Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Desafio de Escrita do Triptofano #10

O adivinhador de sonhos

thumbnail_20220331_080805.jpg

 

No reino de Natura, havia um menino a quem chamavam o "adivinhador de sonhos", porque ele costumava, através das suas bolhas de sabão, imaginar os sonhos daqueles que o rodeavam, ainda que, raramente, acertasse em algum.

Mas ele não desistia e, por onde passasse, levava sempre consigo o que precisava, e distribuía bolhas coloridas pelo ar.

 

Um dia, ao passar por umas flores, ouviu a conversa entre estas, em que uma dizia às outras "Ah, como eu queria...", e logo o menino interrompeu, afirmando:

- Espera, não digas! Vou tentar adivinhar! 

 

E, ao formar a primeira bolha, disse:

- ... como tu querias ser uma Sakurasou (que simboliza “desejo” e “amor duradouro”), e ser apreciada num dos mais belos jardins japoneses!

 

Algumas flores riram-se de tal ideia, e disseram-lhe que tinha que apurar mais o seu poder.

O menino tentou de novo.

- ... como tu querias ser uma flor exótica, como a Alamanda, e estar agora na imensa floresta amazónica!

 

Perante a expressão que as plantas fizeram, percebeu que tinha errado de novo.

E, de novo, fez mais uma bolha.

- ... como tu querias ser um Saguaro e habitar no Deserto de Sonora.

 

- Oh rapaz, estás muito longe de acertar. Deixa-te disso.

- É desta, responde ele! - fazendo surgir uma bolha ainda maior no ar

... como tu querias ser uma King Protea, exuberante, de cores vivas, e deslumbrares os visitantes do jardim botânico Kirstenbosch da Cidade do Cabo!

 

E logo fazendo mais uma bolha, antes que lhe dissessem que continuava a errar:

- ou ser uma daquelas belíssimas tulipas num dos campos da Holanda!

 

Expectante, olhando para a flor, na esperança de, finalmente, ter acertado, compreendeu que a tarefa era mais difícil do que tinha imaginado.

A flor, com pena do menino, que tanto se esforçou, explicou-lhe então:

- Sabes, esse é o grande problema de vocês, humanos.

- Pensam sempre em coisas grandiosas, vistosas, famosas.

- Querem sempre viajar para ali, para acolá, achando que aqui nunca encontrarão nada que vos agrade.

- Eu sou o que sou, e como sou. Não quero ser outra. Gosto de mim assim. E gosto de estar aqui. 

- Quem me conhece, e está comigo, também me aceita como sou.

- O que eu estava a dizer, quando me interrompeste, era como eu queria que vocês, humanos, dessem mais valor àquilo que está mesmo à vossa frente, por mais insignificante que vos possa parecer.

- À simplicidade.

- Que percebessem que também podem ser felizes, sonhar e viajar, conhecendo o lugar onde estão, antes de ir para outros.

 

O menino, muito admirado com o discurso da flor, acabou por admitir que ela tinha uma certa razão.

- Já sei! - disse o menino

- Vou fazer mais umas bolhas. E nelas, vou "enviar" tudo o que de bom temos aqui no reino. 

- Assim, as pessoas que as virem no ar, ficam a conhecê-lo. Quem sabe não nos transformamos num destino turístico como os que há por esse mundo fora!

 

Pensa a flor, para com as suas folhas:

- Santo deus! Não percebeu nada!

 

 

Texto escrito para o Desafio de Escrita do Triptofano

 

Também participam:

Maria Araújo

Bruno

Triptofano

Maria

Bii Yue

Ana D.

 

 

 

 

 

 

 

"Mentiras", na Netflix

mentiras-1-83938532-G.jpg 

 

Ela é professora.

Está em processo de separação, após um casamento de vários anos que chegou ao fim, apesar de manter a amizade com o ex marido.

Está livre, e pronta para refazer a sua vida e, quem sabe, encontrar de novo o amor.

 

Ele é cirurgião.

É pai de um dos alunos dela, e é daí que se conhecem.

Está livre, e quem sabe não encontra, nela, a pessoa com quem iniciar um novo relacionamento.

 

Apesar de reticente, considerando que talvez seja cedo e ainda não esteja preparada, Laura aceita o convite para jantar com Xavier.

Passam uma noite agradável, que termina em casa de Laura.

Um copo de vinho, enquanto o táxi não chega para levar Xavier a casa.

 

Laura acorda no dia seguinte, e todo o seu brilho se foi.

Parece que envelheceu uns bons anos.

Não se sente bem. Está estranha.

Xavier não está. Apenas uma mensagem de que foi uma noite inesquecível.

Resta saber em que sentido, para um, e para outro...

 

Laura desabafa com a irmã sobre o facto de achar que foi drogada, e violada, por Xavier.

Seguem-se os trâmites habituais: exame físico, queixa à polícia, e interrogatório a Xavier.

Que não faz a mínima ideia do que se terá passado, na cabeça de Laura, para lhe fazer tal acusação. 

Na verdade, Xavier mostra-se incrédulo, estupefacto, meio perdido, com tal afirmação. E tenta, como pode, perceber, junto de Laura, o que a levou a pensar que ele tenha feito tamanha monstruosidade. Sem sucesso.

 

Apesar de, por momentos, até mesmo Xavier a ter feito duvidar, Laura mantém a sua versão, e vai tentar de tudo para provar que está certa.

Ainda que os exames não tenham acusado nada: nem presença de drogas, nem indícios ou marcas de agressão, nada.

 

Quem fala a verdade? 

E quem está a mentir?

Será Laura capaz de inventar esta história? Por loucura? Ou com que intenção?

Será Xavier, de facto, um abusador e violador?

 

Mas estas não são as únicas verdades por descobrir.

Há muito mais mentiras a pairar em torno de Laura, e dos que lhe são mais próximos e que, a seu tempo, serão descobertas.

 

Esta é uma minissérie de 6 episódios, que cativa desde o primeiro instante, e que se vê muito facilmente.

Confesso que, no fim do primeiro episódio, eu mesma duvidei da veracidade de tudo o que Laura afirmou.

Terão os seguintes, conseguido fazer-me mudar de ideias?

 

Só vos digo que o melhor, mesmo, é não confiarem em ninguém.

E que até as pessoas que aparentam ser mais inocentes, podem esconder crimes que nunca imaginaríamos!

 

 

Reflexão do dia

277176700_4876671509114782_652017809416084975_n.jp

 
Nem sempre se consegue fazer fogo friccionando duas pedras.
Por vezes, a única coisa que se consegue é, apenas, desgastá-las.
 
 
 
Há pessoas que passam a vida a friccionar pedra com pedra, na esperança de que, um dia, quem sabe, possam conseguir gerar o fogo pelo qual tanto anseiam, e que está difícil de atear.
E, ainda que, a cada fricção, umas vezes mais suave e paciente, outras mais forte e agressiva, a única coisa que consigam, à primeira vista, seja o desgaste de cada uma delas, continuam a insistir.
Porque já o conseguiram uma vez, e resultou. 
Então, mais cedo ou mais tarde, há-de resultar de novo.
Ou talvez não...
 
 
Há pessoas que não conseguem ver que, se querem tanto atear o fogo, há muitas outras formas de o conseguir.
Mais práticas.
Mais eficazes.
Mais rápidas.
Menos abrasivas.
 
 
E há pessoas que, simplesmente, não percebem que, na verdade, nem sequer precisam desse fogo. 
Nem para aquecer.
Nem para iluminar.
Nem para se sentirem vivas.
Porque elas próprias têm tudo isso em si.
 
 

Dos refugiados...

desigualdade-1024x768-1024x768.png

 
Quero, antes de mais, frisar que este não é, de todo, um post contra os refugiados.
 
 
Não sou, e espero nunca vir a ser, uma refugiada.
Nem quero imaginar o que é ter que, de um momento para o outro,  deixar a minha casa, a minha terra, o meu país, e fugir para outro lado qualquer, desconhecido, sem saber se chegarei lá com vida, ou se morro pelo caminho. E, se chegar com vida, o que me espera, num sítio onde não conheço ninguém, onde nem sequer falo a mesma língua, onde não tenho nada...
Perder, de um dia para o outro, família, amigos, pertences, o lar, o trabalho, a estabilidade, depois de anos de luta para conquistar tudo isso.
E ter que recomeçar, do zero. Ter que depender da boa vontade, caridade e solidariedade dos outros, sem nada que seja meu. 
Pois...
Só quem passa por isso sabe o que custa, o que dói, o quão frustrante, desolador e triste é.
Não desejo isso a ninguém.
 
 
Posto isto, claro que toda a ajuda é bem dada, e preciosa, para que os refugiados, que não têm culpa nenhuma da sua situação.
E é óbvio que o povo português é um grande apoio nesse aspecto, sempre pronto a ajudar, a dar aquilo que tem, e que não tem, para que os outros tenham um pouco.
Nada contra. Eu própria, se puder, o faço.
 
 
O meu post vai mais no sentido de certas injustiças que se observam nestes momentos, e direccionadas para aqueles que têm sempre mais poder nas mãos, mas parece que só o usam quando querem, quando lhes apetece, quando lhes convém, ou quando a isso, por força das circunstâncias, são obrigados.
E, quer queiramos, quer não, isso gera revolta.
 
É um pouco como aqueles pais que todos os dias dão feijão com arroz aos filhos, porque a vida está cara e não há dinheiro para mais, e mesmo que os filhos, uma vez ou outra, peçam algo diferente a resposta é sempre a mesma - não dá.
Mas, depois, seja porque esses mesmos pais se ofereceram para receber um parente, ou porque foram incumbidos ou "obrigados" a recebê-lo, e não querem fazer má figura, nem mostrar a sua verdadeira realidade, acabam por comprar uns bifes do lombo, um peixinho, até uma sobremesa, algo a que os próprios filhos nunca tiveram direito.
Ou seja, para os seus, nunca dava, nunca havia. Mas agora, para os outros, já se fazem excepções.
Com os refugiados, acontece a mesma coisa.
E, volto a dizer, a culpa não é deles.
 
 
Mas, na prática, acaba por se arranjar soluções, alternativas e facilitar muito mais aos refugiados que chegam ao nosso país, que aos próprios portugueses.
Como?
 
Sabem aqueles pais que queriam mesmo matricular os filhos naquela escola mas, por mil e um motivos, não conseguiram?
Pois, se calhar, agora, a escola dá um jeito de arranjar vagas.
Sabem aquelas famílias que são postas na rua, ou que estão em risco de perder a casa, e ir morar na rua, ou num carro, ou que vivem em condições miseráveis, sem que se arranje um sítio onde possam viver dignamente?
Pois, se calhar agora já se arranjam habitações.
Sabem aquelas pessoas que querem mesmo trabalhar, e correm todos os sítios e mais alguns, e as respostas são sempre as mesmas: não estamos a precisar, não tem competências, demasiados estudos, estudos a menos, não tem experiência, etc?
Pois, se calhar agora, criam-se, propositadamente, novos postos de trabalho.
Sabem quando têm que tratar de um documento qualquer, e fica soterrados em burocracias, perdem tempo e, muitas vezes, não resolvem nada?
Pois, se calhar agora, aos refugiados, tudo isso é facilitado.
O que só prova que, havendo vontade e predisposição para isso, é possível.
 
 
E a minha única pergunta é:
Não poderiam agir da mesma forma com os nossos? Em circunstâncias normais?
Serão os portugueses, no seu próprio país, menos do que os que para cá vêm?
Será preciso uma situação extrema, para deixarmos de ser tratados como enteados, e passarmos a ser vistos como filhos?
 
 
Reafirmo que os refugiados não têm culpa.
Como refugiada que fosse, também gostaria de um lugar onde ficar.
De poder trabalhar para não depender mais do que o necessário, da caridade alheia, e recomeçar a minha vida.
Também gostaria que a minha filha continuasse os seus estudos, ainda que num país estranho.
E, para tudo isso, seria preciso documentação.
 
 
Sei que, em determinadas circunstâncias, situações urgentes exigem medidas rápidas e excepcionais.
Mas gostaria que houvesse um esforço maior para que as menos urgentes, mas não menos importantes e necessárias, não ficassem postas de parte, como se não houvesse qualquer responsabilidade em dar-lhes a devida atenção. 
Como se não tivessem qualquer forma de as resolver, ainda que o quisessem.

Pág. 1/6