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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

A flor

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Era uma vez uma flor, com lindas pétalas amarelas.

Nos dias de sol, era vê-la aberta, a receber o calor, a energia, a viver e fazer as delícias de quem por ela passava, e a via por ali em todo o seu explendor.

Já nos dias em que o sol se escondia atrás das nuvens, também ela se mantinha fechada, protegida, para que nada lhe acontecesse.

 

Havia uma menina que, todos os dias, quando por ali passava, olhava para a flor, ora aberta, ora fechada, como se já fosse um gesto rotineiro, e familiar.

E foi assim que começou a reparar que, ao contrário do habitual, nos últimos dias, a flor continuava fechada, sem dar sinal de vida.

A menina estranhou, e decidiu aproximar-se mais da flor.

Foi então que percebeu que a flor não podia mais abrir, porque tinha perdido todas as pétalas. Tinha perdido parte de si.

 

A flor contou-lhe, então, desolada, que num dia em que estava sol, ela tinha aberto, como era habitual, mas não percebeu que um vento forte se estava a aproximar e, quando ele passou por ela, com tal força e velocidade, arrancou-lhe pétala por pétala, sem lhe dar tempo para se resguardar.

 

Tinha "baixado a guarda", confiado, e fora traída.

Agora, era uma flor incompleta, sem graça, murcha, sem vontade de viver.

Nunca mais seria a mesma.

 

A menina, querendo animá-la, disse-lhe que agora, ela seria diferente, mas não menos bonita.

Simplesmente, agora tinha-se transformado numa flor apétala. 

Mas muito mais forte. Uma sobrevivente.

E garantiu-lhe que ia continuar a passar por ali, e admirá-la ainda mais!

A hipocrisia, o politicamente correcto, a frontalidade e a falta de respeito

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Há quem diga que, hoje em dia, a hipocrisia se disfarça, e se protege, sob a prática do "politicamente correcto", para não ferir susceptibilidades e magoar aqueles a quem é dirigida.

Da mesma forma, há que diga que, hoje em dia, a frontalidade é, muitas vezes, confundida com o direito a uma certa agressividade ou, até, falta de respeito, para com aqueles a quem se quer transmitir a mensagem.

 

Na verdade, a linha que separa estes conceitos é muito ténue.

Uma pessoa hipócrita acaba por, de certa forma, faltar ao respeito ao não ser honesta. Mas nem sempre. Por vezes, a intenção é só mesmo não se chatear, e não magoar o próximo.

No mesmo sentido, ser frontal é uma forma de se ser verdadeiro para com o outro, acreditando que a mentira magoará mais, a longo prazo, que a verdade, naquele momento em que é dita. Mas, por vezes, a forma como essa verdade é dita também poderá constituir uma falta de respeito, se a pessoa a proferir com agressividade, com maldade, com intenção de ferir.

 

Ainda assim, é uma linha demasiado grande para que eles se misturem, se se souber separar as águas.

Ser hipócrita é fingir algo que não se sente. É agir propositadamente com falsidade. Por vezes, vem acompanhada de ironia, de gozo, de inveja. 

É, muitas vezes, um falso moralismo.

 

Ser politicamente correcto, é adoptar uma conduta que se assume como correta, mas que não corresponde ao que, de facto, as pessoas pensam ou fazem no seu dia a dia. Por vezes, e em determinados contextos e situações, é necessário adoptar essa postura, sem que isso magoe quem quer que seja.

É ajustar. Adaptar. Ao género do ditado "em Roma, sê romano".

É filtrar. Ocultar. Minimizar. Ao género da máxima "Se não tens nada de bom para dizer, está calado".

É, muitas vezes, querer agradar a gregos e a troianos. Não é por mal. É querer estar bem com todos. E que todos estejam bem consigo.

É querer, quando em grupo, e perante personalidades e características diferentes, manter uma certa harmonia, paz, tranquilidade.

 

Ser frontal é, no fundo, ser honesto.

Consigo. E com os outros.

É mostrar aquilo que se sente. Que se pensa.

É ser sincero. Sem necessidade de ofender.

Sem se sentir melindrado, por o fazer. Por não se saber qual será a reacção, do outro lado. Por não se saber se esse ponto de vista, ou opinião, será aceite, ou mal visto, perante os outros.

E se seremos recriminados por tal atitude.

 

Porque, se assim for, a tendência a ser politicamente correcto, será cada vez maior.

E, depois, cria-se a convicção de que vivemos num mundo cheio de hipocrisia.

Que, se calhar, até nem é mentira...

 

 

 

 

Uma História sem Verbos

(desafio de escrita criativa)

41 ideias de Floresta desenho | floresta desenho, cenário anime, fundo de  animação

 

A Joana propõs o desafio uma historia sem verbos, e eu decidi testar a minha capacidade de "comer" verbos, e perceber até que ponto eles são, ou não, fundamentais para dar sentido a uma história.

 

Aqui fica:

 

Livre como um pássaro

Leve como um a pena

Na floresta, feliz e solta

Ei-la: uma bonita rena

 

Ao longe um coelho branco

Numa toca escondido

Com uma cenoura na mão

Um feito conseguido

 

Perto, a água fresca e limpa

Daquele pequeno ribeiro

Um espelho resplandecente

Do majestoso pinheiro

 

Uma menina curiosa

E muito aventureira

Uma magia poderosa

E ei-la, de repente, na clareira

 

Mundos desconhecidos

De amigos improváveis

Alguns intrometidos

Outros mais amáveis

 

Um chá e biscoitos mágicos

Uma mesa composta

Um lanche saboroso

E, voilà, uma chave exposta

 

De repente, na Lapónia

Em visita ao Pai Natal

Depois, um saltinho à Amazónia

Através do misterioso portal

 

O relógio atrasado

A porta para a felicidade

Adeus chapeleiro aluado

 Hora da realidade

Pequenas "mentirinhas" que nos vão contando...

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No futebol existem as faltas tácticas.

São cometidas, intencionalmente, com o objectivo de travar uma jogada de ataque perigosa. Ou com outra intenção que seja benéfica, naquele momento, para a equipa de quem as comete.

Ainda que saibam que estão a cometer faltas e, como tal, serão penalizados, compensa-lhes.

 

Na nossa vida, em vez de falhas tácticas, somos brindados com pequenas "mentirinhas" que nos vão contando e que, de certa forma, nos apaziguam temporariamente, embora depressa percebamos que não passam de conversa fiada.

Mentirinhas como "já estou quase a chegar", quando, muitas vezes, ainda nem de casa se saiu!

Ou do género "ainda hoje alguém entrará em contacto consigo", e nunca ligam!

 

Ontem, calhou-nos outra: "Ah e tal, demora cerca de uma hora, uma hora e meia"

Pois...

A minha filha chegou à loja perto das 14.30h. Disseram-lhe que só às 18h poderia ir buscar o equipamento. Portanto, 3 horas e meia! Que se transformaram em 4 horas, porque à hora prevista ainda não estava pronto.

 

E é isto.

Anda meio mundo a mentir, estrategicamente, a outro meio mundo, e vamos engolindo todas, sabendo que o são, umas mais fáceis de digerir que outras, porque, afinal, somos nós que precisamos das coisas.

 

A minha vizinhança é uma animação

História de hoje: Uma vizinhança do barulho | Jornal do Sindico

 

Sábado à tarde, estávamos em casa, e ouvimos os gritos.

Era a vizinha, em guerra com o filho.

Nada de novo.

Todas as semanas há espetáculo no bairro. Por vezes, mais do que uma sessão por dia.

Em algumas delas, a GNR e os Bombeiros juntam-se à festa.

Numa ocasião, vimos mesmo um cabo de vassoura no ar.

 

A mãe tem a fama de beber uns copitos, arranjar confusão com toda a gente e ser ordinária.

O filho, tem uma doença qualquer, mas também a fama de ser drogado.

Dizem que o filho bate na mãe. 

Não sei se é verdade. Não sei se não será recíproco...

 

Mas, dizia eu, a vizinha estava aos gritos com o filho.

A mãe: "És um drogado! Queres dinheiro? Vai pedir à tua mãe! Vai pedir à tua mãe!"

O filho, para a mãe: "Fala baixo! Porque é que estás para aí a gritar?"

E a mãe, continuando a gritar: "E tu, porque é que estás a falar baixo?"

 

Realmente, que despautério!

Quem é que discute a falar normalmente?

Parece anedota!

Mas isto tem tudo para correr mal.

 

Volta e meia, os vizinhos chamam a GNR. 

Mas tudo segue igual. 

Não se vê grande intervenção.

Qualquer dia, já ninguém faz nada. Já ninguém liga.

 

E, qualquer dia, alguma desgraça acontece.

Não foi por falta de aviso...