O Hábito do Amor, de Teresa Caetano
A autora Teresa Caetano tem vindo a tornar-se uma presença assídua entre as minhas leituras e, desta vez, tive o privilégio de receber, de presente, uma das suas obras - "O Hábito do Amor", que desde já agradeço.
E, como não poderia deixar de ser, partilho agora a minha opinião sobre o mesmo que, como o próprio nome sugere, é um romance.
Aliás, com o título do livro, surge-me logo uma questão no que respeita ao amor - será este um "hábito"?
Algo que, a partir do momento em que é sentido a primeira vez, passa a habitar em nós de forma natural, tranformando-o num hábito como tantos outros que vamos adquirindo ao longo da vida?
Devemo-nos nós "habituar" a amar? Ou, pelo contrário, deixar que o amor surja de forma inesperada, e se manifeste sem contarmos com ele?
A verdade é que para Beatriz, amar, seja o que, ou quem for, está tão arreigado na sua essência, que quase se torna um hábito. E, confesso, irrita-me um pouco!
Porque ela parece espalhar apenas amor e bons sentimentos, e agradecer por tudo o que tem e lhe foi permitido viver, mesmo que tenha todos os motivos do mundo para estar contra a vida.
E ninguém (ou quase ninguém) é assim. Até mesmo a pessoa mais positiva e grata, tem os seus momentos de revolta.
Mas, voltando ao título, se o amor é, verdadeiramente, um hábito, será um bom hábito ou um mau hábito?
Será algo que nos faz bem, e que não devemos perder? Ou um vício, que nos leva a percorrer caminhos que não devemos, e que poderá trazer-nos dissabores?
Hábito ou não, bom ou mau, a verdade é que Beatriz e Rodrigo se apaixonam, e fazem promessas de amor eterno.
Mais uma vez, a minha veia céptica tende a não compreender um amor que nasce assim, "à primeira vista", em meros segundos. Aquela ligação que ambos sentem, de que já se conhecem de outras vidas, e que estavam destinados um ao outro. Que ainda mal falaram e já estão apaixonados. Que ainda mal se conhecem, e já se amam.
Penso que nos é dado a conhecer um amor tão ingénuo, tão puro, tão inocente, tal como a personalidade de Beatriz, que parece mais um amor de contos de fadas, do que real. Tal como as personagens que lhe dão vida.
Faz lembrar aquelas histórias em que acreditávamos quando éramos adolescentes, de que tudo era um mar de rosas, e tudo iria dar certo, apenas porque se amavam e que, hoje, já não reconhecemos porque a vida nos ensinou que as coisas não funcionam assim. Ou é muito raro isso acontecer.
Por outro lado, o amor manifesta-se de várias formas, e entre várias pessoas, nomeadamente, entre irmãos.
É o que acontece entre Rodrigo e Daniel, uma relação na qual acredito mais, e que encaro como mais aproximada à realidade.
Rodrigo é quase como um pai para o seu irmão mais novo, e tudo fará para o ver feliz. Sobretudo depois do acidente que o atira para uma cadeira de rodas.
Da mesma forma que um pai, ou uma mãe, fariam, por amor aos filhos. Ou talvez não...
E o que dizer do amor entre avós e netos, aqui tão bem representada por Beatriz e pelo avô Manuel?
Que me fez logo lembrar a relação da minha filha com o seu avô, também ele Manuel.
São pessoas simples, mas honestas, trabalhadoras, com princípios que transmitiram à sua neta, e ensinamentos, para que ela enfrentasse as dificuldades, e se tornasse na mulher que é hoje.
No entanto, por vezes, o amor é uma vítima de si próprio.
Por vezes, por amor, fazemos coisas que nos levam a perder o amor.
Por amor a uns, perdemos outros. E perdemo-nos a nós próprios.
Sim, por vezes o amor também é confuso.
Ainda assim, mais do que sobre amor, diria que este livro nos fala de sentimentos antagónicos, mas que se complementam.
Por um lado, a resiliência. Por outro, a vulnerabilidade.
Por um lado, a aceitação. Por outro, o nunca deixar de se lutar.
Por um lado, abdicar. Por outro, guardar.
Por um lado, esquecer. Por outro, recordar.
Por um lado, seguir em frente. Por outro, estar-se, inevitavelmente, ligado ao passado.
Por um lado, partir. Por outro, ficar.
Por um lado, amar os outros. Por outro, amar-se a si próprio.
No fundo, o amor tem um pouco de tudo isto.
Só temos que saber dosear nos momentos certos, e na quantidade certa.
E como um "conto de fadas" que se preze tem que ter "vilões", eles também existem nesta história de amor, ainda que até os próprios sejam caracterizados de forma não muito vilanesca.
Ah, e como não podia deixar de ser, para dar um toque ainda mais mágico, a maior parte da história é passada na Ilha do Faial, nos Açores, por entre o mar, os verdes prados, as flores e os animais.
Será o cenário perfeito, para a história de amor perfeita?
Talvez...
Mas como eu não acredito na perfeição, prefiro um amor que sobreviva no meio de todas as imperfeições que for encontrando no seu caminho. E se não acontecer, é porque não tinha que ser.
E, talvez, não fosse amor. Ou até fosse, mas não chegasse...
Sinopse
"Beatriz e Rodrigo vivem uma paixão secreta, que tem como cenário a beleza natural da ilha do Faial, nos Açores. Ela vive com os avós numa pequena quinta daquela ilha e ele mora na cidade de Lisboa. Apesar de terem um oceano a separá-los, o destino faz com que as suas vidas se cruzem.
Uma história de amor apaixonante e intensa, revelando que um sentimento verdadeiro nunca se esquece, vivendo para sempre no coração de quem ama.
A saudade, a esperança, a desilusão e a capacidade de amar à distância serão sentimentos bem presentes ao longo deste livro.
As cartas de amor alimentam o sonho e fazem com que as palavras escritas sejam decisivas no rumo do enredo.
Poderá Beatriz – uma mulher romântica e com uma forte ligação à natureza – derrubar os muros que se vão erguendo ao longo da sua vida?
E Rodrigo – um político de sucesso – conseguirá cumprir a promessa de um amor eterno?"