Crianças "prodígio": uma dádiva ou uma maldição?
Ao longo do tempo, várias foram as crianças sobredotadas, também denominadas de "crianças prodígio", que se destacaram das restantes, das mais diversas formas, e nas mais diferentes áreas.
Uma criança destas não é, necessariamente, a melhor e mais inteligente em tudo, mas antes com um foco e especificidade própria sendo, por vezes, até desajeitadas no resto.
Ainda assim, é um dom. E um dom, deveria ser uma coisa boa, positiva.
No entanto, existem dons que se revelam, muitas vezes, uma "maldição" para quem os tem. Algo que os torna diferentes e, como tal, difíceis de compreender, aceitar, conviver.
A diferença, em vez de ser positiva, acaba por ter a conotação contrária.
É algo que as isola, que as coloca sob pressão, que as faz sentir-se exploradas, ou desejadas apenas e só, por esse dom.
Muitas vezes, professores mas, sobretudo, os pais, acabam por exigir ainda mais do que era suposto, a estas crianças que, apesar de tudo, deveriam ter uma vida normal, como qualquer outra.
É o caso de Laurent Simons, um rapaz de 9 anos, cujos pais queriam que ele se licenciasse antes do seu 10º aniversário, a 26 de Dezembro.
A universidade disse que era impossível, e os pais amuaram, e tiraram de lá o filho. Porque, para eles, tem que ser possível.
"O curso de Laurent demora três anos a fazer, mas ele esperava completá-lo em apenas dez meses. Contudo, a universidade avisou que seria impossível cumprir o prazo, visto que ele ainda tinha muitos exames para fazer, sugerindo que ele poderia acabar o curso em meados de 2020. Num comunicado citado pela BBC, a universidade indicou que apressar o final do curso não era compatível com o "discernimento, a criatividade e a análise crítica" necessários e que isso iria refletir-se no seu desenvolvimento académico.
Além disso, a universidade alertou contra a "pressão excessiva sobre o aluno de 9 anos", que reitera ter "um talento sem precedentes"."
Já no filme "Gifted", uma avó queria à força que a sua neta seguisse os passos da mãe (que acabou por não aguentar a pressão e se suicidar), porque era um desperdício não aproveitar o seu dom para grandes feitos, e deixá-la levar uma vida normal, conviver com as crianças "normais" e frequentar uma escola "banal", como o tio o fazia, cumprindo o desejo e vontade da sua falecida irmã.
Não que ele ocultasse ou quisesse impedir que a sobrinha usasse o seu talento. Mas fazia-lhe ver que a vida era muito mais que isso.
A partir do momento em que a avó ficou com a guarda da neta, ela viu-se rodeada de livros, professores, estudo e mais estudo, e nem lhe permitiram ficar com o seu gato de estimação.
E aquela criança passou a ser uma criança infeliz, revoltada.
A ideia com que fico é que, apesar de tudo, ser-se uma criança sobredotada é sinónimo de solidão, vazio, incompreensão, desajustamento, um certo "peso" que nem todas conseguem carregar, até mesmo alguma discriminação.
Que são, muitas vezes, usadas para caprichos e interesses de quem pode, de alguma forma, tirar partido delas, para benefício de si próprio, e não das crianças.
Que nem todos os que com elas lidam sabem gerir e manter um equilíbrio saudável entre um dom com o qual se nasceu, e tudo o resto.