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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Desabafos domésticos

 

Se há coisa que me dá nervos é pôr roupa a lavar. É sempre uma aventura e nunca sei o que dali vai sair.

Eu sei que, actualmente, há detergentes para roupa branca, roupa escura e roupa colorida. Mas que raios, eu não quero ter um armazém de detergentes diferentes para cada ocasião. Nem tão pouco andar a pôr meia dúzia de peças a lavar às prestações.

Já para não falar nas dúvidas que surgem: por exemplo, uma peça azul clara, lavo com roupa branca ou roupa escura? Se lavar com a branca, esta fica azul. Se lavar com a escura, a azul fica manchada. E não posso esperar semanas até que haja outra peça igual. E quando a roupa é metade branca e metade escura? Outro dilema...

Então caros inventores, porque é que não inventam uma máquina de lavar com compartimentos para os vários tipos de roupa, que se possam lavar de uma só vez, sem se misturarem, e com um único detergente próprio para todos eles?!

Isso é que era inovação!

Enclausurar ou libertar?

 

Um dia li um artigo sobre a interpretação dos gestos e atitudes dos gatos, que concluía que o pensamento destes, qualquer que fosse o seu comportamento relativamente aos donos, se resumia a uma única coisa: comida!

Quero acreditar, e com base na minha própria experiência e convivência com estes animais, que esse artigo está totalmente errado. Que os gatos se preocupam com algo mais que alimento e que, tal como nós, também têm sentimentos!

Acredito que a nossa Tica adora deitar-se no meu colo quando me sento no sofá, e dormir a sua sesta de três horas enquanto eu vejo algum filme na televisão. Acredito que ela adora quando brincamos às escondidas ou a apanhada (sim, eu faço essas figuras). Acredito que ela gosta de mimos tal como nós, que precisa dos seus momentos, que se chateia, que se alegra…

Acredito que ela conversa connosco e transmite aquilo que sente.

Acredito que ela fica contente sempre que chegamos a casa, e triste quando saímos. Que muitas vezes se sente só…

Por isso mesmo, estando fechada em casa horas a fio, a maioria das quais sem qualquer companhia, até que um de nós chegue a casa, é natural que, para ela, seja bastante tentador escapar-se assim que tem uma oportunidade.

E, de repente, sinto-me como se fosse a Gotel a prender a Rapunzel na torre, para a proteger dos perigos do exterior das muralhas do castelo!

Claro que o nosso único objectivo é mesmo protege-la. Quantas vezes a deixámos ir para o quintal e a deixámos brincar? Algumas. Mas, tal como as crianças, a liberdade que lhe demos não foi suficiente. Começou a saltar o muro e ir para a estrada, a esconder-se debaixo dos carros para não a apanharmos. E então, optámos por não deixá-la ir à rua sozinha.

Sempre que podíamos, levávamo-la ao colo, ou sentávamo-nos lá fora com ela ao colo. Era uma forma de ela vir à rua, sem nos arriscarmos a que ela fugisse.

Mesmo assim, isso não lhe chegava. Na penúltima vez que se escapou sem termos tempo de a apanhar, fugiu para os barracões do vizinho e esteve lá toda a manhã. Apareceu à hora de almoço. Na última vez, fugiu à hora de almoço e até ao fim da tarde não tinha voltado. Tive que ir à procura dela e, mesmo assim, foi difícil apanhá-la. Já em casa, notou-se perfeitamente que não se sentia bem por estar ali, só olhava para as janelas.

Por sorte, foi para os barracões do vizinho que fugiu. Para estar na companhia de outros gatos. Mas, e se ela se lembrar de ir mais longe, de se aventurar para outro lado, de comer alguma erva envenenada, de se meter com outros gatos ou com os cães? E se alguém a apanhar e ficar com ela? Ou se ela, por algum motivo, não conseguir voltar para casa? Ou não quiser?

O que nos deixa num grande dilema: limitamos ainda mais o espaço disponível para ela estar em casa, para que não haja nenhuma forma de sair, como se estivesse numa prisão, para que não volte a desaparecer? Ou fazemos-lhe a vontade e arriscamo-nos a que, um dia destes, ela não volte de vez?