O céu, esta manhã!
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No outro dia, perguntava-me a minha filha: qual o sentido da vida?
Porque nascemos, e vivemos, para depois morrermos e desaparecermos?
O que é suposto andarmos nós, aqui, a fazer?
Pois…
Não sei. Mas deverá existir algum motivo, ainda que o desconheçamos.
E, felizmente, temos a sorte de ter uma vida que, não sendo de sonho também, nem de longe, se aproxima do pesadelo.
Terá Annika feito essa mesma pergunta?
Para ela, a vida não foi assim tão simples, tão generosa, tão simpática.
Annika fez muitas coisas erradas na vida. Escolhas dela. Decisões dela. Nada as desculpa.
Ainda que tenha tido pessoas boas na sua vida, que lhe deram várias oportunidades de se tornar uma pessoa diferente, havia sempre algo, ou alguém que, de certa forma, a puxava de volta ao abismo, a desviava do caminho, e lhe devolvia a velha vida de miséria. Que, no fundo, ela acreditava ser aquela em que melhor se encaixava, em que melhor se sentia, em que mais se esquecia do quão duro, e complicado, era viver.
Annika era aquela jovem, depois mulher, a quem foi tirado tudo, quando já nada tinha.
Mas havia coisas que ainda restavam dentro de si: arrependimento, consciência dos seus actos, e do quão mal tinha agido, e um pedacinho pequeno do seu coração intacto, que ainda lhe permitia ter alguns sentimentos mais nobres.
Annika cedo percebeu que não teria uma vida longa. Sabia que o fim estava próximo. E a sua intuição não lhe falhou.
Cecília, ao contrário de Annika, parecia saber para o que estava a viver. Parecia saber quem era, o que queria, o que estava disposta a fazer para manter o que tinha e, sobretudo, o que estava disposta a fazer, para não deixar de o ter.
Até ao momento em que os alicerces da sua vida perfeita, mas de fachada, ameaçam fazer ruir tudo o que construiu até ali.
É nesse momento que começa a perder o controlo. Que começa a ver tudo a escapar-lhe pelas mãos.
E, numa última, e desesperada, tentativa de se agarrar como pode àquilo que a segura, vai tecendo a sua teia de mentiras sobre mentiras, em que já poucos acreditam, e que lhe mostrará que, também ela, é tão frágil que a deixará cair, na realidade, a qualquer momento.
Se Annika nos desperta alguma compaixão, Cecília, nem por isso.
A primeira, assume os erros. A segunda, esconde-os, ignora-os, finge que nunca existiram.
A primeira, tem a “desculpa” das drogas, da dependência. A segunda, apenas a de que o seu coração é frio, calculista, manipulador. Ou, se necessário for, a de que está louca.
E entre as duas, há o Tobias.
O rapaz à porta.
Um rapaz traumatizado, que quase não fala.
Um rapaz que Cecília tinha visto, noutro dia, e lhe era estranho.
Um miúdo que, num determinado dia, Annika não vai buscar à piscina. E Cecília foi encarregada de levar para casa.
O miúdo que, a certa altura, acaba por ficar com Cecília temporariamente, enquanto família de acolhimento, até a assistência social lhe encontrar uma família definitiva. E que, logo a seguir, lhe é tirado quando Cecília é internada numa clínica psiquiátrica, após um surto psicótico.
Tobias era o rapaz que vivia com Annika. Que agora está morta. E que sabia quem era Cecília.
Será que Tobias também conhece a verdade?
O que será agora deste rapaz, sem família, sem amigos, sem ninguém?
Longe daqueles que o rejeitaram, mas também daqueles que o amaram?
Que futuro lhe estará reservado?
Este foi mais um daqueles livros que comecei a ler e não me estava a inspirar nada.
Acho que parecia uma história aborrecida, como um dos dias passados em Sandefjord, onde se desenrola a trama, em que o sol nasce depois das 9 para logo desaparecer, ainda antes das 16h, em que a chuva e o frio eram uma constante.
Mas depois, à medida que o fui lendo, é como se, lentamente, o inverno desse lugar ao verão, e os dias escuros, aos dias em que o sol está presente até depois das 22h!