Quantas vidas diferentes podemos viver?
E quantas personagens diferentes podemos encarnar, até percebermos que, por mais que queiramos ser outra pessoa, por mais personagens que inventemos para nós, e por mais vidas diferentes que queiramos viver, nunca deixamos, na verdade, de ser quem somos, e sempre fomos, e apenas passámos a viver a nossa vida numa teia de ilusões e mentiras, que um dia se esvanecerá?
Porque, mais do que enganarmos ou iludirmos os outros, estaremos a enganar e iludir a nós mesmos. E acham mesmo que vale a pena, e que os outros se preocupam com isso? Quem é que sairá, no fim, mais magoado dessa farsa?
"Podemos fingir que temos uma vida social muito preenchida, que comparecemos a não sei quantas festas e convivemos com vários amigos ou até celebridades quando, na verdade, saímos de casa e passamos o tempo em plena solidão num qualquer sítio, a fazer tempo para voltar para casa, onde nos espera mais solidão e tristeza.
Podemos fingir que somos donos de um carro topo de gama, quando somos apenas o motorista. Podemos fingir que comprámos um casarão, quando somos apenas o jardineiro. Podemos fingir que temos muitos amigos, quando nem um temos a quem ligar. E por aí fora..."
Até ao dia em que alguém, fria e cruamente, nos desmascara. Quando cai a máscara daquela personagem, inventamos outra. E se essa também for descoberta, encontramos uma nova.
Mas chegará a um ponto, em que esgotaremos tudo. Não haverá mais personagens, não haverá outras vidas, não haverá credibilidade para mais nada. Ninguém mais nos aceitará, porque ninguém saberá quem ali está. E nem nós próprios tão pouco saberemos...