Quando o prazer se torna obrigação, perde-se a paixão
No outro dia, perguntava-me o meu marido: "Se te pagassem para escrever um artigo todas as semanas, aceitavas?".
E eu respondi-lhe "Não!". "Não", porque gosto de escrever quando estou inspirada, quando tenho algo para dizer, quando um assunto surge e me interessa. E isso não tem dia e hora marcada para acontecer.
Tudo é que acontece de forma natural e espontânea, sai melhor. É feito com gosto, por prazer, e deixa-nos felizes.
Mas, se começarmos a transformar esse prazer em obrigação, a paixão perde-se, muitas vezes, pelo caminho e, às tantas, já não queremos fazer aquilo, já sentimos o peso da pressão, da necessidade de apresentar aquilo para o que nos pagam, e com o qual estão a contar.
Estou a imaginar, por exemplo, alguém que adora cozinhar, para a família, para um grupo de amigos, ou sozinho, inventando receitas, fazendo experiências. Que leva o seu tempo a apurar, a ornamentar os pratos, que preza a apresentação.
Se, de repente, tiver que cozinhar para um regimento, sem tempo para grandes invenções, e com o relógio a contar, a pessoa acaba por não conseguir dar aquilo que mais gostava, e cozinhar torna-se cansativo e sem graça.
Imagino que também os escritores passem um pouco por isso, quando têm prazos para entregar as suas obras, e não lhes saem as palavras ou, quando saem, não são as que deveriam.
Ou os artistas plásticos.
E, um pouco, todos nós, naquelas pequenas coisas que, normalmente, fazemos por prazer, e lazer.
A obrigação, é meio caminho andado para tornar a paixão, em aversão, e levar ao abandono daquilo que, um dia, gostámos de fazer.