Aqui estou eu.
A pisar este palco uma última vez.
A deixar, para trás, a máscara que tenho vindo a usar.
Tantas vezes, nos últimos tempos, desejei não voltar a este palco.
Sentia cansaço. Já não me dava prazer. Já não me sentia feliz.
Sentia que já não tinha nada a mostrar. Nada a acrescentar.
Sentia que o meu papel já não fazia sentido. Que o guião, que me havia sido destinado, estava esgotado.
Tantas vezes, nos últimos tempos, desejei ter saído no lugar da minha parceira. Talvez ela fizesse mais falta.
Mas, dia após dia, ia subindo novamente. Porque não estava nas minhas mãos deixar de o fazer.
Por isso, fui aguentando. Uns dias melhor. Outros, pior.
Só que, agora, não há volta a dar.
E agora, que sei que os meus dias neste palco estão prestes a terminar, não queria que eles acabassem.
É contraditório, eu sei.
Não é receio do que me possa esperar fora do palco.
É mais tristeza, pelo, e pelos, que deixo cá. Por saber que deixei aqui tudo de mim, e não voltarei mais.
Eles não sabem que eu sei. Mas sei...
Eles sabem, e eu também sei que, a qualquer momento, me despeço deles, e deste palco que foi a minha casa nos últimos anos.
Desempenhei o meu papel o melhor que pude.
Vivi a personagem, que me foi destinada, o melhor que consegui.
Agora, é hora de pisar outros palcos. De desempenhar outros papéis. De viver outras personagens.
Ou, simplesmente, parar...
Aqui estou eu.
A pisar este palco uma última vez.
Chegou a minha hora.
É a última vez que tenho o holofote sobre mim. Mas a luz, essa, irá guiar-me no caminho que me espera.
E, assim, hoje, despeço-me de todos.
Daqueles com quem contracenei. Do público que me acompanhou.
Deste palco que é a vida...
Até um dia...
Texto escrito para o Desafio de Escrita do Triptofano
Também participam:
Ana D.
Cristina Aveiro
Maria Araújo
Triptofano
Maria
Ana de Deus
Bruno