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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

"Johnny", na Netflix

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Jan Adam Kaczkowski era um padre católico romano polonês, doutor em ciências teológicas, bioeticista, vlogger, organizador e diretor do Puck Hospice.

Kaczkowski sofria de problemas de saúde desde o nascimento, tendo um grave déficit de visão e paresia do lado esquerdo. Em 2012, ele foi diagnosticado com glioblastoma e morreu da doença em 28 de março de 2016.

 

 

Já me tinham falado deste filme, mas ainda não tinha passado por ele no catálogo da Netflix.

Ontem, calhou e, à falta de melhor, vi.

 

 

 

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O padre Jan, ou Johnny, para os amigos, é aquele tipo de padre que qualquer um, independentemente de acreditar, ou não, em Deus, ser, ou não, católico, ou frequentar, ou não, a igreja, gostaria de ter como amigo.

Um padre que, com a sua forma de ser, de pensar, e de agir, consegue conquistar muitos à sua volta.

Um humano que vê sempre o lado melhor de cada um.

Que acredita que todos têm dentro de si um potencial por explorar, que os pode tornar melhores pessoas.

Um homem que não está com meias palavras, com lições de moral, com imposições.

Alguém que cativa quem está à sua volta.

 

Um homem que é de acções.

Que não se deixa intimidar, nem derrotar, por pressões. Nem pelos seus superiores.

Nem pela sua própria condição.

Um padre que vive a aproveita a sua vida ao máximo, fazendo o bem, e ajudando os que o rodeiam, deixando-se para segundo plano.

Houvesse mais padres/ seres humanos como ele, e o mundo seria melhor!

 

O filme conta a história do padre Jan que, na sua missão de ajudar quem mais precisa, constrói um lar, uma espécie de clínica para doentes em estado terminal, que necessitam de cuidados paliativos. 

Após ser preso por tentativa de roubo, o criminoso e viciado em drogas Patryk Galewski é condenado a prestar 360 horas de serviço comunitário, precisamente, nesse lar.

 

 

 

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Confesso: cada vez menos acredito na reabilitação, e este Patryk estava a irritar-me a sério.

Gabo a fé, e confiança, do padre Jan neste rapaz.

A capacidade de perdoar, e voltar a ajudar.

De nunca desistir dele, mesmo quando ele próprio deita tudo a perder.

Eu, e quem sabe mais espectadores, viu alguém que fuma cigarro atrás de cigarro, que não quer fazer nada de útil, nem mudar de vida, que mais cedo ou mais tarde vai voltar ao crime, e que não tem emenda.

 

O padre Jan viu alguém que precisava de uma mão.

Viu alguém que, se assim o quisesse, tinha um futuro risonho pela frente.

Alguém que não de deve definir por um acto, e que merece uma segunda oportunidade.

 

Portanto, o filme aborda a amizade improvável entre estes dois homens, enquanto cuidam dos doentes e idosos que residem no lar, acompanhado-os, até, na sua partida, até ao momento em que é o próprio padre Jan a morrer.

 

Se puderem, vejam o filme!

Afinal, há pobreza em Portugal?

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Vem esta questão a propósito de uma imagem humorística publicada numa rede social, comentada por alguém que afirma que, em Portugal, não há pobreza.

Há, sim, quem quer passar a vida a viver de ajudas, à custa de subsídios do governo, quem não quer trabalhar, quem prefere viver nas ruas em vez de num abrigo, e por aí fora.

Mais, quando comparado com outros países do chamado "terceiro mundo", não se poderá afirmar que exista pobreza em Portugal. Pelo contrário, estamos muito melhores.

 

Obviamente, há verdade em tudo isto.

Mas não podemos só olhar para um lado.

Para o lado de estarmos muito melhor que outros países. 

Quando oiço falar de pobreza em Portugal, penso também em tantas outras coisas:

- nos mais idosos, que vivem com reformas parcas, que mal lhes chega para comprar a medicação e alimentar-se, e muitas vezes têm que escolher entre uma coisa ou outra

- nos reformados que, em vez de estarem a descansar depois de uma vida de trabalho, são "obrigados" a continuar a trabalhar para poder pagar as suas contas

- nos idosos que vivem sozinhos, abandonados, em "casas" sem quaisquer condições habitacionais, e de higiene

- nas pessoas que trabalham para sobreviver, porque o ordenado que ganham mal chega para pagar a renda de uma casa, quando qualquer pessoa deveria ter direito ao mínimo - uma habitação, um tecto para morar

- nas pessoas que, por não terem como recorrer a hospitais, clínicas e médicos privados, e por não conseguir um atendimento e cuidados médicos mínimos a que deveria ter direito, através do Serviço Nacional de Saúde, acabam por abdicar da sua saúde, entregando-se à sorte, ou à morte

- nas pessoas que, para pagar as contas, se sujeitam a trabalhos onde são explorados ao máximo, em termos de horas de trabalho, salários baixos, mais deveres do que direitos, e sempre com a ameaça de que "se não quiser, há mais quem queira"

 

A pobreza em Portugal, para mim, não pode ser vista como a pobreza da fome, da miséria, das guerras, exploração.

É mais uma pobreza em termos de carência, das necessidades básicas, de bens e serviços básicos, como  alimentação, vestuário, alojamento e cuidados de saúde. 

 

É verdade que Portugal é um país desenvolvido.

Mas, e nessa mesma linha de comparação com outros países, podemos perceber que, neste momento, relativamente a outros países muito mais desenvolvidos, e com outras condições que aqui não existem, Portugal ainda tem muito a desenvolver.

 

É um país pacífico? É. Por enquanto...

Se desejaria sair de Portugal e morar noutro país? Não!

Para mim, continua a ser um bom país para viver.

Mas gostaria que algumas coisas mudassem.

 

E sei que, muito para além daquilo que se vê, existe muita carência em Portugal.

Não daquela que só existe porque os portugueses querem, ou fazem por isso.

Mas daquela em que estão a sofrer as consequências de desigualdades, de políticas, e de interesses, às quais não se lhes pode imputar qualquer culpa.

Agradecer por isso, não é mais do que mostrar uma satisfação que não se sente, e uma aceitação de que não se merece mais, conformando-se com o que é dado.

Quando se tem (ou deveria ter) direito a muito mais.

 

E por aí, qual a vossa opinião?

Há, ou não, pobreza em Portugal?

 

 

Imagem: cnnportugal

 

"Chupa: a criatura mítica", na Netflix

 

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Confesso: o que me cativou, logo no trailer, foi a criaturinha!

É mítica, eu sei.

E o filme deu-lhe todo um ar fofinho, querido e amoroso, que nada tem a ver com as habituais imagens de um "chupa-cabra", um monstro que ataca cabras e lhes suga o sangue, qual vampiro, levando-as à morte.

 

Neste filme, um cientista obstinado quer, a qualquer preço, capturar uma destas criaturas, não só para provar que, de facto, existem, como também para as estudar, uma vez que acredita que as mesmas têm "poderes" medicinais.

A juntar a esta lenda dos chupa-cabras, a história aborda também a lenda do "El Azur", um antigo campeão de luta livre que, por conta de uma lesão, teve que abandonar as competições e vive, actualmente, numa quinta.

É o avô de Alejandro, ou Alex, que o recebe no México por uns dias, a fim de conhecer melhor o neto, e para lhe dar a conhecer as suas raízes mexicanas, que Alex renega, por vergonha.

 

 

 

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Pontos positivos:

Quem resiste a esta cria bebé de chupa-cabra?

Quem resiste à amizade que se cria entre Chupa e Alex?

Quem resiste à protecção de uma mãe, ao seu filho, para o manter em segurança?

Chupa é, sem dúvida, o motivo principal para assistir ao filme, e responsável pelos grandes momentos do filme.

 

Depois, vale pela mensagem de união da família.

Da aceitação da cultura, tradições e raízes a que se pertence.

 

Há também uma abordagem aos problemas de saúde nos mais idosos, alguns causados por lesões antigas, que põem em causa a sua segurança, sobretudo se viverem sozinhos.  

 

 

Pontos negativos:

A personagem Memo é muito irritante.

Sim, é um miúdo. E quer seguir a tradição e os passos do avô mas... Não há paciência!

 

Há cenas que são, simplesmente, parvas, sem graça nenhuma, ou sem sentido.

E que acabam por retirar pontos ao filme.

 

 

 

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Para quem gosta de animais, acho que, depois de verem o filme, ficam a desejar ter um destes chupa-cabra como animal de estimação.

Por aqui, e por ser tão parecido em termos que meiguice, e até mesmo de pelo, com a nossa Amora, agora digo que tenho em casa uma "chupita", mas sem asas (embora ela ache que voa)!

Se soubermos, de antemão, como vai ser toda a nossa vida...

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Onde fica a espontaneidade?

Se já soubermos o que vai acontecer?

E como vamos reagir?

 

Como nos deixamos surpreender pela vida, se a supresa for previamente revelada?

Onde fica a alegria?

O encanto?

A magia?

 

Como vivemos, a partir do momento em que já sabemos o que nos espera?

Fingindo não saber?

 

Aquilo que, num primeiro momento, pode parecer uma grande vantagem poderá, na prática, revelar-se um empecilho para a felicidade, para as relações com os outros, e consigo próprios, e tornar-se um desencanto, em vez de um dom.

 

 

Ultrapassar um autocarro em cima de uma passadeira

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A maior parte dos acidentes rodoviários dá-se por um motivo: a pressa.

Neste mundo em que vivemos, cada vez mais, as pessoas têm pressa.

Não podem (ou não querem) esperar.

Não têm a mínima paciência.

Mas, com a pressa, vêm as manobras perigosas.

 

Ontem, um autocarro parou para as pessoas, que estavam na paragem, entrarem.

A paragem fica quase em frente a uma passadeira.

Do lado onde eu estava, com o autocarro a tapar a visão para trás, só se poderia depreender que os veículos estavam à espera, atrás dele.

Do outro lado, não vinham carros.

Começo a atravessar a passadeira, protegida pelo autocarro.

No entanto, mal chego a meio, percebo que, apesar de ali estar uma passadeira, um condutor apressado não quis esperar que o autocarro avançasse, e decidiu ultrapassá-lo.

Correndo o risco de atropelar quem estivesse, nesse momento, a atravessar a passadeira. 

Até porque o próprio condutor não tinha como ver se havia pessoas a atravessar ou não, até estar quase em cima delas.

 

Correu bem.

Mas poderia ter corrido mal.

E não havia necessidade.

Até porque não serviu de nada.

 

Moral da história: os peões têm que ter "sete olhos", mil cuidados extra, e pensar por si, e pelo que pode vir do outro lado, abdicando das regras que o protegem, para zelar pela sua vida, já que nunca se sabe com o que podem contar da outra parte.