À Conversa com Sérgio Martins - Especial The Voice Portugal
O Sérgio Sousa Martins vive no Porto, de onde é natural, e tem 37 anos, vinte dos quais dedicados à música.
Conhecemo-lo no programa The Voice Portugal, onde nos surpreendeu ao participar com um género musical totalmente diferente e pouco visto em programas musicais, mas que, ainda assim, lhe garantiu a presença na gala final e um honroso terceiro lugar.
Pessoalmente, não sou muito apreciadora de canto lírico mas reconheço a qualidade vocal do Sérgio, e a versatilidade que demonstrou ao interpretar alguns temas noutros estilos musicais. Porque essa é uma qualidade que está presente em grandes vozes e em bons cantores. Por isso mesmo, merecia ter disputado a duelo final com a Deolinda.
Sérgio Martins fez da música a sua profissão, sendo actualmente, para além de tenor e maestro, também professor. E um professor muito acarinhado tanto pelos seus alunos como pelos respectivos pais.
Tem também uma vasta experiência e formação musical, iniciada na sua infância.
Com diversas actuações no seu currículo, tanto como coralista como solista, em salas como o Teatro de São Carlos ou o Coliseu do Porto, o Sérgio participou também em alguns concursos e programas musicais da televisão portuguesa.
É ele o meu convidado de hoje desta rubrica especial “À Conversa com…”, dedicada aos concorrentes do The Voice Portugal, a quem desde já agradeço por ter aceitado o meu convite!
Sérgio, há mais de duas décadas que te dedicas quase exclusivamente à música. Como é que nasceu essa paixão?
A paixão pela música nasceu quando era muito pequeno, por causa de influência familiar. O meu pai tinha tocado saxofone soprano na antiga Banda de Castro Daire, de onde é natural, e a minha mãe tinha um talento natural para o fado, sendo dotada de uma belíssima voz de mezzo-soprano. Na vida da minha mãe cruzaram fadistas de renome como a Maria da Fé e a Lenita Gentil, e com pena minha, a minha mãe não seguiu uma carreira no fado! Logo, tanto eu como os meus irmãos crescemos num ambiente em que a música aparecia quase espontaneamente. Daí até começar as aulas de piano com 7 anos, e entrar no primeiro coro onde cantei, tudo aconteceu de forma muito gradual, bem construída, pois o talento para as artes performativas foi
sempre evidente. E a paixão foi crescendo cada vez mais e mais, até enveredar de forma mais profissional na música.
Porquê o canto lírico? É um género com que te identificavas, ou houve alguma outra razão para enveredares por este caminho?
Quando tinha 17 anos e concorri ao “Chuva de Estrelas” na SIC, eu queria gravar discos e ser juiz! Em casa, sempre ouvi todos os estilos musicais, desde a música tradicional à ópera. O canto lírico não era um estilo que eu procurava incessantemente, mas era um estilo que me emocionava desde pequeno. Aos 18 anos pisei o palco do Europarque na minha primeira ópera, onde cantei no coro. Era a “La Traviata” de Verdi. E acho que aí se deu o “click”, e eu percebi que era aquilo que queria fazer na minha vida! No entanto, quando tinha 16 anos, o meu pai disse-me que tinha o sonho que eu fosse um tenor conhecido!
Quem ou qual é a tua maior inspiração?
Aos 6 anos vi um concerto na RTP2, a preto e branco, da cantora Maria Callas. E nunca mais me esqueci daquela voz, daquela postura, daquela entrega, garra! Passados 31 anos lembro-me o quanto fiquei emocionado e embasbacado ao ouvir aquela voz incrível, aquela figura incrível. Acho que Maria Callas foi sempre uma verdadeira inspiração. E quando tinha 16 anos, os meus pais, no meu aniversário ofereceram-me um cd duplo da cantora, e quando ouvi a faixa 1 do primeiro cd, “Casta Diva”, de Bellini, não consegui segurar as lágrimas, e aquela voz incrível, aquela interpretação incrível relembrou-me o concerto que tinha visto na televisão com apenas 6 anos e nunca mais esqueci!
E as tuas maiores referências, a nível musical?
Pra além de Maria Callas, na ópera, o tenor Placido Domingo e o inevitável Luciano Pavarotti, o maior portento de sempre! No jazz, sou apaixonado por um “anjo” chamado Ella Fitzgerald, no soul por Aretha Franklin. Na música portuguesa as minhas referências passam pelos Madredeus, na sua formação original com Teresa Salgueiro, Jorge Palma, um dos melhores contadores de história que temos. Tenho muitas outras referências, mas estas são de facto as principais.
Sendo também professor de música, como é que os teus alunos viveram esta tua participação no concurso?
Os meus alunos são incríveis. Mobilizaram toda a gente para votar em mim, e apoiaram-me imenso, e alguns deles foram assistir aos programas. Sou grato por ter
uma outra “família”, e ela é constituída pelos meus queridos alunos. Foram uns entusiastas e agradeço a cada um deles todas as palavras de força e carinho que me deram! De coração!
Grande parte de nós ficou a conhecer-te devido à tua recente participação no programa The Voice Portugal. Para além da eventual vitória que pudesses conquistar, qual era o teu principal objectivo?
Ao participar no The Voice, o objectivo mais imediato era virar uma cadeira na Prova Cega. Felizmente tive a honra de virar as quatro cadeiras e poder ficar com a fenomenal Marisa Liz. Mas o meu principal objectivo para além de uma eventual vitória, era sem dúvida chegar à final, e ser o finalista da Equipa Marisa. E consegui, naquela que considerei a equipa mais forte, diferente e espectacular de toda a competição, sem desprimor para as outras equipas e meus colegas. Se nos lembrarmos, dos 4 finalistas, 3 éramos originais da Equipa Marisa. A Patrícia, o Pedro e eu. Um outro objectivo que estava intrínseco na minha participação era o de passar a minha verdade, a verdade da minha arte, e poder abrir portas à ópera e mostrar que um cantor de ópera pode cantar de tudo. E acho que fui bem sucedido e que os portugueses compreenderam a minha mensagem.
Consideras que foi um risco apostar neste género musical para concorrer ao The Voice Portugal?
Sem dúvida que foi arriscado cantar ópera “pura e dura” num programa como o The Voice Portugal. Portugal não é um país que aprecie naturalmente ópera. Por questões culturais. Eu sabia que teria muita gente a adorar o que eu ia fazer, mas teria muita gente a “odiar-me” por aquilo que eu fazia. Mas uma coisa eu tenho a certeza. Quer gostassem ou não do meu estilo musical, acho que ninguém ficou indiferente há minha voz. E como o programa se chama “The Voice”, considero-me muito bem-sucedido na minha demanda no programa.
Nesta edição pudemos ouvir-te cantar noutros registos, nomeadamente quando cantaste com o Alfredo e a Marisa, em português, e na gala final, ao lado da Patrícia e do Rui Drumond, em inglês, actuações que provaram a tua versatilidade, e qualidade e poder vocal. Como é que te sentiste? Parecia-te outro Sérgio?
Eheheheheh! Foram momentos brutais.
Eu canto outros estilos musicais, que vão desde a música tradicional, passando pelo fado, até ao jazz. No entanto, a minha formação e a minha vida é como cantor lírico.
Cantar o “E Depois do Adeus” com a Marisa e o Alfredo, foi para mim um dos momentos a destacar. Porque tive a oportunidade de cantar com a minha mentora, com um óptimo e talentoso colega, como é o Alfredo, e cantar uma das músicas da minha vida. Foi um momento maravilhoso.
Cantar com a Patrícia e o caríssimo Rui Drumond o “Shut up and Dance”, foi óptimo. E pude mostrar a todos que um cantor de ópera até se mexe bem e consegue cantar outros estilos, nomeadamente pop! Foi muito divertido e uma honra.
Já participaste em vários concertos, tanto como solista como coralista. O maior deles foi o do tenor Plácido Domingo, onde cantaste perante cerca de 15 mil pessoas. Como foi essa experiência?
Foi uma experiência surreal estar no palco com um dos meus “ídolos” e maiores referências. O Maestro Placido Domingo é um “senhor”, é uma estrela, e eu tive a honra de integrar o coro do CPO (Círculo Portuense de Ópera) nesse concerto. Lembro-me bem que no palco, ao ver aquela multidão imensa à nossa frente, e quando Placido Domingo abriu a boca para cantar, não resisti, e chorei o concerto todo. Nós participamos com ele na primeira parte, e depois na segunda partem pudemos assistir ao concerto da plateia. E eu gritei tanto “BRAVO”, que até fiquei afónico. AHAHAHAHAHAH!!!!!!! Foi uma experiência incrível, e conhecer a humildade daquele grande homem, que não é só grande em altura, como é em talento e de coração. Ele fez questão de cumprimentar cada elemento do coro pessoalmente, e quando chegou a minha vez, queria dizer-lhe tanta coisa, mas fiquei de tal forma estupefacto que congelei e só sorria e dizia “gracias, gracias, gracias….”. Eheheheheh.
Depois de teres trabalhado com figuras públicas ligadas ao espetáculo, como a Anabela, Simone de Oliveira ou Miguel Gameiro, e de teres gravado uma música com os Quinta do Bill, sentes que esta é a hora de apostar unicamente no Sérgio?
Eu já luto pelo meu “lugar ao sol” há demasiado tempo! Tenho trabalhado tanto, tenho lutado tanto, tenho dado tanto de mim, que sim, está na hora de apostar no Sérgio. Mas o Sérgio sem músicos, compositores, letristas, não é ninguém. E adoro trabalhar em parceria com óptimos músicos. E Portugal tem músicos incríveis.
Quais são os teus planos para o futuro? Que sonho gostarias de ver realizado?
Eu gostava muito de pisar novamente o palco do Teatro de São Carlos, e ter a oportunidade de fazer um papel de maior relevo. Sinto-me preparado e capaz disso.
Gravar um álbum também é um sonho, apesar de estar consciente do difícil que é singrar no nosso país. E finalmente, adorava participar no Festival da Canção. É um desejo de criança, que acho que só irei perder quando lá for. E quero também tentar a minha sorte no estrangeiro! Vamos ver como corre!!!!!!!
Vou continuar a trabalhar afincadamente para mostrar a minha verdade e a minha arte a todos.
Muito obrigada, Sérgio!
Quero agradecer ao blog Marta-O meu canto, por ajudar a divulgar e a promover o que de bom se faz em Portugal. Bem haja Marta Segão. Obrigado eu! Abreijos ;)
Imagens The Voice Portugal | RTP