"O Feitiço", na Netflix
"O Feitiço" é uma dos poucos filmes de animação que aborda o tema da separação ou divórcio de um casal, e a forma como a relação entre um casal afecta toda a dinâmica familiar, nomeadamente, os filhos.
Nesta história, Ellian vê os seus pais transformados em monstros, após um feitiço que lhes foi lançado. Na verdade, foram os próprios a proporcionar esse feitiço, sem o saber.
O casal, outrora apaixonado e cúmplice começou, com o passar do tempo, a não se entender. A discutir, por tudo, e por nada.
O amor, a compreensão e a amizade deram lugar à irritação, à intolerância, à raiva.
E esses sentimentos negativos atraíram para si forças obscuras que os transformaram em monstros.
Agora, Ellian, sabendo que não pode, por muito mais tempo, aguentar esta situação, e mantê-la em segredo, tenta, de todas as formas, recuperar os seus pais, e a vida como era antes, com os três juntos.
Só que, quando os pais se apercebem do que originou toda a situação, compreendem que nada poderá voltar a ser como antes, o que fará com que, desta vez, seja Ellian a correr o risco de, também ela, se transformar num monstro.
Porque Ellian atingiu o seu limite.
Pensando que os pais nunca pensam em como ela se sente, que só se preocupam consigo mesmos.
Acreditando que os pais não a amam.
E que se sacrificou, e tentou de tudo, em vão.
Cabe aos pais mostrar-lhe que, independentemente de tudo, o amor que sentem por ela é o mais importante.
A lição do filme é a de que, ainda que um casal se separe, os filhos continuarão a ser amados por ambos.
Sim, a rotina e a dinâmica familiar mudam. Mas isso não tem que, obrigatoriamente, ser mau.
Se houver um esforço conjunto, criar-se-ão novas dinâmicas, e os filhos sairão resguardados e protegidos por ambos.
E, muitas vezes, é preferível uma separação, mantendo a humanidade, do que viver a vida toda juntos, como "monstros", ignorando que há pessoas, por quem são responsáveis, a sofrer as consequências dos actos dos pais.
Para mim, o ponto mais negativo deste filme é, sem dúvida, o excesso de música cantada pelas várias personagens.
Era desnecessária.
Poderiam ter perdido menos tempo em cantorias, e passar mais depressa à acção em si.
A música principal, e mais bonita de todas - The Way It Was Before, de Lauren Spencer-Smith, seria suficiente para fazer o filme brilhar, e passar a mensagem.