"Nowhere", na Netflix
Acabadinho de estrear, "Nowhere" foi o filme escolhido para ver este fim de semana.
Não é inspirado em factos reais, mas até poderia ser, tendo em conta a quantidade de pessoas que tentam fugir, clandestinamente, dos seus países, e os enganos e acidentes que acontecem com essas pessoas, pelo caminho impedindo-as, muitas vezes, de chegarem ao destino.
Muitas são as vezes que acabam separadas dos familiares.
Que são presas. Recambiadas de volta. Ou, simplesmente, morrem.
Em "Nowhere", vemos Espanha como um país devastado pela escassez de recursos para a sobrevivência da população, em que a solução encontrada, pelo regime, é exterminar crianças e mulheres grávidas.
Mia e Nico já perderam a sua filha, Uma, quando esta foi levada pelos militares e, possivelmente, morta por eles.
Agora, Mia está grávida e, junto com o marido Nico, pagam por uma viagem clandestina para fugir para a Irlanda.
Na confusão instalada pela quantidade de fugitivos a querer entrar, e a necessidade de os dividir pelos vários camiões, o casal acaba separado.
Numa operação de controlo, o regime percebe que o camião onde está Mia transporta fugitivos e, por isso mesmo, extermina-os a todos. À excepção de Mia, que se conseguiu esconder e que, agora, segue sozinha no contentor.
Mas se ela acha que o pior já passou, está enganada.
O pior ainda está por vir.
Durante uma tempestade, o contentor de Mia cai ao mar, e é lá que ela fica, à deriva, trancada, até que alguém a encontre, ou morrerá ali mesmo.
É a partir daqui que Mia, a protagonista do filme (um grande papel de Anna Castillo), desenvolve todo o seu instinto de sobrevivência e, ao mesmo tempo, mostra o que o instinto maternal é capaz de fazer para proteger o seu bebé, acabado de nascer, onde nunca imaginou.
Com pouca água, quase nenhuma comida, com um bebé que tem que cuidar e alimentar, isolada, sem forma de pedir ajuda ou comunicar com alguém, e sem saber se sairá dali a tempo, antes que o contentor afunde, Mia vai passar por momentos em que quase se rende às evidências, sobretudo quando acredita que Nico morreu, e a culpa pela morte da sua filha a faz querer morrer também.
Anna Castillo "carrega", de forma exímia, o filme às costas.
Excelente interpretação, num filme que vale a pena ver.
No entanto, sinto que o filme não conseguiu estar a 100%. Que lhe faltou qualquer coisa.
Talvez um enquadramento da situação, o porquê de eles estarem a fugir. Fica subentendido, mas não há essa contextualização.
E, quem sabe, mostrar, através dos pensamentos de Mia, o que aconteceu a Uma. Embora haja uma conversa, ficou a faltar visualizar a cena.
Por outro lado, Nico foi quase um figurante, insignificante para a história, e não se percebe que destino teve.
Quanto a Mia e Noa, a bebé nascida em alto mar, conseguirão elas sobreviver?
Ou ficarão, para sempre, no oceano?