Quando a irritação leva a melhor sobre a compreensão
Ontem foi daqueles dias em que tive uma imensa vontade de esganar alguém.
Aliás, cheguei mesmo a dizer, na brincadeira, que, se a pessoa não "morresse" do problema, estava eu capaz de "matá-la"!
Tinha sido um daqueles dias de dor de cabeça, em que só queria chegar a casa, despachar-me cedo, e ir para a cama.
Embora, ao final do dia, e com as boas notícias que a minha filha me tinha dado ao longo da tarde, já estivesse mais animada.
Só que, o que me aguardava, não era paz, descanso e sossego, mas antes um verdadeiro cenário de terror, daqueles que a única vontade que temos é fugir, e esperar que desapareça mas, como não dá, sabemos que tem que ser enfrentado, ainda que nem se saiba bem como, nem por onde começar, e se o vamos aguentar até ao fim.
Sim, eu tenho consciência de que ninguém escolhe estar ou ficar doente.
Ninguém escolhe local, hora ou momento para se sentir mal.
E ninguém num estado frágil está capaz de se manter de pé para o que quer que seja.
Há um lado em mim que compreende tudo isso, e se solidariza com o seu estado. Que se mostra condescendente e preocupado.
Mas, lamento, o outro lado está a levar a melhor.
O lado irritado.
O lado de quem acordou cedo, passou o dia a trabalhar, e ainda tem que limpar a porcaria que os outros sujam.
Outros esses que estiveram de folga, e a aproveitar o dia, e deixaram tudo por fazer em casa.
O lado de quem tinha limpado a casa toda no fim de semana, e vê que terá que ter o mesmo trabalho novamente, só que numa noite.
O lado de quem tem que levar com um cheiro horrível, e acabar por ficar suja também.
O lado de quem tem as gatas a pedir atenção e cuidados de um lado, a filha a precisar de ajuda nos estudos e de jantar do outro, e tem que dar conta de tudo sozinha.
O lado de quem, por pouco, não se sentiu também mal e ainda hoje, sente aquele cheiro por onde quer que ande.
O lado de quem, ainda hoje, consegue encontrar vestígios do terror.
O lado de quem até consegue tolerar isto a uma criança, mas fica mais difícil, a um adulto que, se por um lado, parecia estar mal o suficiente para não se aperceber, por outro, parecia estar relativamente consciente, para ignorar o estrago.
Isto depois passa.
Daqui a uns dias, se calhar, até me consigo rir e brincar com a situação.
Hoje, estou só mesmo irritada, traumatizada, chateada.