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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

"Segredos", de Lesley Pearse

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Como se pode perdoar uma mãe que, desde o primeiro dia, rejeita a sua filha?

Que, desde o primeiro dia, a negligencia?

Que, desde o nascimento da irmã, a discrimina, como inferior, e não a considera merecedora do que quer que seja?

 

Como se pode perdoar uma mãe que insulta a filha?

Que afirma que mais valia ter morrido ela, que a outra filha?

 

Como se perdoa uma mãe que tenta matar a própria filha?

Ainda que, aparentemente, esteja louca?

 

Adele foi uma vítima do sistema.

Das atitudes inconsequentes da mãe.

Do desprezo do padrasto.

Dos abusos do responsável do lar de acolhimento.

 

Nos dias de hoje, Adele seria, certamente, uma criança sinalizada. Não que adiantasse de muito.

Naquele tempo, isso não era moda.

Safou-se como pôde. 

E encontrou a paz com uma avó que nem sabia da sua existência.

 

Rose foi uma má filha.

Abandonou os pais no momento em que mais precisavam dela, sem lhes dizer nada, e levando com ela o dinheiro que possuiam.

E foi um má mãe para Adele.

Nunca sentiu mais do que raiva, rancor e ódio pela filha mais velha, a quem sempre culpou pelas suas desgraças e vida actual, ao lado de um homem que não ama.

Quando Rose perde a sua filha mais nova, Pamela, fica ainda pior, e acaba internada num hospício, depois de tentar matar Adele e o marido.

 

Honour considera que foi uma boa mãe, e que Rose, sua filha, foi uma ingrata.

Agora, tenta ser uma boa avó para Adele.

Mas será que, lá bem no fundo, as coisas são como ela diz?

 

A determinado momento, a verdade terá que vir ao de cima e, não justificando, talvez se compreendam melhor determinadas atitudes. 

Poderão Honour, Rose e Adele resolver as suas diferenças, perdoar-se, e reatar os laços familiares?

 

Confesso que, tendo em conta as notícias que nos vão chegando a cada dia, da triste realidade de crianças negligenciadas, maltratadas e, muitas vezes, assassinadas, pelos próprios pais, só consigo olhar para o final desta história como pura ficção.

Não sei se as pessoas como Rose serão capazes de mudar tanto. Se se poderão tornar tão diferentes, que voltem a merecer confiança, e a ter uma nova oportunidade. Custa-me acreditar.

 

Relações familiares, a guerra e os seus efeitos devastadores, diferença de classes e estatutos, amor verdadeiro e segredos, que podem mudar a vida de todos, são os ingredientes desta história, que porá à prova cada uma das personagens e terá, para cada uma delas, um destino guardado.

 

 

Saudações

(esta é nova)

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Todos os dias ouvimos as mais diversas saudações, como "bom dia", "boa semana", "bom ano" ou "bom fim de semana", entre tantas outras, a que já estamos habituados.

Ontem, aprendi uma nova: "bom final de mês"!

 

E nem era o último dia do mês, mas segundo o assistente, estamos lá quase.

Por isso, seja por imposição do guião, ou por iniciativa própria, foi com esta saudação que o mesmo deu início à conversa.

 

Que demónio é este?...

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Mas que demónio é este, que por aqui ciranda?

Seja ele qual for, que volte depressa para de onde veio.

É impossível andar na rua.

 

Mal uma pessoa sai, fica à mercê dele.

Revoltoso, gélido, sem dar um único segundo de tréguas.

Esbofeteia-nos de um lado. E do outro.

Empurra-nos, fazendo-nos acelerar mesmo sem querer. Outras vezes, trava-nos, como se nos tentasse impedir de seguir caminho.

Desorienta-nos.

 

Já não basta a chama intensa que nos fere os olhos, também ele quase nos cega.

Enquanto nos debatemos com ele, nem nos atrevemos a respirar. Sustemos a respiração, até estarmos em relativa segurança.

Que só chega quando entramos em casa.

Até então, percorremos o caminho o melhor que conseguimos, quase sem o ver, em modo automatico, porque perceber onde estamos e com o que estamos a lidar é doloroso e cansativo demais.

 

Na rua, o demónio anda à solta.

Chama-se vento.

Já deveríamos estar habituados.

Mas o vento nem sempre está assim.

Com esta fúria desmedida. Com esta raiva descontrolada.

A fustigar cada centímetro da nossa pele, e do nosso corpo.

 

Em casa, continuamos a ouvi-lo.

A sentir que ele tenta, de todas as formas, quebrar as barreiras. Chegar até nós.

Mas não consegue.

E nós podemos, então, tranquilamente, abrir os olhos, que demoram a habituar-se à calmaria.

Podemos respirar de alívio.

Podemos descontrair o corpo que, só então, percebemos como estava contraído, e relaxar.

 

Até à próxima luta, quando tivermos que voltar à rua, e enfrentá-lo novamente.

 

 

Sou uma "desmancha-surpresas"!

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Para o bem, e para o mal!

É mais forte que eu.

 

Até posso gostar de ser surpreendida, mas detesto ser apanhada de surpresa!

E, quando me cheira a surpresa a caminho, não consigo evitar esmiuçar tudo, até descobrir.

Depois, também me é difícil fingir que não sei de nada, e reagir bem.

 

Na semana passada o meu marido veio com uma conversa que me deixou logo as antenas em alerta:

"Ah e tal, amanhã temos que ir a um sitio a hora de almoço... Ou então um pouco antes de almoço."

Muito vago, muito evasivo.

Perguntei onde tínhamos que ir. Respondeu apenas o nome da localidade.

Perguntei o que íamos fazer. Respondeu que íamos buscar uma coisa.

 

Não satisfeita, perguntei se a coisa não tinha nome. E se o sítio não tinha nome.

Arranjou uma desculpa que era para ir para ir buscar um disco para o pc, para aumentar a memória. Para eu não desconfiar, mencionou o nome de uma loja de lá.

 

Não resultou muito, porque tudo aquilo me soava estranho.

A loja fechava antes da hora a que, supostamente, ele tinha combinado lá ir. 

Depois, para conseguir mais memória para o pc, o normal seria comprar um cartão de memória. Podia comprá-lo cá.

Ainda que, eventualmente, fosse possível instalar um disco qualquer num portátil, não deveria ser feito na hora.

Fiquei a matutar naquilo.

 

Mais tarde, para acabar com as dúvidas, disse-lhe que era melhor almoçarmos primeiro, antes de irmos, não fosse aquilo demorar. 

Se ele dissesse que tudo bem, dava-me por vencida.

Mas se ele dissesse que não era preciso, então confirmavam-se as minhas suspeitas de que aquilo era tanga.

 

Como eu esperava, ele respondeu que não era preciso almoçar antes.

E eu atirei "Pois não, porque não vais buscar coisa nenhuma. É para irmos almoçar fora!"

 

E pronto, lá estraguei a surpresa, que acabou por não acontecer porque eu disse que, se fosse para ir, íamos os 3, e a minha filha só estava connosco no domingo.

Só que, ao domingo, o restaurante está fechado.

Por isso, ficou o almoço adiado.

E a surpresa arruinada!

 

 

 

"Jogos Cruéis", de Jodie Picoult

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"Quando menti, acreditaram em cada palavra. E quando contei a verdade ninguém me deu ouvidos."

 

Como é que uma verdade se transforma numa mentira, e uma mentira se transforma numa verdade que, um dia, voltará a ser mentira?

Simples. Ou talvez não...

Se contarmos uma verdade em que seja difícil acreditar, seja por que motivo for, tendem a pensar que mentimos.

No entanto, se aquilo que, até então, parecia inacreditável, voltar a ser contado, por outros, se calhar até é verdade.

E, ao ver que, finalmente, se acredita na verdade, se calhar, se se contar uma mentira como se fosse verdade, também será credível. E acaba por ser.

Até que se torna sistema e, como tal, desacredita-se.

Por isso, da próxima vez que alguém contar a verdade, ela voltará a ser encarada como mentira.

Confuso, não?

 

Mas é à base da verdade, e da mentira, que se faz esta história da Jodi Picoult, em que um homem, Jack, acusado de um crime sexual, que afirma não ter cometido, cumpre uma pena reduzida conseguida por acordo, e se vê, agora em liberdade, a ter que reconstruir a sua vida, com o estigma de abusador, que afirma não ser.

Sem ter ninguém à sua espera, nem sítio para onde ir, acaba por ficar em Salem Falls, onde é contratado por Addie, para trabalhar no seu restaurante.

 

E é em Salem Falls que a sua vida vai voltar a ficar virada de pernas para o ar, quando uma outra asolescente o acusar de a ter violado.

Com um crime semelhante no cadastro, uma condenação anterior, as coisas não lhe são favoráveis.

Ninguém ali o conhece, e não tem por que acreditar num estranho.

Nem mesmo Addie, que entretanto se apaixonou por Jack, acredita na sua inocência. Afinal, vendo bem, ela também não o conhece.

 

E se nem mesmo os seus amigos, colegas de trabalho, e a própria mãe, acreditaram nele, da primeira vez...

Aliás, a mãe de Jack, lidando diariamente com vítimas de agressões sexuais e violência doméstica, não acredita que uma mulher minta sobre algo assim. Logo, o seu filho, é culpado.

Já Addie, tem alguma dificuldade em pensar que alguém mentiria sobre algo tão traumático que ela própria, naquela idade, experienciou. 

 

Na noite em que Gilliann afirma ter sido violada, Jack tinha sido agredido, tinha discutido com Addie, e tinha estado a beber num bar.

Na hora do crime, ninguém pode afirmar que o viu, ou esteve com ele.

Jack não se lembra de nada.

Mas afirma, novamente, a sua inocência.

Chega mesmo a dizer que nunca esteve naquele sítio.

 

Só que, na verdade, ele esteve no local onde ocorreu a violação.

Ele teve contacto com a alegada vítima.

E há sémen no interior da coxa dela.

 

Restam poucas dúvidas sobre o que poderá ter acontecido, até porque as amigas de Gillian confirmam a história.

No entanto, estas adolescentes têm andado a fazer coisas estranhas.

Armadas em "bruxas de Salem Falls".

A querer experimentar os seus poderes para salvar. Mas também para destruir quem se atravesse no seu caminho, ou considerem que merece um castigo.

Essas coisas estranhas envolvem rituais, feitiços, amarrações e drogas.

Drogas que provocam alucinações.

 

Ainda que as provas sejam reais.

Inconclusivas, mas reais.

 

Sabemos que, da primeira vez, Catherine mentiu, acusando Jack de algo que ele não fez.

Será que Gillian está a fazer o mesmo?

Ou, desta vez, aconteceu mesmo?

 

Não direi que este é o melhor livro da autora porque, para mim, existem um ou dois melhores.

Mas é, sem dúvida, muito bom!

É um livro que mostra como uma pequena mentira pode causar danos irreparáveis da vida de alguém.

E como situações, que nunca deveriam acontecer, implicam consequências para quem sofre os abusos, que depois se reflectem no seu próprio comportamento, para com os outros.

É também uma história que mostra como seguir em frente, por mais difícil que seja.

Sobre perda, e superação. 

Sobre resiliência. E perdão.

Tive algum receio de que a autora fosse por caminhos que, para mim, deixariam de ter interesse. Mas, felizmente, isso não aconteceu.

 

Para quem tiver curiosidade, existe um filme, baseado nesta obra, estreado em novembro de 2011, e estrelado por James Van Der Beek , Sarah Carter e Amanda Michalka.

 

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