"O Escritório", de Freida McFadden
Se a ideia era achar a personagem Dawn maçadora, irritante e chata, tenho a dizer que foi bem conseguida.
Obviamente que Dawn não é uma pessoa como as outras. É diferente.
Tem a sua forma muito própria de viver a vida, gostos singulares e manias muito próprias. Quem não as tem?
Mas, com Dawn, é demais.
Confesso que nunca me cansei tanto, e tão depressa, de uma personagem. Não sei se por, no meu dia a dia, lidar com pessoas chatas e cansativas, que me deixam sem paciência, também não a tive para esta personagem.
Em outros tempos, até poderia apelar ao meu lado mais sensível, mais compreensível e, de certa forma, aprender a lidar e a não me importar de conviver com alguém com esta forma de estar. E, até, condenar algumas atitudes de outras personagens para com ela.
Mas, verdade seja dita, vejo-me a reagir, algumas vezes, com a Dawn, como essas outras personagens reagiram.
Ainda mal tinha lido meia dúzia de páginas, e já não podia ouvir falar de tartarugas!
A Dawn é obcecada por tartarugas. Tudo na vida dela é inspirado ou baseado em tartarugas. Ela tem tartarugas verdadeiras, de peluche, de cerâmica.
O assunto que mais gosta de falar, para além de números, já que é contabilista, é tartarugas. Ela sabe tudo sobre elas. Até chegou ao ponto de reclamar numa loja, porque lhe venderam uma tartaruga (decorativa) como marinha e, afinal, era terrestre.
Depois, mesmo no trabalho, a Dawn é insistente, picuinhas.
Portanto, logo de início, fiquei farta da Dawn e do raio das tartarugas.
Por outro lado, o que Dawn tinha de chata, tinha de metódica e, por isso, quando algo falha, ou ocorre fora da norma, as pessoas que com ela lidam, estranham.
Foi o caso de Natalie, sua colega de trabalho, do cubículo ao lado, quando percebeu que Dawn ainda não tinha chegado ao trabalho. Porque Dawn nunca se atrasa. E, se o fizesse, avisaria.
Ninguém sabe dela. Não atende o telefone. Não vai trabalhar, e não aparece na reunião que ela própria marcou, para falar de um assunto de extrema importância, com o seu chefe.
Natalie acredita que algo se passou. Mais ainda quando atende o telefone, e ouve uma simples palavra "Socorro" do outro lado da linha, pronunciada por Dawn.
Em casa de Dawn, onde Natalie a vai procurar e entra pela porta das traseiras, está um rasto de sangue, mas nem sinal dela.
Até que é encontrado um cadáver, que tudo indica ser o dela.
A partir daí, tendo em conta as provas, os supostos testemunhos de alguns colegas e os email's encontrados no computador de Dawn, que esta ia trocando com uma amiga, Natalie passa a ser a principal suspeita do homicídio.
Natalie jura que não fez nada, e que a tratava bem.
Mas ninguém parece acreditar nela.
Nem os próprios pais. Tendo em conta o passado de Natalie, acham que ela poderá ter feito tudo aquilo de que é acusada.
De que lado estará a verdade?
Em qual das versões devemos acreditar?
Na primeira parte do livro temos a construção da narrativa, que nos leva à suposta morte de Dawn, e à culpada Natalie.
Na segunda parte, porém, percebemos o outro lado da história.
Quem são as vítimas, e quem são os culpados.
Que está vivo, e quem morreu. No passado, e no presente.
Não é, definitivamente, um dos melhores thrillers de sempre.
Mas lê-se bem, e de forma rápida, não desiludindo.