fazer uma coisa de cada vez e a compreender o verdadeiro significado da expressão “vai se andando”.
A Inglaterra é o país da liberdade. Não existe julgamentos nem restrições sobre quem você é ou quer ser! É o país das misturas. Pelo fato de não terem uma culinária atrativa, promovem a mistura de tudo que existe de bom no mundo. Foi lá que aprendi a fazer pratos indianos e onde me tornei dependente do chá inglês, que por sua vez, é produzido com ervas açorianas.
Costumo dizer que na vida é importante ser feliz como os brasileiros, artistas como os italianos, exigentes como os suíços, humanos como os portugueses e ousados como os ingleses. Esta é a minha definição dos países que representam muito pra mim.
Marta: O que a levou a querer conhecer o mundo?
Rosana: Eu tinha a certeza de que tinha muito pra viver, pra degustar. Cada vez que chego num país é como se eu tivesse de começar tudo de novo. Eu encaro como se eu pudesse escolher maneiras diferentes de viver e acabo utilizando isso para fazer certo, o que algumas vezes fiz de errado em outro lado.
Marta: É difícil chegar num país distante e diferente, e começar do zero?
Rosana: Quando se respeita um país sim, é difícil! É voltar a primária e ter de ser alfabetizado novamente, e digo isso em muitos âmbitos. No linguístico, no cultural, no emotivo, no civil… é como todas as fases da vida, é necessário observar para extrair o bom e o mal de um início.
Marta: Em Itália, a Rosana formou-se em Ciências da Comunicação. Considera que a comunicação é algo essencial, e uma ferramenta que lhe foi útil nos diversos trabalhos que desempenhou?
Rosana: Sou muito determinada! Muitas vezes pensei nisso. Se teria conseguido o que consegui sem ter estudado Comunicação Social. Sem ter provado os jornais, a Tv e o rádio, a minha grande paixão. Sou até capaz de me responder: sim, eu teria conseguido sem ela, mas não era a mesma coisa. Foi muito importante. A faculdade e o mestrado em Comunicação Social, a seguir a todas as experiências profissionais que tive, são fundamentais para a evolução do meu trabalho.
Marta: E o Marketing, como surgiu na sua vida?
Rosana: Eu adoro Marketing! Juntar a comunicação com o meu estilo persuasivo me trouxe muita segurança em tudo que faço, me refiro ao profissional e ao pessoal.
Quando emigrei para Inglaterra, e já era o terceiro país onde vivia… tive de “começar na primária” no âmbito linguístico, mas já estava mais preparada, então resolvi procurar empresas brasileiras e italianas para trabalhar. Escrevi uma carta para o diretor duma empresa de envio de dinheiro para o exterior. Ele me chamou pra entrevista. Me deu o trabalho! Eu era caixa como muitos outros. Passavam por mim cerca de 60 mil libras por dia… eu nem sei como nem o porque, mas tenho alergia a dinheiro. E mesmo gostando de trabalhar numa empresa alegre e com muito movimento de gente de todo lado, não estava suportando estar no caixa. Tinha as mãos empoladas da alergia. Então disse ao diretor, ao fim de um mês, que eu queria ir para o marketing. Ele me disse que tinha uma responsável do departamento que não fazia bem o trabalho. O departamento era composto por uma equipe de 6 pessoas. Um filipino, dois russos, uma espanhola e dois brasileiros. Ele foi claro: “Você vai para o departamento de marketing. Tem um mês para mostrar que sabe fazer o trabalho. Se o fizer bem, dou a supervisão pra você. Vai ser a diretora de marketing responsável pelo material de todo o grupo. Se não, te mando embora!” Eu aceitei imediatamente. Durante um mês eu levei material para casa pra estudar a noite. Eu tinha seis promotores de marketing na minha responsabilidade, incluindo a atual responsável que passou a ser promotora desde a minha chegada. Ela também era russa.
Não só consegui mudar o departamento de marketing pra melhor, como fui diretora do grupo por quase dois anos. Meses depois a equipe já gostava e muito da minha gestão. A ex-responsável veio ter comigo em Portugal em 2005, quando a empresa me mandou pra cá para abrir filiais do grupo. Veio aprender comigo e foi muito bonito ouvir dela própria pedidos de desculpas por sabotagens forjadas pela equipe, com o seu consentimento, contra o meu trabalho no início da minha gestão.
Marta: Mais recentemente, a Rosana e a sua família passaram a residir em Portugal, mais precisamente, na Ericeira. O que vos levou a escolher o nosso país, e esta vila piscatória em particular, para se fixarem?
Rosana: Como eu disse acima, vim abrir filiais duma empresa em Portugal em 2005, mas conheço Portugal desde 1998 quando, já vivia em Roma e vim como turista. Visitei Ericeira porque tinha uma amiga que tinha vindo também do Brasil há pouco tempo. Me apaixonei pela vila. Sabia que não podia viver aqui porque não tinha recursos, eu tinha de trabalhar e tinha ainda tanto para conhecer e explorar. Mesmo assim, eu disse ao vento ventoso da vila: um dia eu venho viver aqui. Os anos passaram e o mesmo vento tratou de ir me buscar. Vivi em Lisboa de 2005 a 2010. Voltei a viver na Itália, onde já tinha vivido quase 10 anos, e somente em 2013 vim pra Ericeira.
Aqui prometi a mim mesma que não trabalho mais pra ninguém. Sou “dona do meu nariz” e apesar de ter muito trabalho na escrita e em tudo que faço, a minha prioridade são os meus filhos! Se hoje alguém perguntar: “Qual é a sua profissão?” Sou capaz de responder na cara dura: Mãe! Sou mãe a tempo inteiro!
Marta: Como, e quando, é que a escrita entrou na sua vida?
Rosana: Muito cedo! Eu sempre gostei de escrever redação/composição, desde a escola primária. Participava sempre das festas importantes. Quase sempre eu era a oradora da turma. Aos 13 anos comecei a participar dos festivais. Consegui uns tantos troféus em áreas literárias, onde participava com contos, crônicas e poesia. Mas o prêmio mais significativo foi uma coleção de livros do Eça de Queirós e um ordenado mínimo que aos 14 anos me deu muita motivação pra continuar a escrever.
Marta: Um dos seus livros, “Filhos da Mãe”, fala das relações entre o povo brasileiro e o português, de uma certa disputa entre ambos, e de uma imagem estereotipada que cada um tem sobre o outro. Sendo a Rosana e o seu marido brasileiros, de que forma foram acolhidos no nosso país? Sente que ainda há algum preconceito e dificuldades a nível de aceitação e integração?
Rosana: Somos vítimas de discriminação e xenofobia até hoje. Mas é claro que vivendo num sítio pequeno, estamos muito expostos e isso ajuda a aliviar o preconceito. Costumamos dizer que a forma mais sutil de nos tratarem é quando dizem: “Vocês são diferentes, nem parecem brasileiros!”
Não percam amanhã a segunda parte desta entrevista!
Imagens: assmeleca.wordpress.com; myspace.com; rosanaantonio.wordpress.com
Para saberem mais sobre a Rosana:
Rosana
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Donna Trappo
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Associação M.E.L.E.C.A.
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