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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

"A Última Saída", de Federico Axat

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O meu marido apanhou este livro numa promoção do Continente.

Quando mo mostrou, o nome e a capa não me soaram estranhos. E até lhe disse "acho que tenho esse livro na minha lista de livros a comprar", o que confirmei mais tarde ser verdade.

Assim, não precisei de comprar para o ler.

Só tive que esperar várias semanas, para ele acabar de o ler, e poder começar eu.

 

Peguei então nele no sábado. 

Ia ao cabeleireiro, e é sempre uma boa opção levar um livro para me entreter naquelas mais de duas horas.

Comecei a ler, mas não me entusiasmou. Às tantas, guardei-o na mala.

Passei o resto do tempo em conversa com a cabeleireira.

Ao chegar a casa, perguntou-me o que estava a achar do livro, e disse-lhe que estava muito desiludida. Muita fantasia, muita confusão. Não faz o meu estilo.

E ele respondeu-me:

"É mesmo assim. A primeira parte tem esse efeito em todos os leitores. Mas vais ver que, à medida que fores avançando, não vais querer parar de ler, e vais gostar."

 

Lá continuei.

E ele tinha razão!

Portanto, quem tenha interesse em ler, considerem a "Primeira Parte" do livro uma espécie de Cabo das Tormentas, que é preciso ultrapassar, no caminho para chegar à Índia. É a parte mais difícil da viagem. Depois, a viagem torna-se mais apelativa e emocionante.

 

Posto isto, temos o protagonista, Ted, que aparentemente está prestes a cometer suicídio quando uma visita inesperada lhe estraga os planos.

O motivo para tal acto parece ser o tumor cerebral que lhe foi diagnosticado. Ainda que esteja a ser seguido por uma psicóloga, para o ajudar a lidar com o problema, Ted parece ter tudo premeditado ao pormenor, e querer pôr fim à vida.

 

Entretanto, vão sendo apresentadas outras personagens, que não percebemos muito bem onde encaixam. Descobrimos que o seu casamento tinha acabado. E ficamos curiosos para saber o que raios é, afinal, um opossum, um animal que está sempre a surgir na vida de Ted.

Embarcamos naquela teoria da conspiração, de que estão todos contra ele até que...

Ups, nada é o que pensámos ser até ali.

 

E é a partir da "Segunda Parte" que a trama ganha balanço, e começamos a querer descobrir tudo o que aconteceu para Ted chegar àquele ponto da sua vida em que agora se encontra, e onde e qual a chave que abre a porta para o que ele guarda na mente, e não consegue, de forma alguma, desbloquear.

Laura parece ter um papel fundamental, para fazê-lo sair de cada um dos ciclos em que se encontra, e partir para o próximo, num caminho em que não convém voltar atrás, mas que pode ser assustador, sabendo que, no fim do mesmo, está a verdade que o seu cérebro o fez esquecer.

E, ainda assim, aquela verdade que se descobre pode ser apenas "a verdade dele", que mascara a verdadeira realidade. 

 

O que é certo é que, atrás de cada fantasia criada pela nossa mente, pode existir uma base real, uma realidade que foi inconscientemente distorcida.

Ler este livro fez-me pensar naquelas pessoas que estão mentalmente aprisionadas, num estado de sofrimento por não se lembrarem de quem são, do que fizeram, sem capacidade para distinguir a realidade da ilusão, sem memórias dos seus últimos dias, num limbo entre a sanidade e a loucura. No tal círculo central, que separa as duas metades do campo, e no qual ninguém quer, nem pode, estar, eternamente.

Ted está no círculo, e precisa de sair dele. À medida que o tempo passa, mais perto fica da metade do campo que lhe trará a sanidade mental de volta.

Mas, conseguirá ele lidar com a verdade?

Conseguirá Laura olhar Ted da mesma forma, e continuar a querer o melhor para ele, depois de descobrir a verdade?

 

No labirinto que é a nossa mente, há apenas uma única saída, que temos que encontrar, para conseguirmos sair dele, sem ele nos prender para sempre, e nos perdermos para sempre.