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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Vida triste

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Há pessoas com vidas muito tristes.

Pessoas que não tiveram a infância que deveriam ter tido, que foram obrigadas a crescer mais depressa, que nem sempre tomaram as melhores decisões na vida, e que chegam agora à velhice com a solidão como única companhia.

A pessoa de que falo é apenas uma, entre muitas. Vem de uma família de 5 irmãos, um rapaz e quatro raparigas que, após a morte dos pais, tiveram destinos diferentes.

Não é uma história da gata borralheira, mas também nela existiu a madrasta má. E foi com ela que, juntamente com uma das irmãs, este rapaz foi criado. Pelo que sei, foi a partir daí que tudo começou. 

Primeiro, os maus tratos. Depois, a revolta. E quando percebeu, já estava enredado no mundo do crime. Se foi o caminho mais fácil ou o único possível, é discussão para um outro texto. Mas não terá sido, de todo, o caminho acertado.

Este homem casou, teve filhos, e teve netos. Não sei se isso aconteceu antes ou durante as suas idas e vindas casa-prisão-casa. Sim. Grande parte da vida deste homem foi passada entre detenções, liberdade condicional e novas detenções. 

E chega um momento em que nos perguntamos se isso não se deverá ao facto de encontrar lá dentro aquilo que não tem cá fora. Lá dentro, tinha um tecto, tinha uma profissão, tinha ocupações e não preocupações. Nos companheiros, os seus amigos, a sua "família".

Cá fora, a vida não é fácil. Principalmente para ex presidiários. E, especialmente, para aqueles que não sabem ou não querem aproveitar as raras oportunidades que surgem. Cá fora, as filhas nunca quiseram saber deste pai. A ex mulher não quis saber deste homem.

Restavam-lhe duas irmãs, a quem ele recorria quando estava cá fora. E era nelas, e nas sobrinhas que se ia apoiando. Cá fora, sempre mostrou a sua faceta divertida, brincalhona, feliz, como se a vida lhe corresse de feição. Mas, lá dentro, teve de lidar com o mundo mais negro - violadores, traficantes, assassinos...

No entanto, por mais que as irmãs gostem dele, há também uma espécie de "vergonha" pelo que ele fez, mesmo compreendendo o que o levou a isso, mas não aceitando essa "desculpa" como justificação para os constantes erros. Para elas, é um caso perdido. Alguém que surge uma vez ou outra, depois de anos sem dar notícias. Atrevo-me até a dizer que, para elas e para a restante família, ele é um fardo que ninguém está na disposição de carregar. Não há ligação, não há confiança, não há praticamente nada...

Apercebo-me que este homem, hoje com mais de 70 anos, saído há pouco tempo (mais uma vez) do estabelecimento prisional, que diz querer paz e sossego no tempo que lhe resta de vida, está completamente sozinho. Já nem aqueles que, antes, ainda tinham esperança e lhe davam um pouco de carinho e amizade, querem saber dele. E os que o fazem, é à distância.

Hoje, este homem quer, quem sabe, recuperar o amor das filhas, conquistar o dos netos, retomar laços familiares. Mas todos têm as suas vidas, e ele não cabe nelas. Este homem, passa os dias à espera de gestos que, provavelmente, nunca irão chegar.

E isso é triste...É triste porque este homem sempre passou e vai continuar a passar a sua velhice em completa solidão. Se cá fora, ou lá dentro, não faço ideia. Mas o que resta a alguém que já não tem nada nem ninguém a perder?... 

 

Haverá coisa pior...

 

 

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...que ouvir certos velhos na rua a dizer asneiras que eu própria não me atrevo a pronunciar, a armarem-se em jovens engatatões a lançar piropos às mulheres com idade para serem filhas e netas, e alguns a serem aquilo a que costumamos chamar de "ordinários" ou "nojentos", a ultrapassarem os limites e a acharem-se os maiores?

Certamente, haverá.

Mas eu detesto esses velhos que por aqui andam nas ruas, que não têm mais com que se ocupar, e nada fazem para merecer respeito.

Rugas - mesmo na velhice, a amizade é o bem mais precioso!

 

Vi este filme na passada sexta-feira, na versão em espanhol (legendado em português) e achei-o espectacular!

Ao percebermos sobre o que o mesmo trata, poderíamos pensar que o filme seria dramático, triste, revoltante, comovente... E é!

Mas o que é mais incrível é que conseguiram mostrar tudo isso, de uma forma cómica, leve e descontraída.

Posso dizer que passei mais tempo a rir do que a chorar! A pronúncia espanhola também ajuda!

É por isso que considero este filme tão especial.

E pelo espírito de entreajuda, camaradagem e amizade que caracteriza os habitantes deste lar para idosos onde há uma abordagem especial à doença de Alzheimer.

Um filme que todas as famílias deveriam ver, e que até os mais novos vão adorar!

Pelos idosos de hoje, e pelos de amanhã, que poderemos ser nós.

 

Sinopse:

"Emílio e Miguel são dois amigos a dividir quarto num lar de terceira idade. Quando são diagnosticados a Emílio os primeiros sintomas de Alzheimer, Miguel percebe que terá de encontrar uma maneira de impedir que o transfiram para o segundo andar da instituição, para onde, supostamente, são deslocados os casos sem solução. Assim, ao mesmo tempo que um se vai perdendo nos labirintos da memória, confundindo a realidade com criações da sua mente envelhecida, o outro arranja um plano infalível que provará a todos que, mesmo na velhice, a amizade é o bem mais precioso."

 

 

O Diário da Nossa Paixão

 

"Sou um homem vulgar,com pensamentos vulgares, e vivi uma vida vulgar. Não há monumentos dedicados a mim e o meu nome em breve será esquecido, mas amei outra pessoa com toda a minha alma e coração e isso, para mim, é que contou."

 

Ainda existem amores como este?

Quero acreditar que sim!

 

O primeiro livro, de tantos que já li que, verdadeiramente, me emocionou!

Destaco os sentimentos que cada carta carrega, e que transmite a quem lê de uma forma única.

A dedicação, a generosidade e a simplicidade, em contraste com as imposições sociais, a riqueza e o poder.

A velhice, e tudo o que a ela está associado.

A doença de Alzheimer, a frustração de que a tem e sofre com ela, e a da família, que se sente impotente.

A importância da amizade, daquilo que podemos fazer para tornar a vida do próximo um pouco melhor, dos pequenos gestos.

E, acima de tudo, o amor verdadeiro, único, incondicional e intemporal, que sobreviveu a tudo!

Será que os milagres acontecem? Como dizia Noah "a ciência só pode explicar até determinado ponto, depois disso, fica por conta de Deus".

O filme é bonito, também emociona, mas não há comparação possível com o livro que, para mim, foi uma das melhores histórias de amor que já li.