Adolescência
a série de que todos falam
Acho que posso afirmar, sem andar longe da verdade, que esta é a série do momento!
Aquela de que todos falam, que todos comentam, sobre a qual todos têm algo a dizer.
E, opinião quase unânime, uma excelente série.
Que todos deveriam ver: pais, filhos, alunos, professores.
E que até chegou ao parlamento britânico, reacendendo o debate acerca da influência, nos jovens, das redes sociais.
Quanto a mim, digo-vos que comecei a ver a série e, a meio do segundo episódio, desisti!
Não estava a cativar nada, não me estava a passar mensagem nenhuma. Em bom português "uma grande seca".
Qualquer coisa era bem vinda, e me distraía daquilo que estava a fazer um esforço para ver.
Não sei se por, no fundo, nada daquilo ser uma novidade para mim.
Oiço muitas pessoas dizerem que é um choque de realidade, um soco no estômago.
Mas, a verdade, é que vemos situações do género a toda a hora. Cada vez mais adolescentes perdidos, influenciados de forma negativa pelas redes sociais, vítimas de bullying, da crueldade dos seus pares.
E sim, como se costuma dizer, até "no melhor pano cai a nódoa".
Os pais fazem o melhor que podem (os que fazem) com aquilo que têm. Também a sua vida não lhes permite, mna maioria das vezes, um maior acompanhamento dos filhos. E, ainda que assim fosse, não podem controlá-los a todo o instante. Saber o que lhes vai na cabeça. Prever as suas acções.
Claro que, quando há cumplicidade, diálogo, compreensão, abertura e disponibilidade, tudo pode ser diferente. Mas não é uma garantia absoluta.
E, também, nas melhores famílias, pode acontecer aquilo que nunca, ninguém, pensaria.
Por outro lado, os pais podem exercer, eles próprios, mesmo sem o saberem, uma influência negativa nos filhos. Seja pela exigência em relação a eles, e eles, pelo receio de desapontar, ou envergonhar.
Todas as fases são complicadas, e a adolescência não é excepção. Aliás, incidentes, crimes, começam a ser cada vez mais frequentes até na infância.
Portanto, como dizia, nada isto é surpresa ou novidade.
Mas, como sou teimosa, e porque queria ver aquela que, para mim, é uma das cenas mais bem conseguidas da série - a conversa de Jamie com a psicóloga - recomecei a ver, de onde tinha parado.
A série começa a melhorar para o final do segundo episódio, o que ajudou a terminar de vê-la (até porque são só 4 episódios).
E só vos digo: uma vénia para a interpretação de Owen Cooper e Erin Doherty!
Sobretudo, para Owen que, com apenas treze anos, fez um trabalho fenomenal no seu primeiro papel, na sua primeira cena gravada.
Quanto à história em si, Jamie é um rapaz de 13 anos acusado de assassinar uma colega de escola, esfaqueando-a até à morte.
Não percebi o porquê de todo aquele aparato policial para deter o rapaz, como se se tratasse de um bandido extremamente perigoso, de um qualquer cartel de droga, ou algo semelhante.
Sim, é um assassino. Mas também é apenas um jovem. Que estava em casa, com a sua família. Assustado.
Por outro lado, é fácil perceber a "culpa" que, um acontecimento como este, gera em todos ao redor.
Nomeadamente, no Inspector Bascombe que, de repente, perante tudo o que presencia na escola, decide aproximar-se do seu enteado, tentando estar mais presente, percebê-lo melhor.
É um começo, sim. É positivo.
Mas não é isso que o vai levar, de uma hora para a outra, a tornar-se o melhor amigo, o confidente. Não é de um momento para o outro que vai conseguir perceber toda a complexidade dos jovens, dos seus problemas, das suas interações, dos seus receios, das suas dinâmicas, e do que os leva a cometerem determinados actos.
Posto isto, pode-se dizer que "Adolescência" é mais um alerta, mais uma chamada de atenção, mais uma oportunidade de reflectirmos sobre aquilo em que o mundo se está a transformar.
Nos jovens que estamos a criar, a educar, nesse mesmo mundo louco. Em toda a rede de suporte e apoio (ou falta dela) que os (e nos) empurra para determinados caminhos.
Mas, como digo, não é a única.
A culpa?
Essa pode ser de todos, em geral. E não é de ninguém, em particular.
No fundo, morre solteira.
É a dura realidade dos nossos dias, reflectida, mais uma vez, no ecrã e na ficção.