Louco por Ela, na Netflix
No que respeita a televisão, sou pessoa de fases.
Ando numa fase em que não me apetece ver séries, virando-me antes para os filmes.
Este era um dos que me aparecia na lista dos mais vistos na minha região, e que me suscitou alguma curiosidade.
Está classificado como comédia romântica. Mas não é.
Esqueçam. Tem romance, tem cenas engraçadas, mas não é a típica comédia romântica, em que um deles muda por amor ao outro, em que tudo se resolve no final e se vive um "felizes para sempre".
Não há frases feitas, nem amor suficiente que façam alguém mudar só porque nós queremos, ou porque o outro quer. Não existem fórmulas, nem milagres.
A lição que se tira desta história é amar, apesar de todos os problemas, de todas as dificuldades, e aceitar a pessoa como ela é, com todos os defeitos, com a sua doença, com as suas fases, com a sua personalidade.
É perceber que o amor pode acontecer, mesmo que a relação não seja perfeita, nem seja aquela que foi idealizada.
É, maioritariamente, passada numa clínica para doentes mentais.
Mas esqueçam os típicos filmes onde os "loucos" são "despejados" num manicómio pela família, que já não sabe lidar com eles.
Em que os "loucos" são maltratados pelo pessoal e pela instituição.
Onde os "loucos" são mesmo loucos, ou perigosos. Há ali pessoas que estão mais lúcidas do que os que não são loucos!
Eu diria que muitos daqueles pacientes, que até estão ali por vontade própria, e conscientes da sua situação e do seu problema, estão a residir na clínica não só para tratar o seu problema, mas também porque são diferentes, e a sociedade ainda reage muito negativamente à diferença. Ainda há muita crítica, muito gozo, muita discriminação e falta de integração.
Nem sempre os familiares, na sua esperança e tentativa de ajudar à recuperação, ajudam realmente.
A determinado momento, a directora clínica explica que um dos motivos para não aceitar muitas visitas aos seus pacientes é, precisamente, porque querem tanto vê-los bem e recuperados, que se enchem, e aos pacientes, uma falsa esperança que, em vez de ajudar, só atrapalha e acaba por prejudicar.
O espírito de entreajuda é constante.
Não há dúvida de que esse espírito não falta entre aqueles pacientes, que estão lá para se ajudar, e torcer pelo bem uns dos outros. É bonito de se ver, e mais uma prova de que, apesar de tudo, não perderam essa sensibilidade, e trabalham a amizade verdadeira.
E, até mesmo os funcionários, quando necessário, ajudam os pacientes. Como é o caso de Saúl que, sempre que a filha o vem visitar, veste a bata de médico, para que a menina pense que ele trabalha ali.
Os momentos mais emocionantes são mesmo protagonizados por Saúl, a sua relação com a filha, com os demais pacientes e, sobretudo, com Carla e Adri.
Mas, então, sobre o que é mesmo o filme?
Bem...
Adri conhece Carla numa noite e, apesar de ela lhe parecer uma mulher um pouco "louca", algo a que ele não está habituado, acaba por passar com ela uma das melhores noites da sua vida.
No entanto, ela avisou-o. Era apenas uma noite, e nunca mais se voltariam a ver.
Só que ele não consegue deixar de pensar nela e, quando percebe que Carla está internada numa clínica, ele decide internar-se também, para estar perto dela. A ideia era entrar, falar com ela, pedir-lhe o número de telemóvel, e sair. Fácil, não é?!
Pois... Só que os seus planos saem furados.
Ele é obrigado a permanecer na clínica, até que os seus colegas o avaliem positivamente, e possa ter a desejada alta.
Já Carla, não quer saber dele, nem da sua conversa de autoajuda, e está ansiosa para que ele saia dali e a deixe em paz.
Nesta história, a pessoa mais "sã", é aquela que está menos consciente daquilo que pode e deve, ou não, fazer. E será ele que, depois de passar pela experiência do internamento, terá mais a aprender.
Será que, pelo caminho, ainda conseguirá travar amizades inesperadas e conquistar um amor à prova de loucura?!