"O Dilema", de B. A. Paris
Se descobrirmos algo que sabemos que, inevitavelmente, teremos que contar a alguém, e que poderá destruir essa pessoa, o que fazemos?
Adiamos a revelação, por uns últimos momentos de felicidade dessa pessoa, antes de o seu mundo ruir?
Por altruísmo?
Ou fazêmo-lo o quanto antes, antecipando o sofrimento e a decepção?
Escondemos o segredo durante mais uns dias, ou semanas, porque não sabemos como o revelar?
Porque sabemos que irá afectar várias pessoas e relações?
Porque queremos uma última oportunidade de normalidade?
Por egoísmo?
Ou isso deveria ser a última coisa em que pensar?
Lívia descobriu um segredo que tem vindo a esconder de Adam, o seu marido, não só porque ela própria ainda tem dificuldade em acreditar, mas também porque sabe que, a partir do momento em que o contar, tudo irá mudar na sua família e círculo de amigos.
E também porque, afinal, ela vai ter a sua festa de aniversário. Aquela com a qual sempre sonhou, e tem vindo a planear ao longo dos últimos anos. À partida, não fará assim tanta diferença para os outros, que ela o faça antes ou depois da festa mas, para ela, faz. E ela quer tanto a festa...
Irá, Adam, perdoá-la?
Adam descobriu algo que irá destruir Lívia, da mesma forma que já o está a fazer a si, e que, mais cedo ou mais tarde, terá que contar a ela.
Mas ela está tão feliz. É o dia da festa porque tanto ansiou. E ele não quer estragar-lhe essa felicidade. Até porque, bem vistas as coisas, ainda não tem a certeza dos factos. Ou não quer acreditar que seja verdade.
E não serão umas horas que farão a diferença. Ou farão?
Irá, Lívia, perdoá-lo?
Por isso, Lívia, pensando um pouco em si e na concretização do seu desejo, e Adam, na felicidade de Lívia, que estás prestes a acabar, omitem os seus segredos até ao dia seguinte.
Ela, radiante e feliz mas, ao mesmo tempo, receosa dos tempos que virão quando contar a verdade, sem saber que haverá uma outra verdade ainda pior que essa.
E ele, cada vez mais curvado pelo peso que carrega sozinho, para que todos os outros estejam bem, e felizes, umas últimas horas.
Se erraram os dois?
Talvez...
Se um segredo era bem mais grave que o outro, e havia mais motivos para ser contado de imediato, que o outro?
Talvez...
Se contar o segredo a Lívia iria mudar alguma coisa? Não.
Mas se Lívia tivesse contado o seu segredo a Adam, antes, talvez não existisse outro mais grave para revelar. Talvez se tivesse podido evitar o que aconteceu.
Ou talvez não...
O que é certo é que os segredos foram revelados e, agora, resta lidar com a dor, com o sofrimento, e com os cacos por eles deixados.
Como enfrentar tudo sem se destruirem, e à sua família? Como manter as amizades intactas?
Como se reerguerem, depois da queda?
Em "O Dilema", toda a história se centra nos preparativos para a festa, na festa, e no pós festa, sendo que as revelações, embora o leitor as saiba mais cedo, só são feitas entre personagens mesmo para o final.
Até lá, sentimos toda a tensão, todas as dúvidas, toda a angústia, os pensamentos e desejos de cada um deles, relativamente ao outro.
Bastaram uns segundos para mudar toda a vida deles.
O presente é o que é. Não se pode mudar.
Já o futuro, está sempre em aberto...