À Conversa com José Casado Alberto
Nascido em Aveiro, e aí residente, José Casado Alberto, desde cedo mostrou interesse pela arte de contador de histórias, desde o romance ao documento histórico, passando pelo filme, série ou videojogo.
Considera-se um “escritor vagabundo e criatura de imaginação demasiado fértil”.
Apesar de ter estudado Biotecnologia na Universidade de Aveiro, é à literatura- a sua verdadeira paixão, que atualmente se dedica.
A sua estreia ocorreu em outubro do ano passado, com o lançamento do livro “Segundo a Lei da Arma” que nos transporta para o faroeste americano.
Para nos falar um pouco mais sobre esta obra e o seu percurso que está agora a iniciar na escrita, tenho hoje comigo o autor José Alberto, a quem desde já agradeço pela disponibilidade.
Para quem não o conhece, quem é o José Alberto?
Aveirense por acaso, Lusitano por paixão. Sou um escritor aspirante, residente à Beira-Mar, com uma tremenda queda para tudo o que é música, ciência, história, fantasia e ficção científica.
Como é que surgiu, na sua vida, o gosto pela escrita, e a vontade de escrever o seu próprio livro?
Para mim os livros foram uma paixão precoce. Na minha infância, ainda antes de saber ler, já obrigava os meus pais a lerem-me algo na hora do sono. Desde então que a literatura é elemento integral da minha vida.
Quanto à escrita, devo dizer que é uma obsessão mais recente. Há cerca de dois anos, talvez três, a minha mãe sugeriu-me a tentativa de elaborar o meu próprio livro, ao ver o quão apaixonadamente eu lhe descrevia algo que acabara de ler. Eu aceitei o desafio e nunca mais olhei para trás.
Em quê, ou em quem, se inspirou para escrever o livro “Segundo a Lei da Arma?”
Primeiramente, na música “Big Iron” de Marty Robbins, que foi a principal fonte da minha inspiração. Adicionei um pouco de Sergio Leone e Clint Eastwood à mistura e o resultado final foi o meu primeiro livro “Segundo a Lei da Arma”.
Esta história tem como cenário o faroeste americano, na época pós guerra civil. Houve algum motivo concreto para esta escolha?
Sim, houve. A mitologia do faroeste americano sempre foi algo que me fascinou. Num período histórico em que a Europa vivia sob o jugo de sociedades monárquicas extremamente rígidas, o faroeste é uma época de pura liberdade com tudo o que isso acarreta, para o bem e para o mal. Existe uma certa aura sedutora num homem, ou mulher, que vive segundo as suas próprias regras.
Qual foi a personagem que mais prazer lhe deu criar para esta história?
Contrário à opinião da maioria das pessoas que leram o meu livro, foi o Forasteiro de Negro. Sempre tive uma queda um pouco absurda por personagens caóticas e incompreendidas.
Considera que, assim como um blogger deve escrever no seu blog, em primeiro lugar, para si mesmo, e só depois, para os possíveis leitores, também qualquer autor ou escritor deve fazê-lo, relativamente às suas obras?
Na minha humilde e ainda pouco experiente opinião, nunca, mas mesmo nunca, deve escrever-se para um eventual leitor. Quem são eles? Que desejam eles? São resposta impossíveis de responder com exactidão ou abrangência suficientes.
Se eu escrever algo que me agrade a mim, e tendo em conta que os meus gostos estão longe de serem únicos neste planeta, certamente que agradarei a muitos outros. Logo, é insensato pensar mais longe. Claro que um escritor pode sempre pedir opiniões a amigos e familiares, filtrá-las de modo a potenciar a sua obra. Mas, além disso, é uma prática fútil tentar adivinhar os eventuais gostos de públicos anónimos.
Sendo esta a sua primeira obra, e uma estreia no mundo da escrita, como descreveria todo o processo de elaboração da mesma?
Foi um processo relativamente rápido, em que as ideias surgiram sem grande dificuldade, ou mais moroso?
As ideias surgiram com relativa facilidade, não foi aí que se recaiu a principal dificuldade. Agora a escrita, especialmente uma tão extensa quando considerado o dia-a-dia do homem normal, essa sim criou alguns entraves. Articular gramática com precisão, conjugações verbais consistentes, um vocabulário expansivo e não repetitivo, essas são, na minha opinião, os problemas mais imediatos na mente do escritor aspirante (pelo menos, no meu caso). Claro que, com a prática, vão tornando-se em meras inconveniências, ao invés de frustrações avassaladoras.
Que feedback tem recebido por parte dos leitores?
Embora com algumas críticas constructivas e bem merecidas, o feedback tem sido, geralmente, positivo. Desde amigos e familiares, a outros bloggers e leitores anónimos, até agora o livro tem sido apreciado, há quem chegue a dizer-me que o leu de rajada. Ora, como escritor, acho que não posso pedir além da leitura prazerosa dos meus eventuais leitores.
Estudou Biotecnologia na Universidade de Aveiro. Pretende trabalhar também nessa área?
O meu objectivo final seria ficar-me apenas pelos caminhos artísticos para o resto da vida, seja a literatura ou algo mais. Claro que a vida nem sempre acede aos caprichos de quem a vive, por isso apenas o futuro saberá onde irei parar.
Quais são as suas principais referências literárias, a nível nacional?
Camilo Castelo Branco, sem dúvida. Um claro primeiro lugar. Calisto Elói é a minha personagem favorita em toda a literatura lusitana.
Em segundo, embora aprecie escritores como Moita Flores, Lobo Antunes e muitos outros, teria de escolher, fora do reino da prosa, Gil Vicente. Até hoje, o “Auto da Barca do Inferno” é a minha leitura lusófona predilecta. Adoro quando a comédia mordaz se alia à crítica social.
Que conselho deixaria a quem estivesse a pensar escrever um livro, mas não soubesse exatamente como passar da teoria à prática?
Tentem. Façam. Esqueçam aquilo que os outros possam pensar e dizer do vosso produto final. A tentativa não acarreta garantia de sucesso, mas é o único percurso descoberto até hoje. Quem não tenta, guarda apenas ressentimentos.
Muito obrigada!
*Esta conversa teve o apoio da Chiado Editora.