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Marta O meu canto

Guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, que ficam arrumados numa gaveta fechada... Abri essas gavetas, e o resultado é este blog!

Marta O meu canto

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À Conversa com Pedro Forra/ Dinnit Divo

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Pedro Forra, mais conhecido pelo seu alter ego Dinnit Divo, nasceu e cresceu na cidade algarvia de Olhão.
 
Formou-se na escola de Artes, Música, Cinema e Tetro Guilherme Cossoul, em Lisboa e, aos 20 anos mudou-se para Londres em busca dos seus sonhos.
 
O seu primeiro single musical "Lúcifer" ficou 9 semanas, em primeiro lugar, no LGBTQ UK MusicChart
 
Agora, apresenta o seu primeiro romance "Evan Hassow".
 
Fiquem a conhê-lo melhor, nesta entrevista:
 
 
 
 
 
 
 
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Para quem não o conhece, quem é o Pedro Forra?
 
O Pedro Forra é um rapaz lutador e sonhador, que acredita que um dia irá deixar uma marca no mundo através da sua arte.
A desigualdade, o bullying, o racismo, as drogas, a política, os tabus e a discriminação são temas pelos quais me interesso muito, e pelos quais vale a pena lutar contra! 
 
 
 
O que o levou a criar o seu alter ego Dinnit Divo?
 
Lembro-me de ter 7 anos e fechar-me no quarto a ensaiar as minhas "tours mundiais" ao som das músicas das Spice Girls.
Elas foram, sem dúvida, a minha maior influência. Lembro-me de cortar roupa e fazer uma rotina de dança esgotante. Imaginava um enorme público enquanto eu estava no "palco".
Aquela pessoa em que eu me tornava, ali no meu quarto, era uma pessoa completamente diferente do que eu era no dia-a-dia e, com o passar dos anos, comecei a aperceber-me que eu tinha de tornar essa pessoa que viva no quarto, numa pessoa real e então decidi que Dinnit Divo iria ser o nome dela. 
 
 
 
Em que momento sentiu despertar em si o gosto pelas artes?
 
Tal como referi na resposta anterior, lembro-me de começar a ter esta enorme paixão pela arte aos 6/7 anos.
Para além da música, como já disse anteriormente, lembro-me de ver o Baywatch na televisão e como era em inglês, e eu não entendia, e ainda não conseguia ler suficientemente bem e rápido para acompanhar as legendas, no final do episódio fechava-me no quarto e escrevia guiões sobre aquilo a que tinha assistido. Depois decorava tudo e apresentava aos meus pais, sendo que também foi por essa altura que começou a paixão por ser ator e por toda a envolvência do cinema.
 
 
 
Cantor, ator, modelo e autor, qual destas atividades lhe dá mais prazer?
 
É uma escolha difícil.
Tudo me dá prazer, seja escrever livros, seja escrever as letras das minhas músicas (que brevemente irão sair), seja dirigir os vídeos que já realizei, escolher as roupas, fazer as perfomances. E o teatro..as luzes..Tudo está ligado entre si.
 
 
 
Aos 20 anos, mudou-se para Londres em busca dos seus sonhos. Que sonhos tinha, nessa altura, que chegou mesmo a concretizar, ou que ficaram por realizar?
 
Mudei-me para Londres com o grande objetivo de gravar um álbum!
O "Evan Hassow" já estava a ser escrito na altura mas claro que a chegada deste dia, em que apresento o livro, é um dos dias mais importante da minha vida. 
Estou a concretizar tudo o que desejei e ainda mais. 
 
 
 
 
 
 
 

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Quais foram as maiores diferenças, ou semelhanças, que encontrou entre Portugal e Inglaterra, a nível cultural e social?
 
A maior diferença que senti foi a aceitação. Em Londres sinto que não tenho que ser o Dinnit Divo só dentro do meu quarto, mas sim quando e eu onde quero.
Vestir-me como me sinto bem sem receio de ser abordado ou agredido na rua. Posso dizer que Londres fez com que o meu ego, confiança e sentimento de aceitação aumentassem drásticamente.
Hoje sei quem sou, e sou feliz com isso, e Londres teve e tem um papel de enorme importância na minha vida. 
 
 
 
Como artista que é, pretende mudar a forma como a sociedade se comporta em relação a determinados temas e problemas atuais. Na sua opinião, qual o maior flagelo da sociedade actual?
 
Existem tantos pontos que gostaria de mudar na nossa sociedade, mas neste preciso momento sinto que o maior problema é tudo o que está relacionado com o futuro do nosso planeta, o nosso ambiente, as alterações climáticas e todas as suas consequências, a poluição, etc.
Acho que se não nos preocuparmos com isto, então a vida deixa de fazer sentido, uma vez que este planeta é a nossa casa. 
 
 
 
De que forma é que a arte, nas suas diversas vertentes, pode ajudar a essa mudança?
 
A arte, nas suas diversas vertentes, influencia as pessoas e eu quero que a MINHA arte seja um exemplo para todos.
Acredito que ao ser reconhecido pelo que faço e pelo que quero fazer, posso usar isso de forma útil para um mundo melhor. 
 
 
 
 
 
 
 
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“Evan Hassow” é um romance que aborda a história de um amor homossexual entre dois jovens norte-americanos. O que o levou a escrever sobre este tema?
 
Decidi abordar este assunto porque estou farto de ver filmes com histórias românticas entre casais heterossexuais.
Pensei que, se na minha obra, o casal fosse gay, poderia ter mais impacto na sociedade e na comunidade LGBTQ.
Admito também que escrever sobre este assunto foi uma ajuda para me aceitar a mim mesmo como membro da comunidade. 
 
 
 
Considera que a discriminação, a exclusão e o preconceito são algo que nunca se irá conseguir abolir totalmente?
 
A sociedade está mais aberta, é verdade, e a tendência é vir a melhorar. Contudo, acho que ainda há um longo caminho a percorrer, seja em relação à comunidade LGBTQ, seja em relação ao racismo, à xenofobia e outros assuntos. 
 
 
 
Para além da homossexualidade, o romance aborda também um outro tema com o qual nos deparamos na atualidade - o tráfico de humanos para escravidão laboral. O que o levou a escrever sobre esta problemática?
 
Em meados de 2011, estava eu a viver em Santos, Lisboa, e costumava passear à noite, a ouvir música e beber um vinho (como parte do processo de inspiração) perto do porto que vai de Santos a Alcântara. Lembro-me de uma noite estar sentado a olhar para os barcos e despertou-me a atenção uma enorme quantidade de contentores que por lá estavam. Nessa altura, já tinha o esboço da história, mas pensei "e se dentro daqueles contentores estiver alguém?" e uma vez pesquisei mais sobre o assunto e foi assim que tudo surgiu. 
 
 
 
Na sua opinião, entre a “prisão” em que vivem os homossexuais, e a “prisão” em que vivem estes escravos, qual será a mais difícil de suportar?
 
Acredito que a prisão mais dificil é aquela que descrevo no livro, pois, no meu caso, mesmo sendo discriminado num meio pequeno, tive a opção de me mudar para um sítio em que sou aceite. 
No caso de Evan e de Mark, eles não tinham a opção de sair daquela herdade. 
 
 
 
Considera que a fuga de Mark e Evan foi uma decisão precipitada?
 
A decisão de abandonarem o Nebraska? Sim! Totalmente.
Acho que eles deveriam ter esperado um pouco mais para saberem se realmente o amor iria permanecer por mais tempo e aí sim tomar uma decisão mais ponderada.
Mas acredito que os anos 90, onde acontece esta história, fossem uma época em que o medo de ser homossexual falava mais alto do que as decisões acertadas. 
 
 
 
Na sua opinião, o que levará as pessoas, como Evan, a não desconfiar de determinadas ofertas de trabalho no mínimo, estranhas e algo suspeitas – necessidade, ingenuidade, desespero, ambição?
 
Acredito que o desespero e a necessidade são as maiores causas deste tipo de situações, sejam elas o tráfico humano, a venda de drogas ou a pornografia. 
 
 
 
 
 
 
 

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Para o Pedro, o amor consegue vencer qualquer obstáculo que se interponha no seu caminho?
 
Sim, sem dúvida. Acredito que, para além do nosso planeta, o amor é a coisa mais importante da vida! 
 
 
 
Numa futura obra, gostaria de voltar a apostar na temática da homossexualidade, ou prefere abordar outras temáticas?
 
Já estou a escrever a minha próxima obra, intitulada "Caravan 4F".
Trata-se de um grupo de amigos que decidem fazer uma roadtrip numa caravana e as drogas, o álcool, o sexo e as festas serão os temas abordados ao longo da obra.
 
 
 
Que mensagem gostaria de deixar aqui a todos aqueles que, pelos mais diversos motivos, são vítimas de discriminação e preconceito?
 
Não baixem os braços, há sempre alguem que vos ama pelo que vocês são. Aceitem-se e amem-se!
Uma vez que vocês são felizes, nada nem ninguém vos poderá deitar abaixo. Nós não somos diferentes, nós não somos um erro. 
 
 
 
 
Muito obrigada, Pedro! Pela entrevista e testemunho!
 
 
 
 
Nota: Esta conversa teve o apoio da Chiado Books, que estabeleceu a ponte entre este cantinho e o autor.