À Conversa com Natalie K. Lynn
Será que estava escrito, nos destinos de Carmen Silva e Maria Valente, virem um dia a cruzar-se e tornar-se grandes amigas? Se é verdade ou não, não sabem. Mas a verdade é que isso acabou mesmo por acontecer, em 2000, na Escola Superior de Comunicação Social.
A uni-las, tinham muito mais que a paixão pelo jornalismo! Pode parecer mentira, mas as duas nasceram no mesmo dia, no mesmo mês, no mesmo ano, e à mesma hora! Eu diria que “não há coincidências”. A partir daí, têm estado sempre juntas. Primeiro, como colegas de turma. Mais tarde, de profissão, estando a Carmen ligada à imprensa escrita, e a Maria ao mundo da rádio.
Partilham ainda a mesma necessidade de viajar e conhecer o mundo. E foi numa dessas viagens, algures pelas paisagens indonésias, que decidiram avançar com a vontade que ambas, mais uma vez, partilhavam - escrever livros. Mais precisamente, romances no feminino. Para esta escolha terão contribuído, certamente, as respetivas mães, que eram ávidas leitoras deste género literário. Assim, em homenagem àquelas que as inspiraram, apoderaram-se do nome das mães, e da nacionalidade das autoras que estas tanto apreciavam.
Dessa união, surgiu o pseudónimo Natalie K. Lynn, com que assinam todas as obras escritas por ambas, entre as quais “Nas Garras do Escorpião: O Deserto da Perdição”, “Odiar e Amar um Duque: Prisioneira do Destino”, e “Fingindo Ser Uma Princesa: Coração Roubado”.
Este ano, e com a chancela da Chiado Editora, Natalie K. Lynn lançou o primeiro de uma coleção de quatro romances, intitulado “Júlia: Afinal Existem Príncipes Encantados!”, ideal para quem gosta deste género, e o presente perfeito para oferecer à “cara-metade” no Dia de S. Valentim! Para nos falar mais sobre as suas obras e deste livro acabadinho de chegar, tenho hoje como convidadas a Carmen e a Maria, ou melhor, a escritora Natalie K. Lynn!
Como é que surgiu a vosso gosto pela escrita, e a vontade de escreverem em conjunto?
C – Acho que era um gosto que estava latente. Tudo aconteceu na primeira grande viagem - percorremos quase meio mundo - que fizemos juntas. Foi em Bali, num restaurante de praia, ao final da tarde, num dos últimos dias de viagem, que a meio da conversa uma lançou “olha, e se escrevêssemos um livro?” e a outra rematou “vamos a isso!”. E realmente só fazia sentido escrevermos um livro juntas porque os nossos estilos complementam-se: enquanto eu sou uma pessoa da ação e da narrativa, a Maria é mais do pormenor e da descrição.
M – Acho que o nosso encontro em comunicação, neste caso em jornalismo já mostra alguma simpatia pelas letras. Mas concordo com a Carmen, Bali foi uma viagem importante até porque estávamos as 3 (fomos com outra amiga) numa fase em que o encontro com um lado mais espiritual foi quase revelador. Todo este ambiente serviu de cenário perfeito para avançarmos com a ideia.
Porque é que optaram por escrever romances?
C – É o principal estilo de literatura que leio, muito por influência da minha mãe, e portanto é a “área” que conheço e que leva a minha imaginação a fluir. De tal modo, que me tem dado imenso prazer contar as histórias que temos contado até aqui e que iremos continuar a contar.
M – E porque queremos acreditar nos contos de fadas e se temos a possibilidade de os criar... então pomos coraçõezinhos por todo o lado! (risos) Também minha mãe era leitora do género e o primeiro contacto que temos com livros acaba por influenciar a escolha do género de eleição. E quisemos homenagear esta influência das nossas mães e por isso juntámos o nome de uma, o apelido da outra ao K de “karma” para criar a “Natalie K Lynn”.
Quais são as vossas principais referências, a nível de romances?
C - Jane Austen, sem dúvida.
M – Confere.
Qual foi a obra, de outro autor, que mais gostaram de ler?
C - “Orgulho e Preconceito” da Jane Austen.
M – Essa é dificil... Alguns do top 10 são “A Insustentável Leveza do Ser” de Milan Kundera, “O Retrato de Dorian Gray” de Oscar Wilde e “O Perfume” de Patrick Süskind, mas um preferido não consigo.
E uma obra vossa que mais prazer vos tenha dado escrever?
C – Todas elas ocupam um lugar especial no coração por alguma razão, ou por ter sido a primeira ou por permitir criar universos paralelos ao nosso. No entanto, se tivesse de eleger uma, eu diria que a “Júlia: Afinal, existem Príncipes Encantados!” foi a obra que me deu mais prazer a escrever. Precisamente por ser bastante completa: tem momentos cómicos, tem momentos dramáticos, fala de amor, fala de amizade, enfim, fala…
M- Esta, sem dúvida. Porque pode ser a minha história, a tua, a da vizinha do lado, a da colega do ginásio... Tem sonhos, gargalhadas e é muito próxima da nossa realidade até porque acontece no presente e entre Lisboa, Mafra e a Ericeira.
Têm em comum o prazer de viajar. De todas as viagens que já fizeram, qual elegeriam como inesquecível?
C – Bali porque foi realmente um ponto de viragem nas nossas vidas, uma vez que foi lá que surgiu a ideia – começar a escrever romances – que nos trouxe até aqui, ao momento em que lançámos o nosso primeiro livro sob a chancela de uma editora.
M – Sou muito fã das Ilhas Gregas mas tenho de eleger Bali também por ter sido um ponto de viragem a nível pessoal e profissional.
Nos vossos primeiros três livros, optaram por diferentes países, e histórias de duques, princesas e xeques, iniciando o vosso percurso nos romances históricos. No entanto, na vossa mais recente obra, optaram por escolher as vilas de Mafra e Ericeira, e a cidade de Lisboa, para cenário desta comédia romântica dos tempos modernos. Porquê esta mudança?
C – O “Júlia: Afinal, existem Príncipes Encantados!” foi realmente a quarta obra que escrevemos, apesar de a ideia ou da filosofia subjacente a este livro ou, melhor, à coleção, nos acompanhar desde o início. Sabíamos que queríamos escrever contos de fadas modernos e para o público português. Mas na altura ainda não nos sentíamos preparadas para concretizar essa missão, pois a ideia, tal como nós, precisava de maturação. Afinal, nunca tínhamos escrito um livro na vida e a verdade é que quando chegávamos à frente do computador para começar a escrever, mesmo quando já tínhamos uma ideia sobre a história que queríamos contar, havia sempre aquele momento do “e agora?”, ou “como é que eu começo?”, etc. E a maneira que encontrámos para começar a ultrapassar este tipo de bloqueio inicial e a amadurecer foi realmente dar liberdade à imaginação e começar a escrever. Daí por exemplo, o nosso primeiro livro - “Odiar e Amar um Duque: Prisioneira do Destino - ser uma short story histórica ficcional ou o nosso segundo livro - “Nas Garras do Escorpião: o Deserto da Perdição” – se passar num deserto, num cenário completamente idealizado por nós. E foi assim que acabámos por ganhar maturidade para passar para o papel a ideia que tínhamos desde o início e que deu origem a este livro e à coleção que lançámos agora.
M – E a base dessa ideia era contar uma história com a qual os leitores se pudessem identificar, que fosse ao mesmo tempo real, mas com alguma magia, sobretudo a magia dos contos de fadas com os quais crescemos. Daí optarmos por locais reais e que nos são familiares. Escrever sobre realidades que conhecemos contribui para sermos bem-sucedidas nesta missão do leitor se identificar com as personagens, a envolvência, a história…
“Júlia: Afinal Existem Príncipes Encantados!” é o primeiro livro de uma coleção intitulada “Amor, Amigas e Garrafas de Vinho”, sendo que cada livro irá contar a história de cada uma das quatro amigas. Será fácil os leitores, sobretudo as mulheres, identificarem-se com estas histórias e personagens?
C – Acreditamos que sim e é esse o nosso grande objetivo.
M – Ao ler o livro acreditamos que as pessoas se irão identificar a si, “aquela amiga” que é mesmo parecida com o personagem ou “aquele diálogo” que tiveram, sem dúvida.
Que feedback têm recebido do público?
C- O feedback que temos tido é que assim que se começa a ler o livro, não se consegue parar. A curiosidade para saber o que vem na página seguinte é constante. Temos mesmo pessoas que nos disseram que devoraram o livro numa questão de horas.
M – Tem sido excecional e deixa-nos muito contentes porque sentimos que cumprimos o objetivo, o que mais ouvimos é que não conseguem parar de ler porque querem saber mais, que se identificam com as personagens e que a forma como o ambiente é descrito lhes permite entrar dentro da história. Isto é coincidente com os objetivos a que nos propusemos e é mel para os nossos ouvidos! E já fomos muito surpreendidas: há pouco tempo uma senhora com 86 anos veio dizer-nos que se identificava imenso com a Júlia e que o livro a estava a fazer reviver a juventude! Obviamente que escrevemos para todo o público, mas não esperávamos que fosse tão vasto o leque de pessoas que se estão a identificar!!!
Na vossa opinião, como será o “príncipe encantado” dos tempos modernos, que as mulheres atualmente procuram?
C – Acho que procuram alguém semelhante ao Miguel Souto, o protagonista masculino: sensível, mas, ao mesmo tempo e quando a situação assim o exige, audacioso e destemido. E sempre com sentido de humor.
M – Eu acho que nós – mulheres no geral - até achamos piada a alguns defeitozinhos no “príncipe” desde que no final as qualidades pesem mais. Se forem muito perfeitinhos também perdem a graça toda...
Serão só as mulheres a procurar o seu “príncipe encantado” ou consideram que também existem homens à espera de encontrar a sua “princesa de contos de fada”?
C – Acredito que sim, que os homens também procurem as suas princesas. No fundo, todos nós procuramos as nossas almas-gêmeas, independentemente da maneira como as idealizamos.
M – Claro, e tal como os homens com os seus defeitozitos a darem-lhe carisma!
Este primeiro livro conta-nos o romance vivido por Júlia. Podem-nos desvendar um bocadinho daquilo que os leitores vão poder esperar das próximas histórias, e o que estará guardado para cada uma das amigas da Júlia?
C – Durante o desenrolar do enredo deste livro, que conta a história da Júlia, é apresentado o ponto de partida da próxima história a ser contada, que é a da Marta. Além disso, também há um vislumbre da história da Rita. Aquilo que podemos desvendar, de uma maneira muito sintética, é que a Marta vai apaixonar-se por um
bad boy... Quanto à história da Leonor, como não podemos contar tudo… para se saber mais detalhes sobre ela, ter-se-á de ler o livro da Marta.
M – Digamos que talvez a Marta regresse ao Kafka para beber um copo...
Poder-se-ia, de alguma forma, fazer uma comparação entre a amizade e aventuras amorosas destas quatro mulheres, e a que pudemos ver na série “O Sexo e a Cidade”?
M – Elas são muito amigas, riem e choram umas com as outras, estão lá para os momentos bons e maus, até aqui acho que sim. Mas a Júlia e as amigas vestem-se na Zara e não na Gucci, só usam uns Louboutin em sonhos, têm celulite, um quilo ou outro a mais, vestem umas calças de fato treino e apanham o cabelo se estiverem em casa. Acho que estas amigas são coincidentes com o mundo da maioria das pessoas...
Já têm alguma ideia de quando serão lançadas essas histórias, ou por enquanto estão apenas focadas na promoção deste primeiro livro da coleção?
C – Não, ainda não temos data prevista para o lançamento das próximas obras até porque, neste momento, estamos focadas, essencialmente, na promoção do “Júlia: Afinal, existem Príncipes Encantados!”.
Muito obrigada pela vossa disponibilidade e colaboração!
Tenho a certeza de que, tal como eu, também os leitores vão ficar à espera de mais histórias com finais felizes da vossa autoria!
*Esta conversa teve o apoio da Chiado Editora, que estabeleceu a ponte entre a autora e este cantinho.