Sacrifícios? Não, obrigada!
Li, algures, que "as relações obrigam a sacrifícios" e que "todos gostamos que alguém se sacrifique por nós, que faça coisas por nós. E se nós fizermos coisas pelo outro o sentimento deve ser recíproco, e assim se vai gostando cada vez mais, o amor vai crescendo, muito mais do que poderíamos achar possível".
Vivemos num mundo livre, em que cada um tem direito à sua opinião. E há que respeitar essas opiniões. Mas, por certo, quem o escreveu, não sabe o que é amar. Talvez nunca tenha experimentado esse sentimento, ou não saiba exactamente como defini-lo. E afinal, haverá uma definição concreta? Ou haverá uma infinidade de definições, que são construídas pelas várias vivências?
Seja como for, embora compreenda o sentido que, hipoteticamente, a pessoa que escreveu quis dar à expressão, não concordo com o termo utilizado.
Uma relação saudável, forte, madura e assente num amor verdadeiro, nunca é construída, nem mantida, à base de "sacrifícios". Aquilo que fazemos, fazemos pelo prazer de fazer, pelo bem estar que proporciona, tanto a nós próprios como a quem está connosco. A partir do momento em que consideramos as nossas acções e os nossos gestos, "sacrifícios", é como se estivessemos a agir por obrigação.
E, ao contrário do que acima foi dito, penso que nenhuma relação se constrói e nenhum amor cresce, pela quantidade e reciprocidade de "sacrifícios" que forem feitos por ambas as partes.
Eu não gosto, certamente, que alguém se sacrifique por mim. Que alguém se sinta na "obrigação" de o fazer. Nem tão pouco, que o faça para que eu, em troca, me sacrifique também, e assim nos amemos cada vez mais. Não vou sentir amor por alguém que espera que eu faça algo para gostar mais de mim e, por isso, faça algo para que eu também goste mais e lhe retribua, e assim sucessivamente. Para mim, não tem lógica!
Uma relação implica entrega, responsabilidade, um trabalho conjunto para um objectivo comum, e não cada um a trabalhar para o outro. Implica um amor que, embora seja fundamental ser recíproco, nos leve a agir sem desejar sempre algo em troca. Até porque, quando realmente amamos, essa reciprocidade está presente e manifesta-se de forma natural.