El Cuaderno de Sara, na Netflix
Uma advogada viaja até ao Congo para tentar descobrir a irmã, que todos julgavam morta, e trazê-la de volta a casa.
Esta sua missão poder-se-ia interpretar como um gesto de amor.
Mas é também uma forma de Laura se desafiar a si mesma, e tentar provar, ao mesmo tempo, que é tão merecedora do amor do pai quanto a irmã e, por outro, que Sara é uma filha que não se importa minimamente com o pai, e prefere deixá-lo, para ajudar os outros.
Ainda assim, Laura ama a sua irmã. E, sendo quase tão corajosa quanto ela, arriscará a própria vida, para a encontrar.
O que ela não esperava, era ter que lidar com tudo o que vê e acontece à sua volta.
As guerrilhas pela exploração das minas de coltan.
Rebeldes que raptam crianças para se tornarem soldados, muitas vezes, obrigando-os a matar os próprios pais.
Meninas e mulheres violadas.
Muito sangue, pobreza, miséria.
A vida sempre por um fio.
E, no entanto, consegue também encontrar pessoas que ainda ali permanecem, para ajudar quem a qualquer momento possa precisar delas para acolher, proteger, orientar.
Ainda que se perceba que a esperança de um mundo melhor é inútil, e que nada irá mudar, o sentido de missão e dever ainda existe, e pode fazer a diferença, nem que seja para uma minoria, e por um curto período de tempo.
Pessoas que, mesmo quando quase tudo lhes é tirado, ainda conseguem ser bondosas, gentis.
Depois, há os que conseguem escapar, e não voltam, tentando recomeçar as suas vidas longe dali. E os que voltam, para se vingarem das pessoas que os transformaram para sempre naquilo que nunca quiseram ser, mas a isso foram obrigados.
Nesta sua viagem, em que esteve algumas vezes em perigo, e quase desistiu de procurar a irmã, por achar que não aguentava mais, Laura chega, finalmente, perto da sua irmã.
Mas nem tudo é como ela imaginava.
Talvez Laura tenha ido e arriscado a sua vida, em vão. Por alguém que nunca quis sair dali. Ou que não pode sair dali.
Ou, talvez, Sara consiga mostrar a Laura o quão importante é estar ali, e abrir os olhos de todos para uma realidade tão distinta daquela a que as pessoas estão habituadas, e com a qual se poderão, agora, ver confrontados.
E para isso, contribuirá o caderno de Sara, onde o bom e o mau estão retratados.
Este é um filme sem o desejado final feliz, mas que me fez pensar que, por muito melhor que a minha vida pudesse ser, ao ver tudo o que se passa neste mundo em que vivemos, as atrocidades, as loucuras, as guerras, as disputas pelo poder, as mortes de tantos inocentes, as barbaridades cometidas, as violações dos direitos, a fome, a miséria, o abandono, a falta de condições mínimas, e por aí fora, só posso sentir-me uma pessoa privilegiada, por ter a vida que tenho, a família, o trabalho, e as condições que tenho, no país e localidade em que vivo!