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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Para algumas pessoas, só somos bons quando estamos lá para elas!

Marlice Bernardo: Bom ou mau?

 

Isto acontece na vida pessoal mas, também, muitas vezes, na vida profissional.

Enquanto os funcionários se mostram disponíveis,

Enquanto desenrascam, sempre que pedem,

Enquanto dizem que sim a tudo,

Enquanto falam bem da entidade patronal,

São os maiores!

Bons funcionários, exemplares, "membros" da família.

 

Mas, quando os funcionários têm o "descaramento" de querer algo diferente,

Quando se atrevem a dizer alguns "nãos",

Quando já não se pode contar com eles como antigamente,

Aí, então, já são uns ingratos, maus exemplos, ovelhas desgarradas do rebanho.

 

Para algumas empresas, os funcionários parecem ser "obrigados" a trabalhar lá eternamente, e em exclusividade, e vêm com maus olhos o desejo destes, de mudança, de melhoria, de melhores condições.

Para algumas empresas, só conta a sua vontade, e a de mais ninguém. O seu lucro. O seu prestígio. Muitas vezes, à custa do mal estar físico e psicológico dos funcionários.

 

Algumas empresas acham que podem tratar os funcionários como meros números, como descartáveis quando não mostram a utilidade de outrora.

E ainda há as que, para manter a fama, arranjam forma de obter elogios para alguns funcionários, para depois fazer propaganda nas redes sociais!

 

Já posso arrumar definitivamente a roupa de verão?!

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Aqui na minha zona, o tempo muda a cada dia: ora está calor, ora arrefece, ora volta a subir a temperatura, para logo em seguida descer outra vez.

Sábado estava calor. Ontem, ao sol, ainda se andava bem de manga curta. 

Mas, na sexta, por exemplo, já vesti umas camisolas mais quentes, de lã.

Ainda durante a semana andei de sandálias nuns dias, e de botas, noutros.

E hoje?

Bem... Hoje vesti novamente uma camisola de lã, e trouxe um casaco de outono/ inverno, porque estava cheia de frio!

Será que já posso arrumar, definitivamente, a roupa de verão?!

 

 

"O Vendedor de Passados", de José Eduardo Agualusa

 

Confesso que talvez não tenha começado a ler o livro com o espírito totalmente aberto a uma leitura diferente do habitual e, por isso, demorei a perceber aquilo que ia lendo, qual o sentido, e qual a relevância.

Por exemplo, logo na primeira página, fiquei a pensar que ser seria aquele que estava a narrar a história: um espírito, um alienígena?

 

Só mais tarde percebi que o narrador era, nada mais, nada menos, que uma osga!

Mas não é uma osga qualquer. É uma osga que ri! Uma osga-tigre, ou osga tigrada. Um animal tímido.

Uma osga que, um dia, já teve forma humana, e que faz, através das suas memórias, e dos seus sonhos, a ligação entre o passado e o presente.

Não sei como é que alguém consegue viver com uma osga em casa, e partilhar com semelhante criatura o mesmo espaço, e uma relação de cordialidade, de tolerância, ou até de amizade. 

Mas digo-vos: eu, conhecida assassina de tudo o que é bicho, fiquei triste com o destino final da dita cuja. Pobre Eulálio!

Até Félix Ventura, o dono da casa onde Eulálio vive, e que lhe deu o nome, que no início estranhava a osga, ganhou-lhe afeição e considerava-o um bom ouvinte, e amigo.

 

Félix é um homem angolano. 

Mas não é um angolano qualquer. É um albino.

E tem uma profissão pouco habitual: é vendedor de passados.

Estamos habituados a quem queira comprar futuros melhores, mas passados?!

 

Passando-se a história em Luanda, no período que sucedeu a guerra civil, e em que a burguesia está em ascenção, é esta que, usualmente, o procura. Porque tem o futuro assegurado, mas falta-lhe um passado glorioso. Um passado que possa ser exibido, contado, mostrado sem vergonha ou embaraço.

Félix cria, então, toda uma genealogia, toda uma história, com direito a fotografias, e acontecimentos, que fabrica através de pesquisas na sua extensa biblioteca, e nos recortes de jornais, e cassetes de vídeo que vai gravando. Suspeito que também colocará um pouco da sua imaginação à mistura.

Talvez até o próprio Félix tenha criado o seu próprio passado. Aquele que ele vai contando, ou deixando escapar em conversa com Eulálio.

 

A história vai-se dividindo entre o que se passa em tempo real, e os sonhos e memórias de Eulálio.

Acaba por parecer, até cerca de metade do livro, uma salganhada de pequenos acontecimentos sem qualquer ligação entre eles mas, como diz o Mascarado, uma das personagens que irá procurar Félix:

"Todas as histórias estão ligadas. No fim tudo se liga. Mas só alguns loucos, muito poucos e muito loucos, são capazes de compreender isso."

 

A primeira personagem a contratar os serviços de Félix é o Estrangeiro, um fotógrafo de guerra que passará a ser José Buchmann. A determinado momento, Buchmann cruza-se com Ângela Lúcia, também ela fotógrafa, e gera-se ali um momento estranho e misterioso, que mais tarde será esclarecido. 

Para além deste estrangeiro, também serão clientes de Félix, o Ministro, que pagará, inclusive, para que Félix escreva as suas memórias, em seu nome, e o Mascarado que, ao contrário de todos os outros, quer um passado discreto e insignificante.

 

"O Vendedor de Passados" é uma história sobre sonho, e realidade. Sobre verdade, e mentira.

Sobre quem fomos, e quem somos, e sobre quem gostaríamos de ser, ou de ter sido.

Sobre como a ficção se entranha por entre a realidade, as memórias e recordações, e passamos a acreditar nelas como verdadeiras. Como se tudo aquilo tivesse mesmo acontecido. Talvez porque a realidade doa mais.

E tem inerente a crítica ao estado do país, consequência da guerra civil.

 

No fim, percebemos como Félix funcionou enquanto elo entre as diferentes personagens. E o sentido da história que não percebemos inicialmente.

 

Entre as várias passagens que li nesta obra de José Eduardo Agualusa, destaco estas:

 

"São os muros que fazem os ladrões."

 

"Um nome pode ser uma condenação. Alguns arrastam o nomeado, como as águas lamacentas de um rio após as grandes chuvadas, e, por mais que este resista, impõem-lhe um destino. Outros, pelo contrário, são como máscaras: escondem, iludem. A maioria, evidentemente, não tem poder algum. Recordo sem prazer, sem dor também, o meu nome humano. Não lhe sinto a falta. Não era eu."

 

"A felicidade é quase sempre uma irresponsabilidade. Somos felizes durante os breves instantes em que fechamos os olhos."

 

"Existem pessoas que revelam, desde muito cedo, um enorme talento para a desventura. A infelicidade atinge-os como uma pedrada, dia sim, dia não, e eles recebem-na com um suspiro conformado. Outras há, pelo contrário, com uma estranha propensão para a felicidade. Estas são atraídas pelo azul, aquelas pela embriaguez dos abismos. Há pessoas destinadas a sonhar (algumas são bem pagas para isso); há pessoas nascidas para trabalhar, práticas e concretas e incansáveis, e há pessoas com jeito de rio, que vão da nascente à foz sem quase nunca abandonarem o leito."
 
 
A memória é uma paisagem contemplada de um comboio em movimento.
 
 
"A felicidade nunca é grandiosa."

 

As Cinco Juanas, na Netflix

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Juana Manuela (Manny) - a stripper 

Juana Valentina - a jornalista

Juana Matilde - a cantora

Juana Caridad - a noviça

Juana Bautista - a vidente

 

Qual a probabilidade de o destino juntar cinco mulheres tão diferentes, num mesmo espaço, e perceberem que para além do nome, e de uma marca de nascença, partilham também o mesmo pai, que nenhuma delas conhece?

Pois...

Mas acontece!

 

Agora, elas vão unir esforços para descobrir que é o progenitor, e porque nenhuma das suas mães lhes contou nada sobre ele.

Aliás, à excepção da mãe de Manny, que acaba por contar à filha o que aconteceu, apenas a mãe de Caridad está viva também. Mas internada há vários anos, e incapacitada de explicar seja o que for.

Já a mãe de Valentina acabou de morrer. E a de Bautista, morreu quando ela ainda era criança. Num acidente de carro, muito suspeito.

Quanto à mãe de Matilde, essa desapareceu há muitos anos, enviando apenas alguns postais.

Assim, terão que ser elas a desvendar o segredo, que envolve o passado obscuro de um político importante, que tudo fará para o impedir de vir à tona.

 

A série aborda a realidade das casas de strip, as dúvidas sobre a vocação religiosa, o apoio a mulheres vítimas de violência e tráfico humano, o drama da violação, o poder e influência da classe política, capaz de comprar e abafar tudo, a qualquer preço, a corrupção, a obsessão e a traição. 

 

Mas também aborda o amor. Aquilo que se é capaz de fazer por aqueles que se ama, ainda que eles não o percebam.

O perdão.

A aceitação.

 

As Cinco Juanas ou, na versão original, "La Venganza de Las Juanas" acaba por ser mais uma história de descoberta de cada uma das personagens sobre si próprias, de forma a poder recomeçar as suas vidas, depois de todo o seu mundo ter sido virado do avesso.

E não tanto de vingança.

Embora se espere que ela chegue, e faça a sua justiça.

 

Eu comecei a ver e gostei muito.

Tem 18 episódios, mas vê-se muito bem.

Deixo aqui o trailer:

 

 

Se as estradas são para os carros, e os passeios para as pessoas...

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Se as estradas são para os carros, e os passeios para as pessoas, onde encaixam as bicicletas e os ciclistas?

Pois...

Ora a estorvar os condutores na estrada, ora a estorvar as pessoas no passeio!

 

Não tenho nada contra os ciclistas.

Eles têm que andar em algum lado e, à falta de espaço próprio, vão andando por onde podem.

Mas seria bom começarem a apostar fortemente em ciclovias que lhes permitam fazer o percurso sem pôr em perigo os outros, e sem se colocarem em perigo.

Não meias ciclovias, ou pedaços de ciclovias que só permitem parte do percurso, e depois, lá está, os "atiram" de volta à estrada, ou aos passeios. 

Mas sim vias onde possam circular, de forma a começar e concluir os trajectos, exclusivamente para eles.

Porque assim, com esta partilha de espaços, ninguém está seguro.

 

Mas, claro, é mais uma utopia que dificilmente será concretizada.

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