"AWAY", na Netflix
"Away" é uma série que conta a história de 5 astronautas, enviados numa missão a Marte, para descobrir se é possível habitar o planeta vermelho.
Se tudo correr como programado, a missão terá a duração de 3 anos, durante os quais cada um dos tripulantes estará longe da sua família, que deixou na Terra.
Emma Green é a comandante da missão, algo para o qual ela se preparou a vida toda, chegando mesmo a ponderar abortar, quando soube que estava grávida, com receio que um filho lhe estragasse o sonho de uma vida.
No entanto, a sua filha é agora uma adolescente, e Emma está a concretizar o sonho, ao contrário da sua amiga e colega, que abdicou da carreira para se dedicar à maternidade.
Em termos de missão, dificuldades técnicas relativas à mesma, e acção desenvolvida à volta desse tema, a série não cativa muito. Não há grande acção, nem tão pouco adrenalina.
Também Emma, enquanto comandante, deixa muito a desejar, sem conseguir manter a autoridade, o respeito e, ao mesmo tempo, o consenso e a empatia, relativamente aos companheiros, ao longo da viagem.
Tal como enquanto mulher, e mãe. Se, por um lado, quer ir em missão, por outro, muito cedo mostra o desejo de querer voltar para casa.
Acho até que, das várias personagens de Hilary Swank, esta terá sido a menos bem conseguida.
Assim, no que respeita às personagens presentes na nave Atlas, talvez Misha seja a mais interessante. Um homem que, após prometer à filha que não voltaria ao espaço, acabou por se refugiar nesse mundo, após a morte da mulher, deixando a filha a cargo de uma tia, que a criou.
No entanto, Misha quer a todo o custo obter o perdão da filha, que o rejeita e, agora que esta pode ser, efectivamente, a sua última missão, dado o risco e a perda de visão que está a sofrer, é por esse objectivo que luta.
Começa a série como um russo arrogante e com a mania que é melhor que os outros, mas acaba por mostrar o seu verdadeiro eu: um companheiro leal, um avô babado, um professor bondoso, um ser humano sensível.
Lu, a chinesa escolhida para ser a primeira a pisar Marte e tirar a foto da praxe, parece a antítese de Emma, no que se refere a questões familiares. Lu está focada na missão, que quer levar até ao fim, nem que para isso tenha que se sacrificar, e mentalizou-se de que, durante aquela missão, o filho só terá o pai, e ela não se deve desviar ou deixar-se levar pelas emoções, que podem comprometer todo o trabalho.
No entanto, o que não falta dentro de Lu são sentimentos oprimidos que, com o tempo, acabarão por extravasar, e mostrar uma outra faceta da mesma pessoa.
Kwesi destaca-se porque, a partir de determinado momento ele, que era o estreante nestas viagens espaciais, parece ser o que mais sensatez, espírito de equipa e de liderança apresenta, e sempre com as palavras certas, no momento certo.
Já em Terra, o destaque vai para Alexis, filha de Emma que, como seria de esperar, vive em permamente ansiedade pelo tempo que vai estar longe da mãe, e pela possibilidade de ela morrer.
Como se isso não bastasse, o pai sofre um AVC, terá que fazer fisioterapia e pode não voltar a andar. Em último caso, devido à sua doença, pode ter a vida em risco.
E ela própria vive na dúvida se não terá herdado o gene da doença do pai.
Assim, na ausência dos pais, ela acaba por encontrar o seu refúgio junto de Melissa, a filha desta e Isaac, que virá a ser o seu primeiro amor.
Só que, entre tantas incertezas e sem os pais presentes para a guiarem, ela acaba por ter algumas atitudes irreflectidas sem, contudo, deixar de ser a menina que sempre foi. Mas já sabemos que, quanto mais se proibe, mais se incentiva a fazer e as palavras têm, muitas vezes, o efeito contrário daquele que se pretendia.
Ou seja, a série vale pelas relações pessoais entre as personagens, e não tanto pelo tema principal - a viagem a Marte.
E confesso que, para mim, seria imensamente claustrofóbico passar tanto tempo numa nave, em pleno espaço. Acho que daria em louca, e me acabaria por atirar, num acesso de loucura, para o buraco negro do universo!