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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

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Sortilégios, de Manuel Soares Traquina

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Terminei hoje de ler "Sortilégios", de Manuel Soares Traquina.

Este livro antecedeu "Desamores", e também ele fala de amores e desamores na adolescência, e de como estes podem sobreviver a todas as adversidades ou, simplesmente, morrer à primeira contrariedade.

 

"Sortilégios" está dividido em duas partes.

Na primeira, temos toda uma história passada na Brunheta, sobretudo na Casa Grande, que pertence aos avós de Jacinto.

 

 

A história começa com a matança do porco, que reune na Casa Grande toda a família, amigos, vizinhos e trabalhadores, num ritual de festa que, a Jacinto, lhe causa uma certa repugnância pela forma como tratam os pobres porcos nestes dias.

Não tive a sorte de conhecer os meus avós, mas consegui vislumbrar todo aquele ambiente através das magníficas descrições com as quais Manuel Soares Traquina nos brinda, e que nos consegue transmitir tudo o que ali se vivia, como se também nós fizessemos parte daquela história! 

É quase como se estivéssemos a ver através de pinturas, todas aquelas cenas que são descritas.

Se tivesse que escolher algumas palavras para descrever o que se vivia na casa Grande seriam, talvez, "família", "festa", "união", "cumplicidade", "simplicidade" e "alegria".

A família junta, nos poucos momentos em que ainda se reunem todos naquele local onde nasceram e foram criados, e do qual há muito partiram. A festa que é, tanto para os adultos, que para além do ritual da matança do porco e do que se lhe segue, ainda comem, bebem e jogam às cartas, como para as crianças, que aproveitam estes dias para brincar, correr, conviver de perto com os animais e as tarefas do campo. A união entre todos, e a entreajuda que vemos, para um propósito comum, e que só é possível de ver neste meios mais pequenos, onde toda a gente se conhece e quase forma uma família. A cumplicidade entre avô e neto. A simplicidade como as pessoas por ali vivem, e a alegria que reina por todo o Casal.

 

 

A Casa Grande, e a Brunheta são como um paraíso, que Jacinto sempre adorou mas no qual, nos últimos tempos, tem vindo a perder o interesse de outrora. Em breve ele irá estudar para Coimbra, e nada será como antes.

Isto faz-me lembrar como nós, inconscientemente, começamos a sofrer por antecipação perante a iminência de vivermos algo pela última vez, ou pela mera possibilidade de um determinado momento não se vir a repetir.

Ao invés de desfrutarmos, de vivermos e sentirmos ainda mais, sem receios, acabamos muitas vezes por nos contrair, por nublar a nossa mente de pensamentos negativos, e de passar esses momentos de forma mediana, amargurada, sem tirar proveito do que deveria ser, a verificar-se, uma despedida para nunca mais esquecermos. Algo dentro de nós nos impede de usufruir do presente e do que de melhor ele tem para nos dar, fazendo-nos viver ensombrados por um futuro que ainda está por vir.

 

Mas, quando Jacinto começava a desligar-se da Brunheta, algo o fez voltar a desejar como nunca ali estar! 

E aqui temos o primeiro vislumbre dos sortilégios que ocorreram a Jacinto. Cecília, afilhada dos seus avós e menina do campo, conseguiu encantá-lo, enfeitiçá-lo, seduzi-lo. E, ao mesmo tempo, também ela foi acometida pelo mesmo amor por Jacinto.

Só havia algo com que ambos não contavam: que Silvério, amigo de Jacinto, também estivesse interessado em Cecília e tencionasse pedir-lhe namoro. Nem tão pouco que Silvério descobrisse por que motivo foi rejeitado, e fosse capaz de recorrer a sortilégios, para acabar com o romance de Jacinto e Cecília, como forma de vingança.

 

 

A segunda parte do livro ocorre vários anos depois.

Jacinto está em Tomar. Os seus avós morreram. A Casa Grande foi vendida. A maior parte dos habitantes da Brunheta já tinha partido para outro mundo, ou emigrado, deixando aquele local abandonado, e sem o encanto que o caracterizou durante anos.

A vida vai passando e tudo vai mudando sem conseguirmos fazer nada para o impedir. Também nós vamos mudando. As cicatrizes vão-nos tornando mais fortes, mais resistentes, mais calejados, mas também mais soturnos, menos crentes, mais conformados... 

Afinal, o que se pode fazer quando não se sabe o que fazer, nem por onde começar. Quando não se tem a mínima ideia de como começar, ou onde procurar. Quando não se consegue perceber o que terá levado àquela situação? Depois da revolta, da inquietação, do desespero, da tristeza, da impotência, apenas conformar. Muitas vezes, guardando mágoa, mas também saudade, e um desejo profundo que, um dia, tudo mude. 

 

A primeira parte foi marcada pelo enlevo, pelo encanto, pelo amor puro, pela esperança. E terminou com a separação de Jacinto e Cecília, tendo ela emigrado com o pai e a irmã para o estrangeiro, sem qualquer despedida, justificação, notícia, nada...

 

E na segunda parte, como iremos encontrar Jacinto, na sua nova vida?

Terá encontrado, de novo, o amor?

E o que terá acontecido, verdadeiramente, a Cecília?

 

Descubram tudo em "Sortilégios", um romance que nos vai prendendo, e nos leva a querer saber como vai terminar, revelando se, de facto, se trata de uma história de amor, ou de desamor!

 

 

O "não" está sempre garantido!

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Se não lutarmos por aquilo que queremos, quem o fará?

Sempre fui mulher para ficar quieta no meu canto, e não me aventurar em certas coisas porque o mais provável era não resultar, o mais certo era ouvir um "não" como resposta.

Mas, de há uns tempos para cá, tenho agido de forma diferente. 

É verdade que o "não" está sempre garantido. Mas também pode vir um talvez ou, quem sabe, um sim. E nunca saberemos se isso acontecerá se não arriscarmos, se não tentarmos. Quem não arrisca, não petisca!

Afinal, o que temos a perder? Nada.

Mas podemos vir a ganhar!

 

Sim, por vezes (muitas vezes) é mesmo o tão esperado "não" que chega, isto quando chega alguma coisa. E sim, desanimo. Queria que tivesse dado certo. Não consegui. E dá vontade de voltar a ficar quietinha e não perder tempo com mais nada.

Mas a vida é mesmo assim. Ouvimos muitos "nãos", e ainda havemos de ouvir muitos mais.

Passado o desânimo, está na hora de levantar novamente os braços e continuar a lutar pelos objectivos. 

Se der, melhor. Se não der, paciência!