À Conversa com Manuel Soares Traquina
Tive, há pouco tempo, oportunidade de ler um dos livros deste autor - Desamores.
Hoje, deixo-vos com a entrevista a Manuel Soares Traquina, o autor desta obra e do seu antecessor, "Sortilégios", a quem desde já agradeço pela atenção e disponibilidade demonstrada desde o início!
Manuel Soares Traquina nasceu em São Simão, uma aldeia do concelho de Sardoal.
Para além de uma carreira profissional na Banca Comercial, colaborou durante vários anos com a imprensa regional, publicou dois livros, e dedica-se à pintura naturalista, tendo participado em inúmeras exposições colectivas, e promovido outras, a título individual.
Para conhecerem melhor o autor, leiam a entrevista que o mesmo concedeu a este cantinho!
Quem é o Manuel Soares Traquina?
A pessoa menos indicada para se auto classificar, sem o risco de apreciações subjectivas. Ainda assim, consciente da sua qualidade de cidadão comum inserido no seu tempo, cultor de valores tradicionais, devoto das coisas boas da vida…
O Manuel colaborou, durante vários anos, com a imprensa regional, escrevendo artigos de opinião. Como é que a escrita surgiu na sua vida?
Fui desde muito cedo um leitor compulsivo. Ninguém que leia muito foge à tentação da escrita. Não é possível ler Eça, Camilo, Vergílio Ferreira e ficar-se pela leitura. A primeira tentação é reactiva; o meio envolvente, natural, social ou político suscita opinião. Basta ser observador atento…
Como leitor, é devoto dos clássicos. Como autor, para além dos artigos de opinião, também escreveu a obra “Sortilégios, uma ficção autobiografada e, mais recentemente, “Desamores”. Dentro da escrita, e dos diferentes estilos, o que é que lhe dá mais prazer escrever?
Sortilégios foi uma experiência única, pela tentativa de recuperar um certo tempo remoto, numa trama com laivos autobiográficos e tempero romântico. “Desamores” é mais do nosso tempo, mais adequado à volatilidade de sentimentos… No fundo, escrever é descrever; sentimentos, estados de alma, tipos humanos, cenários… Repito: basta observar e recordar…
Enquanto leitor, recorda-se de algum livro que o tenha marcado de uma forma especial?
O rol é interminável. Enquanto adolescente acedi a uma obra, hoje ostracizada, mas que continuo a reler, e que ela retribui, comovendo-me. Os Miseráveis, de Victor Hugo são um monumento literário. A sua leitura marcou-me profundamente. Todos os outros, de que destaco os grandes clássicos, - Zola (Rougon-Macquart), Flaubert, Tolstoi e tantos outros - vieram na sequência de uma exigência intelectual e muitos, designadamente alguns contemporâneos, Vasco Pratolini, Moravia, Llosa, são relidos sempre com imenso prazer.
O Manuel dedica-se também à pintura naturalista, tendo já participado em diversas exposições, tanto colectivas como a nível individual. O que é que procura exprimir ou transmitir através das suas obras?
Desprovido de propósitos artísticos especulativos, avesso a catálogos ideológicos, autodidacta despretensioso, pinto essencialmente como forma lúdica de estar na vida. Não me preocupa o meu lugar na História da pintura. Se por qualquer afinidade me quisesse qualificar, dir-me-ia, contudo, naturalista, no sentido de ter a Natureza como modelo inspirador. E, perdoe-se-me o egocentrismo, adoro pintar e gosto do que pinto.
Tendo em conta o seu trabalho a nível de pintura, pergunto-lhe se a imagem que vemos na capa do livro “Desamores” é da sua autoria?
É verdade, embora a editora o tenha omitido. Titulei esse quadro "Leitura ao entardecer" e é óleo sobre tela. Também “Sortilégios” reproduz na capa uma obra minha: “Ficamos mais um pouco” igualmente óleo sobre tela.
Em termos de pintura, O Manuel inspira-se, sobretudo, na natureza. E relativamente à escrita, em que é que se costuma inspirar?
Acho que fundamentalmente me inspiro em mim próprio. Mas a Natureza está sempre presente na minha escrita. Cito Lobo Antunes: "não temos imaginação, temos memória". E se pensarmos que no dizer de Barthes "tudo o que escrevemos já foi, de algum modo, escrito", a nossa vivência pessoal é um bom fornecedor do essencial da nossa escrita. Estou obviamente a referir-me à escrita convencional, intimista, revivalista...
Entre a escrita e a pintura, onde encaixam o Direito e a Banca?
No pragmatismo. E na minha condição de português a quem a sorte não bafejou nem com o ouro do Brasil, nem com os números certos do Euromilhões…
“Desamores” é o título do seu mais recente livro, editado em dezembro de 2016. O Manuel é um homem de mais amores, ou desamores, na sua vida?
De amores, absoluta e definitivamente, de amores. Sou tradicional, conservador, constante... Mas não podemos ignorar as singularidades do ser humano…
Na sua opinião, relativamente à forma como era vivido o amor e encarados os desamores, há algumas décadas, e na atualidade, o que mais mudou com o passar dos anos, para melhor e para pior?
Lamento que o Amor esteja demasiado desvalorizado…que o Eros esteja a todo o momento a ser ridicularizado… Talvez na essência não tenha havido muita mudança; a forma sim, essa alterou-se. E também as formas de comunicação. A expressão oral, sensível, romântica deu lugar ao “click”, frio e impessoal.
Que críticas tem recebido, ao livro “Desamores”, por parte dos leitores?
Os meus amigos/amigas leitores fazem o favor de ser gentis e dizer que gostam… Que posso eu fazer, se eu próprio, narcisisticamente, gosto do que escrevo?
Haverá uma nova obra para breve?
Estão dois na calha. Hei-de dar-lhe notícia, com a devida oportunidade.
Muito obrigada, Manuel!
*Esta conversa teve o apoio da Chiado Editora, que estabeleceu a ponte entre a autora e este cantinho.