Confesso que foi a curiosidade que me levou a querer ler este livro da Luísa Sobral, o seu primeiro romance.
A capa é simples, mas bonita. Desprendida, mas cativante.
E a apresentação dos capítulos, original e informativa.
Quando comecei a ler, logo ali nos primeiros capítulos, pensei que não ia gostar.
Não estava a conseguir envolver-me na história.
No entanto, ao continuar a ler, o meu pensamento mudou.
A história começa pela narrativa da M. sendo, depois, alternada com a da Emmi.
E o que parecia ser duas histórias distintas, de duas mulheres que nada tinham a ver uma com a outra, revela-se uma mesma história ainda que, muitas vezes, em tempos diferentes, de uma filha, e de uma mãe.
De uma filha, que nunca teve a atenção da mãe, e que idolatrava o pai, até perceber o monstro que ele era. De uma filha que, ao contrário da mãe, se atreveu a fugir.
E viver toda uma vida fora do seu país.
Afastada da sua família, mas "adoptada" por quem a ajudou, e lhe quis bem.
Uma vida com muitas aventuras, com momentos felizes e, outros tantos, de tristezas.
E de uma mãe que, um dia, acreditou estar a viver o seu conto de fadas, mas depressa se transformou num filme de terror.
Para ela, a sua filha era a "filha" do monstro e, por isso, nunca se quis apegar a ela.
Até ao dia em que percebe que a filha fugiu e, aí, ela começa a vê-la como sua filha. Como alguém de quem se orgulha, e que teve a coragem que, ela própria, não teve.
A verdade é que, ainda que em tempos diferentes, mãe e filha terão a mesma iniciativa.
Mas será que, algum dia, esses tempos se acertam, e elas têm a oportunidade de se reencontrar?
Conseguirão elas, depois de tantos anos, refazer as suas vidas?
Voltar a amar?
E por aí, já alguém leu este romance?
O que acharam?
Deixo aqui algumas das citações que mais gostei ao longo desta leitura, e que me marcaram.
"Há quem desperdice toda uma vida enquanto pensa o que fazer com ela."
"As plantas só crescem onde encontram condições perfeitas para se desenvolverem. Nós, seres humanos, temos muitas vezes de criar condições perfeitas num lugar imperfeito."
"A vida é feita de momentos presentes que alteram o futuro."
"É preciso tão pouco para se ter tudo."
"Há uma calma no amor que a paixão desconhece."
"Um filho nasce no exato momento em que uma mulher descobre que vai ser mãe. É por isso que, para uma mãe, nenhum filho fica por nascer, mesmo aqueles que não chegam a ver a luz do dia."
"Às vezes amar é partir. É chegar ao fim antes do outro. É fugir.
Às vezes amar é fazer tudo aquilo que não se espera de alguém que ama.
Às vezes."
"Há despedidas tão dolorosas que só uma parte de nós se vai embora. Não temos força suficiente para nos convencermos a partir por inteiro."
"...um casal só é feliz quando pode conversar sobre tudo e quando cada um segue os seus desejos e faz as suas escolhas em total liberdade."
"Talvez nunca tivéssemos deixado de ser apenas amigos e esse tenha sido o nosso equívoco. Talvez tivéssemos simplesmente deixado de nos escolher ao acordar, ou talvez nos tenhamos escolhido durante todos aqueles anos para não desistirmos de acreditar no amor. É mais fácil fingir do que desistir.
Somos capazes de simular grandes paixões para não lidarmos com a solidão, para não olharmos para trás. Talvez o nosso amor tenha sido apenas isso, fé."
Sinopse:
"Este é um romance sobre duas mulheres unidas pela desilusão e pelos cinquenta anos mais tristes da história da Alemanha. Com uma estrutura muitíssimo original e uma galeria de personagens inesquecível, Nem Todas as Árvores Morrem de Pé marca a estreia fulgurante de Luísa Sobral na ficção.
Emmi, que nasceu pouco antes de Hitler ascender ao poder na Alemanha, perde o pai na guerra e tem uma adolescência difícil, trabalhando desde muito cedo para ajudar em casa. É num bar aonde vai com os amigos depois do trabalho que conhece Markus, um homem de Berlim Leste que lhe escreve cartas maravilhosas e por quem se apaixona perdidamente.
Apesar de a mãe torcer o nariz ao seu casamento num momento em que a Guerra Fria está ao rubro, a irmã apoia-a, e Emmi acaba por ir viver com Mischa, como lhe chama, para a RDA. Inicialmente, tudo corre bem, mas, depois de o Muro de Berlim ser erguido, a separação da família e a chegada de uma carta anónima deixam-na na mais profunda depressão.
M. nasce após a divisão das duas Alemanhas e é o fruto perfeito do socialismo: com uma mãe ausente e educada por uma ama que adora plantas, M. idolatra o pai, desconhecendo por completo o mundo ocidental e crescendo ao sabor de uma realidade distorcida. Até que um dia, ao ouvir o testemunho chocante de uma rapariga, descobre que, afinal, não é só o Muro que tem um outro lado."