Passageiros - o filme
Estava à espera de algo totalmente diferente.
Não desgostei, mas também não foi nada que já não tivesse visto noutros filmes, e melhor aproveitado, que neste.
Nesta nave espacial viajam 5000 passageiros, que deixaram o planeta Terra pelos mais variados motivos, para habitar um novo mundo à sua espera, no espaço. Alguns, compraram bilhete só de ida. Outros, tencionam voltar novamente à Terra, muitos anos mais tarde.
Para completar a viagem, no momento em que o filme se inicia, ainda faltam 90 anos.
É nessa altura que um meteoro choca com a nave, provocando alguns estragos, e avariando as cápsulas de hibernação.
A minha primeira dedução errada (criada pela própria sinopse do filme) era a de que ambos os passageiros tinham acordado, acidentalmente, antes do tempo. Não foi esse o caso, pelo menos de um deles.
E chega, dessa forma, a primeira questão?
Quando nos vemos na possibilidade de passar toda a nossa vida sozinhos numa nave espacial, sem qualquer outro humano com quem conversar, conviver, criar relações ou laços de qualquer espécie, mas temos o poder de colocar outros passageiros na mesma condição que nós, o que faríamos?
Usaríamos esse poder para acordar outros passageiros e ter alguma companhia, sabendo que, com isso, destruiríamos as suas vidas e os seus sonhos?
Seria justo? Seria ético? Seria legítimo?
Penso que, no lugar da personagem, também eu ficaria louca perante a possibilidade de viver o resto da minha vida entre máquinas, estrelas e vazio, tendo por única companhia, aproximada de humano, um barman robot. E o meu egoísmo levaria a que não quisesse passar por isso sozinha, acordando outros passageiros propositadamente.
Por outro lado, se eu fosse um desses passageiros acordados intencionalmente, por motivos tão egoístas que não tinham tido em conta aquilo que eu tinha planeado para a minha vida, e que me fariam morrer sem ter concretizado o que sonhara, ficava como ficou a outra personagem - à beira de um ataque de nervos, revoltada, com vontade de dar cabo de pessoa que se achou no direito de decidir a minha vida por mim.
Porque é que, como diz o barman, quando alguém se está a afogar, tem que se agarrar sempre a outro e levá-lo ao fundo com ele?
E isto leva a outra questão?
O que levou aquelas personagens a deixar a sua vida na Terra, para lhe dar continuidade num outro planeta, longe da família e amigos? Será que estavam, na Terra, tão sozinhos como agora, ali na nave espacial? Não haveria nada que os prendesse?
É que, mesmo com bilhete de ida e volta, quando regressassem à Terra, todos os que conheciam teriam morrido. O próprio planeta estaria totalmente diferente.
Para mim, seria uma aventura impensável!
O ser humano nunca está plenamente satisfeito?
A determinado momento, o barman conversa com Jim e diz-lhe que o ser humano nunca está plenamente satisfeito com o que tem e com o lugar onde está, como já dizia a música do António Variações "só estou bem, aonde não estou, porque eu só quero ir aonde eu não vou...", e que de tanto querer estar noutro sítio e noutra vida, nunca chega a aproveitar aquilo e aquela que tem no momento.
Mas será possível aproveitar uma vida a comer, dormir, praticar desporto, dançar, ir a um bar, nadar, e por aí fora, totalmente sozinho ou, neste caso, a dois, em pleno espaço, sabendo que não haverá nada mais além disso?
O que não gostei muito:
A primeira parte do filme foi muito monótona, com apenas uma personagem. Depois, com duas personagens, começamos a assistir a um romance, que praticamente o leva a desistir de perceber o que aconteceu, porque estão acordados antes do tempo, e como conseguirão reverter a situação. Diria até que estão conformados e preparados para uma vida inteira ali.
E, nesse aspecto, tive pena que não tivessem feito a Aurora engravidar! Como seria ter um filho no espaço? Criá-lo e vê-lo crescer dentro de um nave? Poderiam, dessa forma, que um seu descendente ainda pudesse aterrar no novo planeta. Mas não. Nada de filhos.
No momento em que percebi que a nave estava com problemas, tive esperança que mais alguns passageiros fossem despertados, mas também isso não aconteceu, à excepção do chefe da nave, que tão depressa apareceu, como logo morreu, deixando a acção voltar a centrar-se no casal.
O próprio problema da nave, que poderá levar à sua explosão, matando toda a tripulação e passageiros a bordo, não passou de um cliché, em que uma das personagens se vê obrigada a sacrificar a sua vida, para bem de todos os outros, deixando a outra personagem a sofrer um grande desgosto de amor, caso não a consiga salvar.
Deveriam ter havido mais incidentes logo de início, mais perigos, mais sobrevivência, e menos descontração.
Quanto à decisão final:
Não estou contra, nem a favor.
Havendo a possibilidade de uma das personagens voltar a hibernar e acordar no futuro, que era o seu objectivo, fará mais sentido aproveitar essa oportunidade, ou viver o presente? Fará mais sentido voltar a ser egoísta, ou tentar remediar o mal causado?
Será justo condenar porque a personagem decidiu ficar e abdicar dessa possibilidade? Ou mais justo condenar se tivesse deixado a outra sozinha?
E que garante que, ao longo de décadas, uma deles não mudará de ideias?