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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Ensinar - será esse o único papel de um professor?

 

As aulas começaram há poucos dias e a escola passa, novamente, a ser o local onde as crianças e jovens estudantes estarão a maior parte do seu tempo.

Para alguns, o regresso às aulas significa subir mais um degrau rumo ao seu futuro, rever velhas amizades, fazer novos amigos, voltar à rotina do cumprimento de horários, do estudo, dos exames, de todo um ritual do qual só se desprendem em tempo de férias.

Para outros, a escola pode ser encarada como um refúgio, que permite a muitos jovens afastarem-se, ainda que apenas por algumas horas, do meio em que vivem, das míseras condições, de conflitos familiares, podendo também ser a única possibilidade de, pelo menos, uma refeição decente.

No entanto, para muitas crianças e jovens, pode significar algo mais negativo. Dificuldades de adaptação, solidão, desigualdades sociais, e até mesmo episódios de violência e/ou bullying.

Em qualquer destes dois últimos casos, cabe, não só, mas, principalmente, aos diversos profissionais dos estabelecimentos de ensino, detetar os sinais que indiquem a existência de problemas, seja de que ordem forem, e agir em conformidade.

E, neste processo, o papel do professor é fundamental. Desengane-se quem pensa que a única função do professor é ensinar a matéria. Um professor é, ou deveria ser, muito mais que isso!

Acima de tudo, o professor deve ser alguém em quem as crianças ou jovens possam confiar, e a melhor forma de ganhar essa confiança é mostrando-se atento, disponível, amigo.

Sendo aquele que passa mais tempo com as crianças ou jovens, deve observar o seu comportamento, tentar detetar possíveis problemas ou dificuldades e, em conjunto com os restantes responsáveis, encontrar a melhor solução para os eliminar ou, pelo menos, atenuar.

Não são raros os casos de bullying, físico ou psicológico, que acontecem muitas vezes à vista de todos, sem que ninguém faça nada para o impedir, fingindo não ver, ou sequer admitir, que isso existe!

Não são raros os casos de vítimas de violência infantil e/ou abusos sexuais que passam despercebidas, se os professores não estiverem atentos a pequenos sinais ou comportamentos.

São frequentes os casos de crianças que nem sempre têm condições financeiras ou psicológicas que lhes permitam frequentar a escola nas mesmas circunstâncias que os demais.

Cada criança é única, diferente de todas as outras, com a sua própria história, personalidade, família e condições financeiras, físicas e psicológicas mas, ainda assim, não deixa de ser igual a todas as outras, com direito às mesmas oportunidades, à mesma dedicação e atenção, e à mesma segurança.

Como tal, a escola, em primeiro lugar, enquanto instituição, e os professores, em seguida, como profissionais de educação, bem como os restantes funcionários auxiliares de ação educativa, devem proporcionar o bem-estar e o desenvolvimento das crianças e jovens em clima de segurança afetiva e física dentro da instituição.

Mas, se for o caso, devem também averiguar junto das famílias desses jovens a existência de dificuldades ou problemas, colaborar com estas famílias na partilha de cuidados e responsabilidades no processo educativo e desenvolvimento pessoal dos jovens e, se necessário for, denunciar às entidades competentes possíveis situações de risco.

Afinal, quando um professor vai além do simples papel de ensinar, pode estar a mudar completamente o destino de uma criança ou jovem!

 

Texto escrito para a edição de Outubro da Blogazine

O pior cego é aquele que não quer ver

 

Um jovem igual a tantos outros, fruto do amor entre duas pessoas, numa família que poderia ser perfeita, viu-se envolvido num ambiente de risco, com um pai alcoólico e violento, e com um grande sentimento de culpa a pesar-lhe nas costas. 

Como é que isso foi possível? Tudo corria bem até que o pai começou a queixar-se que a mãe dava mais atenção ao filho do que a ele, e de como tudo tinha mudado, depois de ele ter nascido.

Começou a beber, e a ser agressivo para a mãe de Joey, desculpando-se em seguida com a pressão do trabalho. Mas logo dizendo que, se não fosse o filho precisar sempre de alguma coisa, já se tinha despedido.

Ora, Joey foi crescendo com a ideia de que, se ele desaparecesse, tudo se resolveria. Foi por isso que, aos 9 anos, fugiu de casa. Esta foi a primeira chamada de atenção para o facto de que Joey não estava bem.

A segunda, foi quando começou a beber! Apesar de não gostar do sabor, fazia-o parar de chorar, esquecer tudo e adormecer rapidamente. Passou a utilizá-lo como anestésico, sempre que os pais discutiam.

Após o divórcio dos pais, que representou uma culpa acrescida, Joey sentia vergonha de se ter tornado igual ao pai. Mas também sentia que não conseguia tornar-se igual ao padrasto.

Quando a mãe e o padrasto o levaram às consultas de psicologia, já ele tinha pensado em suicídio. Embora no início Joey não quisesse ir, acabou por gostar da psicóloga. Mas esta nunca conseguiu chegar até ele, e isso frustrava-a, porque estava a ver o que, possivelmente, iria acontecer se ninguém agisse.

Aconselhou a mãe a não mudar o filho de escola. A mãe não quis saber e fê-lo. Aconselhou a mãe a interná-lo numa clínica, onde poderia ter outro tipo de tratamento. A mãe não quis ouvir. Pelo contrário, achou que o filho já não precisava de mais consultas, porque já não bebia, nem tão pouco de qualquer contacto com ela. Nunca soube que o filho queria, realmente, conversar com a psicóloga e ir para a clínica.

A juntar-se a isto, veio a gota de água. O desapontamento com o pai, que não o foi buscar como prometido, no dia da Acção de Graças. Mais uma vez, pensou que era culpa sua. E não queria mais isso.

A ponte era a solução! Tudo o que Joey queria era paz. Morrer era a forma de a obter. Joey tinha apenas 14 anos.

Por vezes os pais agem como se só eles soubessem o que é melhor para os seus filhos, e não querem ver o que está à sua frente, não compreendem ou ignoram os sinais, fazem orelhas moucas ao que quem pode ajudar tem a dizer. E depois, é tarde demais para encarar a verdade.

"Não acreditei em si. Não compreendi. Eu não sabia", foram alguns dos pensamentos que vieram à mente do padrasto de Joey, quando a psicóloga chegou ao hospital onde, mais tarde, Joey viria a falecer, após o suicídio.

Já a mãe, essa culpou a psicóloga, que deveria ter feito alguma coisa para o evitar, para o fazer feliz. Que deveria ter feito mais do que apenas conversar, semana após semana. Que deveria ter curado o seu filho.

No entanto, esta fúria mais não era do que uma forma de transferir para terceiros, aquilo que ela própria nunca quis ver. E não há pior cego que aquele que não quer ver...

 

 

Quando a protecção de crianças tem o efeito inverso

 

Se tivessemos o poder de adivinhar o futuro, não cometeríamos, talvez, nem uma quinta parte dos erros que cometemos. 

O mesmo acontece com os responsáveis pela protecção de crianças e jovens em risco. Que não possuem, da mesma forma, a sabedoria de Salomão. E, por isso mesmo, não estão isentos de cometer enganos.

No entanto, há enganos que saem caros para os principais envolvidos, e que não se admitem, nem têm justificação plausível.

Muitas vezes, retiram-se crianças e jovens aos pais biológicos porque são considerados em risco, mas acabam por os "atirar" para situações de risco tão ou mais graves que aquelas em que já estavam.

Vejam o caso de abuso sexual de duas meninas, que terão começado quando as mesmas tinham, respectivamente, 9 e 11 anos, no seio da família de acolhimento à qual foi atribuída a guarda de ambas. E que se prolongaram por mais de 6 anos.

É engraçado como são tão eficazes a julgar uns (ainda que com razão), e tão despreocupados em relação a outros. Tanto as crianças como a família de acolhimento deveriam ser acompanhados por profissionais que pudessem detectar este tipo de comportamento precocemente.

Embora não seja exactamente assim, parece que, a partir do momento em que entregam as crianças, fica o assunto resolvido e passam ao próximo caso.

Há crianças e jovens que deveriam estar em um determinado tipo de instituição mas, por falta de vagas, vão para junto de outros, colocando-os em perigo. Há crianças e jovens que correm risco, dentro das próprias instituições que os deveriam proteger.

Outro dos casos foi o do jovem de 17 anos que assassinou outro de 14, em Salvaterra de Magos. Já estava sinalizado, pela CPCJ, mas de nada adiantou. Neste caso, não se tratava apenas de actuar no sentido de proteger o próprio e reabilitá-lo para inserção na sociedade, mas de proteger terceiros contra o comportamento deste. 

O sistema, conforme está, pode ser eficaz em alguns casos, mas deixa muito a desejar noutros!