“A maioria das pessoas desiste de sonhar, e de lutar, porque pensa que o sonho apenas conduz à desilusão. A partir daí, agarram-se ao concreto, àquilo que conhecem (mesmo que não as satisfaça), e acomodam-se, entrando num estado de profunda apatia, de desistência, tornando-se uma espécie de zombies…”
Quantas vezes desejamos ter esta ou aquela coisa, sonhamos ser isto ou aquilo, e nos lamentamos por ainda não o termos conseguido.
É nessa altura que nos dizem “em vez de pensares no que não tens, e te lamentares por isso, dá antes valor ao que possuis, ao que já atingiste, ao que já conseguiste”!
Concordo plenamente, que devemos dar valor ao que temos e conseguimos, em vez de pensarmos e lamentarmos o que não temos.
Por outro lado, dizem-nos que não nos devemos acomodar, e deixarmo-nos ficar por aquilo que temos.
Pelo contrário, é imprescindível ter objectivos para concretizar, metas para atingir, de forma a alcançarmos tudo aquilo que ainda não temos e tantas vezes sonhamos (embora nos digam para não pensar tanto nisso, porque afinal já temos o que temos!).
E que objectivos são esses que devemos ter? Que precisamos de ter? E onde procurá-los? Onde encontrá-los?
Dentro de nós próprios, evidentemente! Então, e se eu simplesmente não tiver nenhum objectivo? Será que não tenho mesmo? Se tenho, não os consigo descobrir…
Ou até talvez tenha encontrado alguns, mas com eles vem a certeza de que não vale a pena alimentá-los, porque sem dinheiro, não há concretização possível.
Que sonhos, que objectivos procuramos geralmente realizar?
- Estudar e/ ou tirar um determinado curso, licenciatura, mestrado, bacharelato;
- Arranjar um trabalho;
- Comprar uma casa própria;
- Casar com a pessoa que ama (depois de a encontrar);
- Ter filhos;
- Viajar;
- Praticar alguma actividade ou hobbie;
- Tirar a carta de condução;
- Comprar um carro;
- Fazer uma dieta;
- Deixar de fumar;
- Morar sozinho, deixar a casa dos pais;
- Cortar com determinado vício…
Ora, eu não me revejo em nenhum destes objectivos – fiz o 12º ano porque não quis estudar mais (nem vontade tenho de o voltar a fazer), encontrei um trabalho onde estou há 11 anos (não é propriamente o trabalho de sonho, mas estou efectiva, pagam-me, e não trabalho aos fins de semana, como sempre desejei), casei, divorciei-me, tenho uma filha, moro com ela numa casa alugada (porque não tenho intenção de comprar uma), nunca quis tirar a carta de condução porque não me imagino sequer a conduzir, e ter um carro não está dentro das minhas possibilidades financeiras, não tenho vícios, não preciso de dietas, tenho o namorado que desejei, não tenho tempo para actividades extra (até para poder estar um pouco sozinha quase tenho que pedir licença)…
Viajar, já foi um sonho e, consequentemente, um objectivo. Neste momento, não me entusiasma tanto, e ainda que assim fosse, não há dinheiro!
Se se pode considerar um objectivo, gostava de ir este ano ver o espectáculo ALEGRIA, do Cirque du Soleil. Mas, também para isso, não há dinheiro.
Gostava de criar uma instituição de solidariedade social e, claro está, ainda menos dinheiro há.
Ou seja, não há nada que eu neste momento consiga identificar como objectivo para a minha vida. Isso significa que estou a viver ao “sabor da maré”, caminhando para onde a vida me leva. Em vez de levá-la eu para onde quero.
Se me perguntarem “mas tu não sonhas”? Claro que sonho! Mas de que adianta sonhar se, como alguém disse, esses sonhos, “só levam a desilusões”? É por isso que, qualquer que seja a ideia que, eventualmente surja, ou me apresentem, nem sequer chega a florescer – é cortada de imediato, rejeitada naquele preciso momento.
Em vez disso, agarro-me ao que tenho, à minha morna realidade, à minha vidinha de sempre, ao marasmo e à monotonia que a caracteriza.
E, se é verdade que muitas vezes nem penso nisso e consigo viver bons momentos dentro dessa realidade, também é verdade que há dias em que percebo o rumo, ou a falta dele, que estou a dar à minha vida. Não me sinto totalmente satisfeita, a apatia instala-se e sinto-me, de facto, uma zombie.
Se é triste? É! Mas se é angustiante parar, pensar e perceber que não tenho objectivos, e que, por isso mesmo, estou insatisfeita e não sou completamente feliz, mais angustiante é obrigar-me a uma busca interior, tentando encontrar objectivos que eu sei que neste momento não existem, como se disso dependesse toda a minha felicidade.
O objectivo principal é o meu bem-estar, e esta demanda não é, de todo, algo que me deixe mais animada e feliz.
Afinal, se e quando tiver objectivos, estes irão surgir por si mesmos e, nessa altura, eu estarei apta a identificá-los. A partir daí, restará saber o que fazer com eles…