Lesley Pearse escreve sobre mulheres, isso já não é segredo!
E esta história não poderia deixar de ter a sua protagonista feminina - Hope.
Confesso que começo a ficar um bocadinho farta das mesmas temáticas nas histórias desta autora. Gostava que ela apresentasse uma história diferente, e que surpreendesse.
Estava a ler este livro e a pensar: ainda há pouco tempo li um livro em que a mulher tinha trabalhado como enfermeira, ajudado a lutar contra doenças e a melhorar as condições dos doentes. E, depois, lembrei-me - foi noutro livro da Lesley Pearse!
Da mesma forma, as guerras, os feridos, e a assistência a estes, estão quase sempre presentes. Admito que se torna maçador, em cada livro que lemos, estarmos a levar com o mesmo assunto.
Em quase todas as obras da autora se poderia aplicar o ditado "Deus escreve certo por linhas tortas" porque, se não fosse todo um passado de tormento, não haveria agora um presente e futuro tão feliz.
O que torna, então, esta história interessante, e uma boa leitura?
Hope é filha de Lady Harvey e do seu amante, o capitão Pettigrew. Como tal, não é desejada pela mãe, porque provocaria um escândalo saber-se que tinha traído o seu marido, e tido uma filha fora do matrimónio. O destino era matá-la, mal nascesse.
Mas Nell levou a menina para ser criada pela sua família, como se fosse sua irmã. Apenas Bridie e Nell sabiam a verdade.
Enquanto Hope cresceu junto de uma família pobre, mas que lhe deu todo o amor que podia, Rufus, o herdeiro dos Harvey, foi criado com tudo a que tinha direito, mas sem amigos, e com pais ausentes, sempre em discussões. Da infância até ao presente, ficou a amizade entre Hope e Rufus, mesmo sem sequer desconfiarem que eram irmãos.
Esta história aborda a forma como a homossexualidade era encarada naquela altura; a obediência e dever de permanecer casada com o marido, independentemente de ser um homem autoritário e violento, mesmo que isso implique o afastamento da restante família; o egoísmo e egocentrismo da alta sociedade,que só pensa em futilidades e no seu próprio sofrimento, sem se preocupar com quem esteve sempre ao seu lado.
E mostra como, apesar de tudo, por vezes, os valores e a preocupação com uma sociedade mais justa se sobrepõem, em algumas das pessoas nascidas em berço de ouro, à forma como foram educados para desprezar a criadagem e classes mais pobres.
Podemos também ver aqui uma abordagem à depressão pós parto, à depressão, e de certa forma, à loucura.
E como, para salvar aqueles que mais amamos, vamos buscar forças e coragem que nem sabíamos que as tínhamos.
Hope diz, mais para o fim, em resposta ao comentário do seu pai, que afirmou que tudo poderia ter sido diferente, se tivesse sabido que ela existia "se tivesses sabido, eu teria sido criada por uma ama, porque tu estarias sempre fora, nas guerras, e não teria tido todo o amor de uma família, como tive, e não seria a mulher que hoje sou".
De Amor e Sangue acompanha Hope, desde o seu nascimento, até à idade adulta, e todo o percurso que teve que fazer, até se voltar a juntar à família que a criou, e à que apenas mais tarde descobriu que tinha.