A Noite Em Que o Verão Acabou, de João Tordo
Tinha este livro na minha lista de livros a comprar há imenso tempo.
Foi ficando para trás. Veio no Natal.
Foi a minha estreia com o autor. Esperavam-me mais de 600 páginas, e digamos que o início não estava muito promissor. Imaginei que demoraria várias semanas a lê-lo. Não foi o caso.
Terminei-o esta manhã.
Com três personagens principais, Laura, Pedro e Levi, este livro mostra aquela que está um pouco à frente, que tenta tirar o proveito da vida, e do momento, sem se envolver demasiado; aquela que parece ter ficado, para sempre, estagnada num verão da adolescência e vive de memórias, sonhos e desejos não concretizados; e aquela que, alheia às outras duas, parece ser uma criança difícil e problemática, com uma imaginação demasiado sombria e, mais tarde, uma jovem assassina.
Uma típica família portuguesa, unida, honesta, numerosa, humilde.
E uma família americana, descontraída, moderna, gente rica e poderosa, a fachada de família perfeita, a caminho de se desfazer de vez.
Um amor da adolescência, que nunca chegou a ser vivido, mas que permaneceu presente na mente de Pedro, condicionando a sua vida e o seu percurso, enquanto Laura seguiu a sua vida.
A vontade de se tornar escritor, ir atrás do seu autor de eleição e, pelo caminho, quem sabe, cruzar-se com Laura. E a constatação de que, provavelmente, fracassaria em todas essas metas, porque as tentava alcançar pelos motivos, e da forma, errados.
De repente, na relativa normalidade da sua vida de estudante, Pedro recebe um telefonema de Laura, pedindo ajuda. O pai de Laura tinha sido assassinado. A irmã mais nova, Levi, estava a ser acusada de ter matado o pai de ambas.
A partir daqui, nenhum deles terá, durante muitos e longos anos, sossego ou paz, por conta de um crime que não conseguem desvendar, e um passado que não sabem como investigar, quando falta a maioria das peças.
Existem muitos interesses em jogo. Dinheiro também. E a necessidade urgente de se culpar alguém faz de Levi a única suspeita credível, até porque foi encontrada com a arma do crime na mão, e assinou a confissão, acabando mesmo por ser condenada e passar, os anos seguintes, a cumprir a pena.
Nem mesmo a morte do sócio do pai, no mesmo dia, foi suficiente para relacionar os casos, ou aprofundar a investigação.
A história poderia ter ficado por aí. Provavelmente, teria ficado.
10 anos se passaram.
Novamente afastados. Novas vidas a serem vividas.
Até que alguém decide fazer um documentário sobre a inocência de Levi, e "leva" todos ao local do crime, de novo.
Só que, desta vez, alguém quer que a história toda se saiba, e tanto Laura como Pedro, com a ajuda do jornalista Nolasco, e de uns quantos testemunhos que conseguem obter, chegam à verdade que é muito mais obscura, e complexa, do que poderíamos imaginar.
Poderão agora, cada um deles, libertar-se do passado?
Recomeçar, sem esse peso nos ombros, e na mente?
Valerá a pena tornar a verdade pública?
E quem o poderá fazer?