Devem, os médicos, julgar os seus pacientes?
Para mim, os médicos deveriam informar, esclarecer, aconselhar, ajudar...
... mas, em momento algum, julgar.
Infelizmente, ainda se veem médicos a julgar e condenar os pacientes por não seguirem aquilo que, para eles, faz sentido.
Um médico que diz ao doente "Teve covid, foi bem feito! Eu bem disse para levar a vacina." é um bom profissional? Isto é coisa que um médico deva dizer?
A par com este tipo de julgamentos está, também, a arrogância de alguns médicos.
Sabemos que o tempo deles é escasso, têm muitos doentes para atender, e que muitos pacientes abusam e falam de tudo e mais alguma coisa.
Mas, logo à partida, cortar a palavra do paciente porque aquilo é a consulta da especialidade "x", e não é para falar de outros problemas, é mau.
Até porque, sem ouvir, o médico não sabe se aquele problema ou queixa que o doente ia referir, não estaria, de alguma forma, relacionado com o da especialidade em que está a ser seguido.
Esta semana fui com o meu pai a uma consulta de nefrologia.
O médico, a determinado momento, perguntou que medicação o meu pai estava a tomar.
Com tantos comprimidos que toma, ele não se lembrava dos nomes dos medicamentos. Então disse "Agora assim de repente não sei."
E o médico: "Não sabe? Alguém tem que saber." Isto, dito em tom de reclamação. Como se fosse um crime.
Lá respondi que era a medicação que constava do processo. Ele consultou e imprimiu a lista, que disse que tem que andar sempre com o meu pai.
Ora, isto até pode ser senso comum, até pode ser algo básico, mas a verdade é que na família, felizmente, ninguém tinha estado, até agora, em situações como esta. E o médico também nunca o mencionou antes, nas outras consultas a que fomos.
Entretanto, fez mais algumas perguntas, e às tantas disse-lhe que não lhe sabia dizer. Até porque o meu pai confunde algumas coisas, e eu nem sempre estou com ele.
Mais uma vez, a arrogância e o julgamento "Ah e tal, do que eu lhe disse aqui há 4 meses lembra-se, mas disso já não. Está bem."
E passado uns minutos: "A pergunta continua em aberto. Estou à espera de uma resposta."
Entretanto, viu as análises e informou que o meu pai, para já, está estável.
Com os rins a funcionar a apenas 25%.
E perguntou ao meu pai o que queria da vida.
Entregou-nos um monte de informação sobre hemodiálise, ou medicação, as duas alternativas viáveis para o meu pai, e o respectivo consentimento, para assinar, e perguntou se queria decidir já ou se precisava de tempo para pensar.
Sentimo-nos pressionados, como se ele quisesse uma decisão dessas tomada na hora, como quem escolhe que roupa vai vestir naquele dia.
Perguntei-lhe, então, qual a urgência, uma vez que tinha acabado de informar que ele estava estável.
"Ah e tal, estou a ver que não percebeu o que eu disse." Pois, não posso entender o que ele ainda não disse!
Só então é que explicou que, para além de ter essa informação registada no sistema, caso a situação agrave, é necessária toda uma preparação, no caso da hemodiálise, que tem que ser feita previamente, uns meses antes de começar. Mas que, a qualquer momento, pode mudar de ideias.
Por fim, e num discurso de "nós é que sabemos, e não erramos, mesmo que nem sempre acertemos", disse ao meu pai que tudo aquilo que mandam fazer, e os medicamentos que prescrevem, é para ajudar o doente, mas que, por vezes, têm efeitos negativos.
E que o doente é livre de fazer ou não fazer, tomar ou não tomar, mas que o médico está ali para fazer o melhor que pode.
Enfim, desde a primeira vez que não fui à bola com o médico, e a opinião mantém-se.
Agora, só tenho que levar com ele em Fevereiro do próximo ano.