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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

À Conversa com Maria Oliveira

Maria Oliveira nasceu em 1969 na Trofa. Aos 18 anos prometeu a si própria que um dia escreveria um livro. Licenciou-se em Assessoria de Direção – Isai/Isag Porto e especializou-se em Recursos Humanos. Hoje diretora de várias empresas quis o destino dar-lhe uma semana de repouso absoluto e escreveu os primeiros 4 meses deste romance “UM ANO”.

Mãe, mulher e filha precisou de várias horas de voo para concluir o segundo livro – os restantes 8 meses.

Dois livros viciantes, uma história de amor com personagens reais, bem constituídas e adoráveis.

Agora, traz-nos o seu mais recente trabalho “Are You With Me”, ideal para levar na bolsa para uma ida à praia, ou numa viagem durante as férias!

Mas nos falar um pouco mais sobre si, e sobre as suas obras, tenho hoje comigo a autora Maria Oliveira, a quem desde já agradeço por ter aceitado o convite!

 

 

 

  

 

Maria, começo por lhe perguntar como surgiu o gosto pela escrita?

O gosto pela escrita é consequência do gosto pela leitura, muito jovem 12, 13 anos tive o privilégio de ter uma amiga com uma biblioteca fantástica, centenas de livros, e a possibilidade de devorar tudo. Aquela biblioteca era a minha janela para o mundo, um mundo fantástico, comecei pelas coleções de Enid Blyton (trazia aos 2 de cada vez e no dia seguinte já tinha lido tudo, a mãe dela incentivava-me e eu tinha sede de conhecimento, queria histórias novas, vivências diferentes) e rapidamente passei da literatura infantojuvenil para os clássicos, o Eça, o Júlio, Torga e outros também li Christiane F. e Charles Duchaussois, a minha fome era insaciável.

Há 30 anos atrás a sociedade portuguesa e a sociedade de consumo eram bem diferentes da dos nossos dias, e há 30 anos atrás eu já tinha lido mais de uma centena de livros.

Quando estudei Fernando Pessoa e os heterónimos, e com o despertar das primeiras paixonetas, escrevi umas tantas quadras e comecei com poesia, de muito mau gosto, recordo-me. Mas nasceu o bichinho, e nessa altura que dizia às amigas, “guardem as minhas mensagens (bilhetinhos trocados na sala de aula) que um dia serei escritora.” Brincava, sem dúvida.

 

Aos 18 anos prometeu a si própria que um dia escreveria um livro. Esse momento chegaria vários anos mais tarde. Foi uma opção sua, ou falta de tempo para se dedicar à escrita?

Foi… eu nunca pensei que um dia conseguiria editar um livro, por isso demorei muito tempo a tomar a decisão de escrevê-lo. Temos de admitir que enviar uma obra para apreciação, quando o setor livreiro era quase monopolizado e sem o fator C, era exatamente a mesma coisa que não enviar.

Se pensarmos que o Harry Potter foi rejeitado 16 vezes, penso que esclareço todas as dúvidas. Há uns 15 anos escrevi umas 10 ou 20 páginas de um romance que partilhei com alguém que me disse “tens jeito”, mas não levei a sério e sem mais nem porquê não lhe dei continuidade.

Porque tal como quando fiz a PGA, nunca pensei em entrar para a faculdade por razões económicas, também não apostei na escrita, por pensar ser uma miragem. Depois, a vida dá muitas voltas…

Como leitora compulsiva chegavam às minhas mãos, “coisas” intragáveis e eu ficava deveras surpreendida como é que isto é um livro (principalmente literatura traduzida), como é que alguém editou uma “coisa” destas?

Com o sucesso de vendas de E.L. James, acredito ter sido das primeiras leitoras portuguesas a ter acesso ao livro, porque li sobre ele antes de ser traduzido para português, consegui uma versão ebook muito foleira, já estava a terminar o primeiro livro, quando foi colocado à venda em Portugal. Depois surgiram uma série de escritoras a tentar algo “chocante” e então, uma amiga empresta-me um romance que me horrorizou, quer pela narrativa e pelo vocabulário quer pela história em si. Nem o terminei, quando devolvi disse:

Até eu fazia melhor, a história é nojenta, o vocabulário repugnante. Como é que é possível?

Nas férias de verão desse ano - 2014 -, dediquei-me à escrita e nasceu o meu primeiro romance – não editado - Perdoa-me. O envio para apreciação, um bloqueio na caixa de correio eletrónico e… ficou na gaveta.

 

 

 

 

O que a levou a escrever o primeiro livro “Um ANO”?

Um ano, primeiro volume, queria conhecer o mundo das Cartas de Tarot e comprei um baralho, idealizava escrever um romance baseado numa leitura de cartas, comecei a estudar o tema. Ao mesmo tempo a minha vida familiar e profissional dá uma volta gigante e muitas coisas mudam, com tanta correria, o corpo começa a sentir e os joelhos não aguentam. Um derrame, dois, três, sair de um avião direta ao hospital, recurso a canadianas quando estava mal, e abuso nos curtos espaços de tempo em que havia melhoras, com o tempo o gelo do Sr. Antonio (restaurante onde almoço com mais frequência) deixou de ser suficiente, 30 dias de fisioterapia, fui a 3 sessões, mais uma viagem de avião e um derrame tal que me oferecem cadeira de rodas no aeroporto sem eu pedir, mais uma aterragem no Francisco Sá Carneiro com saída direta para o H.P.T. O médico de serviço lê o histórico – eu já conhecia todos os ortopedistas que faziam urgência no hospital particular – e diz-me “ou para, ou para não há alternativa”. Dessa vez era o joelho esquerdo e a caixa automática ajudava a fazer os meus 30 kms para cada lado e continuar a trabalhar, e ainda insisti mais uma vez. A medicação deixou de ser suficiente, as ressonâncias repetiam-se, não havia causa clinica, mas também não havia melhoras significativas, no dia seguinte ainda insisti, fui até Barcelos, mas passei o dia deitada no sofá da sala de reuniões no final do dia o regresso foi doloroso, fiz os últimos 2 kms com as lágrimas a correrem pela face, tratamento de choque proibida de caminhar até ficar boa.

Quando cheguei do hospital completamente drogada, “betametasona” a circular no sangue, ouvia em eco, e sentia-me zonza. Estava em pânico, como é que eu podia ficar em casa. Eu tinha uma vida lá fora.

O efeito passou e comecei a escrever, para descontrair e passar o tempo que nem sabia quanto… Caderno na mão, sabia do que queria falar, queria falar de xenofobia, queria falar da Cristina, uma menina que sofrera na pele o racismo alemão, queria falar dos filhos dos emigrantes, queria homenagear quem tem coragem de sair do pais e começar de novo, sei que não consegui, mas nasceu a Michelle. Queria falar da prepotência dos magistrados, nasceu a Sara, queria falar de homens respeitadores – não existem - nasceram os 3 amigos Joca, Duarte e Amadeu, queria falar dos informáticos - seres que não sabem comunicar. Queria falar do lado bom do amor, do que não aparece nos livros do F. Salgueiro.

Um ano, é uma sequência de frases narrando acontecimentos, encontros, acasos e casos que nascem no decorrer do deslizar da caneta. Sabia o que queria escrever, não como, nem onde, nem com quem, surpresas sequenciais até para mim, encaixei perfeitamente os acontecimentos como se todo o trama tivesse sido delineado previamente. Não foi o que aconteceu.

 

 

 

 

O seu segundo livro “UM ANO II”, lançado em Maio deste ano, é a continuação da história do primeiro. Porque decidiu apostar novamente nestas personagens?

Porque todas as histórias deveriam ter um fim, e UM ANO, acabava sem acabar. Quando o primeiro livro foi lançado já estavam os outros dois escritos, UM ANO II e o ARE YOU WITH ME?, o lançamento só aconteceu meio ano depois porque as fases e os processos são menos céleres do que as decisões de os editar… Mesmo que o primeiro livro tivesse sido um fracasso o segundo já estava agendado, mas não foi, e os leitores quando terminam o primeiro romance pedem o segundo, e agora dizem, queremos saber se a Michelle está grávida e se de gémeos. Depois recebi comentários surreais:

“Estou apaixonada pelo Joca.”

“Ando aqui nestas ruas, e, imagino qual será a casa do Joca?”

“Não conheço a Michelle e já a admiro.”

“Tem de me dizer onde encontro tão bela jovem?”

Um dia ao entrar na cidade de Barcelos, na rotunda da estação tem uma estátua dos Alcaides de Faria – já passamos ali dúzias de vezes - o meu marido pergunta-me: “Quem são estes?”

“Os pais do Joca.” - respondo e instala-se a gargalhada.

Também tive quem me dissesse “Cobarde, aquela menina, como foi tão cobarde?” - Falava da Michelle, e depois contou-me que uma amiga na faculdade numa situação idêntica optara pelo aborto e a mazela ficara até hoje… e associou a Michelle à amiga e ficou indignada.

Todos os leitores pediam a continuação, talvez, não sei, devesse ter feito um só volume, com o romance completo, mas assustaria quem não lê, quer pelo preço de venda do livro quer pelo número de páginas. Assim, mais pequeno, simples, e, o continua… deixo tudo em aberto e recebo o feedback, porque quem termina e gosta pede a continuação.

As personagens mereciam o segundo livro e eventualmente um terceiro “Michelle dois anos depois”… uma possibilidade.

 

 

 

 

No mesmo mês, lança também a sua terceira obra “Are You With Me”, inspirado na música com o mesmo nome. Considera que foi uma boa aposta lançar dois livros tão diferentes no mesmo mês?

Aposta? Termo muito comercial… lancei três livros, como quem coloca três filhos no mundo. Lançar um livro escrito com amor e carinho é semelhante a um parto, toda a mãe quer dar à luz desde o momento que sabe que está gravida, e eu como autora não conseguia ter os livros prontos e não os lançar. Os atrasos nas edições é que aproximaram os lançamentos. Apesar de me terem sugerido que deixasse o terceiro para Setembro ou até para o próximo ano, não conseguiria. Estava pronto, era doloroso vê-lo dentro de uma caixa.

Um livro só tem valor, só é livro, quando lido, quando folheado, quando devorado.

 

Que feedback tem recebido relativamente às suas obras?

Excelente, a quantidade de mensagens privadas a felicitar-me é enorme, pessoas que leem na noite dos lançamentos sem parar e até terminarem, outras que me dizem perdi a noite por tua causa. Outras que dizem não terminem porque estou a gostar tanto que até deixo para o dia seguinte, se não acaba logo. Outras que perguntam e não há mais? Já li os três. Depois também vem o assédio, há sempre quem misture tudo, há sempre quem quer conhecer a autora, há sempre o chico esperto que delira

com as paginas mais sensuais e tenta passar o bom senso. Depois os comentários menos simpáticos de quem nada faz, “Eu é que devia escrever um livro.” E os que me dizem: “É a história da tua vida!” – Força, penso eu, escrevam e não, não é, nunca a escreveria…

 

Considera que o livro “Are You With Me” é um bom livro para acompanhar os leitores, que gostam do género, neste verão e nestas férias?

Excluindo, quem só lê poesia ou históricos, o meu Are you with me ? é para todos, e fico feliz por a Marta ter compreendido a minha mensagem, sinal de que fui capaz de a passar para o papel. Não era essa mensagem que idealizei, se é que idealizei alguma. Este livro, nasce com uma vida de loucos, sei que há bem pior, mas de repente vejo-me com deslocações, umas atrás das outras, já nem tirava a mala do quarto, quando aterrava já sabia quando iria estar ali novamente, tinha semanas em ir todos os dias ao aeroporto, cheguei a aterrar com diferença de minutos do meu marido e vinha-mos de destinos diferentes, já gozávamos com o mudar-me para mais perto do aeroporto. Comecei a ouvir o Are you with me? E interpretar a letra, cantava ao som da faixa, mas percebia que aquilo não dizia nada, quando ouvia a caminho do escritório pensava vou ver o vídeo clip e perceber se é só isto, ou exatamente isto, mas entrava no escritório e esqueci-me completamente. Voltava a ouvir e questionava-me: Será o meu inglês assim tão mau? Quando vi o vídeo clip, acho que chorei. Era mesmo aquilo, o astronauta até pode ir à lua! Mas ele só quer umas férias no México, uma coisa simples, possível, real! Para quê? Porquê? Tantas viagens! Nada importa, nada é mais importante do que estarmos com quem amamos. Vi ali a minha vida… e a necessidade refletir, de parar.

 

A Maria é licenciada em Assessoria de Direção, e especializada em Recursos Humanos, sendo atualmente diretora de várias empresas É difícil conciliar o papel de mulher, mãe e escritora?

Sim, e não. Não escrevo no trabalho, não leio no trabalho – enquanto horário fixo no escritório. Fora dele, deslocações, voos, estadias, vale tudo, até já optei pelo comboio numa deslocação a Lisboa para alongar a viagem e ser mais produtiva. Um ano II, uma boa parte foi escrita em Paris, hotel, stand de uma feira, viagem. Terminei-o no aeroporto de Geneve.

O trabalho, hoje, nada tem a ver com de há cinco anos atrás, há cinco anos não tinha sequer tempo para pensar em escrever, quanto mais fazê-lo. Hoje, consigo deixar o trabalho “dentro do escritório” e preciso mesmo de encontrar um escape, algo que me ocupe a mente e me dê algum alento e perco-me na escrita. A minha filha mais nova, há uns tempos disse-me que se eu não lhe desse atenção ia ao facebook e tornava publico que eu passava o tempo de portatil na mão… Mas era exagero da sua parte. Como gerente e diretora, não é fácil, os sócios das empresas que represento e sou gerente não são portugueses sequer, e a celeridade com que se tomam decisões, ou a falta delas, provocam um stress tal, que às vezes destabilizam-me de tal forma, que não há inspiração ou criatividade que resista.

Como mãe, não muda nada, as minhas filhas são a prioridade em tudo. Gerir os meus eventos com a agenda das minhas filhas, às vezes, faz dos nossos fins de semanas uma correria desenfreada, vamos aguentando.

Como escritora não é fácil, nem tão pouco o que para mim, era expectável, criei uma autora, dei-lhe uma identidade, mas queria o anonimato. Queria ficar sossegada no meu canto e ver os meus romances expostos nas livrarias e fazer de conta… mas saiu tudo ao contrário, tive de dar a cara, sem um rosto não se vende, não se apresenta uma obra. Não queria misturar a minha vida, profissional ou pessoal, com a da autora, não imagino os “meus” colaboradores a lerem os meus livros e a fantasiar, nem tão pouco queria expor-me enquanto mãe e mulher.

Papeis distintos que implicam uma gestão cuidadosa.

 

Enquanto escritora, prefere escrever sobre histórias que podem ser reais no nosso dia-a-dia, ou fantasiar um pouco mais?

Reais, claro. Talvez para muitos sejam puramente fantasias hipotéticas, desenganem-se, o meu Perdoa-me, - não editado - talvez o mais surreal de todos até ao momento e partilhado com quatro pessoas apenas, repito só com quatro leitoras, uma delas disse-me: “Como é que escreveu um livro sobre a minha vida, sem me conhecer?”

A Michelle de Um Ano, poderá ser uma personagem difícil de encontrar, mas o enredo a paixão por um homem mais velho, os ciúmes e possessividade da ex. mulher, a cumplicidade entre os amigos, a afirmação “eu já sou grande, adulta, tenho 18 anos”, que muda numa fração de segundos para “eu só tenho 18 anos”, é comum a todos os mortais.

Gosto dar vida às minhas personagens, a minha Michelle, o meu Joca, a minha Raquel, o meu comandante, o meu militar… é assim que falo deles… como se existissem mesmo. Por isso tenho de lhes dar uma vivência possível, uma história provável.

 

Vamos poder contar com novidades literárias por parte da Maria ainda este ano?

Este ano não, porque não há tempo para apresentar, tratar e editar. Mas sim, tenho dois livros, um concluído e enviado para o concurso da LEYA, e outro a meio. O do concurso será sim para editar, com ou sem Leya, acredito que está bem conseguido, uma história mais improvável, ou não.

No Are you with me?, descrevi um atentado em Paris, no do concurso da Leya, o marido da protagonista com um falso perfil, seria surreal no nosso país, até há dois meses atrás, e de repente vejo nas noticias uma noticia e penso “Ando, eu, a prever o quê?”… não posso sequer deixar pistas, porque poderia identificar a minha obra, não que acredite no prémio final – comparando com o vencedor do ano anterior, o meu estilo difere a anos luz – mas tenho esperança que alguém lhe dê algum valor.

O que está a meio, fala sobre a solidão de viver numa cidade grande, e pretendo imortalizar o nome de alguém que já partiu deste mundo, a minha cunhada Luísa. Hoje conheci uma bebé de 18 meses com este nome, e há dois dias uma menina de 3 anos. Mas não é um nome que se atribua atualmente. Tenho algumas ideias na mente mas o resultado final será uma surpresa, até para mim.

 

Muito obrigada!

 

 

 

*Esta conversa teve o apoio da Chiado Editora.