Combater a inércia
Na física, a inércia "consiste na tendência natural que um objeto possui de resistir a mudanças do seu estado original de movimento ou repouso. Isso significa que um objeto que está parado tende a se manter parado, enquanto um corpo que está em movimento tende a manter o movimento."
Na vida, conhecemo-la mais como inação, letargia, preguiça, rotina.
E também acontece quando falamos de demonstração de afectos e sentimentos.
É incrível a facilidade com que, da mesma forma que nos sabe bem dar e receber afectos, nos habituamos, em sentido inverso, à ausência deles.
Tal como um objecto que, estando em movimento, tende a manter-se em movimento, se a troca de afectos na nossa vida for regular, se lhe dermos prioridade, acaba por ser natural, e querermos sempre mais.
Mas, se a descuidarmos, se a menosprezarmos, de a deixarmos de lado, torna-se um corpo parado, cuja tendência será continuar parado.
Habituamo-nos à falta de afectos, com a mesma naturalidade. E temos cada vez menos vontade de lhes dar uso, como se fosse algo obsoleto, que já não se usa.
Com a mesma intensidade com que ansiamos por eles - um toque, um abraço, um beijo, uma carícia - e os retribuímos aos outros, também perdemos a vontade de o fazer, e receber, "chutando-os para canto".
Tornando esse gesto algo estranho e forçado.
E, se não combatermos essa inércia, corremos o risco de essa ausência se tornar um caminho sem retorno.
Uma realidade que nos fará, a longo prazo, mais mal que bem.