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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Dois irmãos, duas histórias

 

Quando perderam a mãe, eram apenas duas crianças!

Duas crianças que, daí em diante, foram criadas pelo pai, e pelas tias.

Nessa altura viviam em plena região alentejana, divididos entre Barrancos e Moura.

Levavam uma vida dura, no campo, privados de muitas coisas essenciais...

E assim cresceram até que, um dia, os dois irmãos vieram para Lisboa.

Pode-se dizer que são muito parecidos, em termos de feitios, e quanto mais velhos mais parecidos ficam!

Mas sempre houve uma diferença que os fez, mesmo tão perto um do outro, seguir rumos e estilos de vida tão diferentes - a ambição!

O meu tio é daquelas pessoas que não se contenta com o que tem, se sabe que pode ter mais. E foi nesse sentido que, com a ajuda da minha tia, sempre lutaram, trabalhando sábados, domingos e feriados, sem folgas, quase sem descanso, para poderem atingir o objectivo a que se tinham proposto.

Primeiro por conta de outros e, mais tarde, por conta própria, passavam os dias no café restaurante Primavera, de manhã até madrugada.

Quando as minhas primas já podiam, ajudavam os pais a servir às mesas e ao balcão, e tudo o mais que fosse preciso, já que um dia viriam a usufruir das regalias proporcionadas por todo aquele esforço.

Raramente as vi passear, aproveitar a infância e a adolescência, divertir-se como qualquer rapariga da idade delas.

O meu tio, além do restaurante, que entretanto trespassou, abrindo depois um café (que entretanto também alugou porque já estava na altura de deixar de trabalhar e gozar os rendimentos), construiu a casa onde hoje mora.

Construiu também outras moradias - umas que ainda tem para alugar, outras que vendeu. E comprou terrenos, que deu às filhas para que elas próprias pudessem construir as suas casas.

Hoje, têm uma boa vida. Não lhes contei o dinheiro, mas sei que estão bem e têm o seu futuro assegurado. Embora o meu tio se esteja sempre a queixar (sem motivo), dinheiro é algo que não lhe falta.

Já o meu pai, nunca sonhou muito alto, nunca foi ambicioso!

Mesmo tendo oportunidade para melhorar, continuou satisfeito no seu emprego como carpinteiro, a ganhar o básico. O lema dele sempre foi "para hoje tenho, amanhã logo se vê"!

Passadas algumas dificuldades em que teve, por exemplo, que vender a própria aliança de casamento para ter dinheiro, ou quando ficou sem trabalho, aos 50 anos, e todos lhe batiam com a porta porque já era demasiado velho para trabalhar (e nessa altura foi o meu tio que o ajudou), conseguiu finalmente um trabalho, numa fábrica, onde esteve até se reformar.

Mas, apesar de nunca ter ambicionado uma vida melhor, sempre fez tudo para que não faltasse nada lá em casa.

Tanto eu como o meu irmão, sempre tivemos o essencial.

Acima de tudo, muito amor e muitas aventuras com o meu pai! 

Foi ele que me levou a conhecer o Jardim Zoológico e a Feira Popular!

Foi com ele que fui a primeira vez ao circo!

Era com ele que eu ia para o campo fazer piqueniques e apanhar pinhas!

Era com ele que eu ia todos os anos no mês de Agosto para a praia!

Muitos dos poemas e textos que ele escrevia, eram sobre mim, ou para mim!

Hoje, o meu pai não tem carro, vive numa casa alugada, tem uma reforma que lhe proporciona uma vida um pouco melhor do que quando trabalhava. E ainda consegue ajudar os filhos sempre que é necessário, com o pouco que tem.

Para ele basta-lhe. E é feliz assim!

Se poderia ter sido de outra maneira? Até poderia ter sido...mas não seria a mesma coisa!