American Son, na Netflix
Mais um dos filmes que estava, há muito, na minha lista de espera da Netflix.
Confesso que, quando li a sinopse, pensei que seria mais um filme sobre um filho desaparecido, talvez raptado, e sobre a ineficácia da polícia, em agir.
De facto, há um filho desaparecido. Mas esse acaba por ser apenas o fio condutor para toda a trama que se centra, basicamente, em mais de uma hora de discussão entre a mãe, negra, e o pai, branco, e o ponto de vista de cada um quanto à forma como queriam educar o filho, e como essa educação se reflectiu na confusão em que o mesmo estava a viver nos últimos tempos, a par com a separação dos pais.
Por um lado, temos uma mãe que teve um passado traumático, fruto de racismo, e que quer que o filho seja livre para ser como é, sem receios, sem limitações, aceitando as suas raízes, e fazendo valer os seus direitos, enquanto ser humano, independentemente da cor da pele.
É uma mãe que, perante uma fase menos boa na vida do filho, tem que tomar decisões. E viver com os seus constantes pesadelos relativamente ao que, eventualmente, poderá um dia acontecer ao filho.
Agora, naquela sala de espera, em desespero por não saber do filho, com o qual tinha tido uma discussão feia antes deste sair, e perante um agente que parece pouco disposto a ajudá-la, Kendra está à beira de um ataque de nervos, a dizer tudo aquilo que tem entalado, que pensa, mas nem sempre deve dizer quando se depende das pessoas em quem se está a descarregar a frustração, ainda que com toda a razão.
Por outro, temos um pai que quis, desde sempre, que o filho fosse criado de acordo com as tradições da família branca, ou seja, à sua medida mas, relembrando-o daquilo que, enquanto negro deve evitar.
Um pai que deixou a mulher porque passavam o tempo todo a discutir, por conta das diferentes formas de ver a vida, a educação do filho, a realidade, o futuro.
Um pai que talvez não esteja tão presente quanto seria de esperar.
Scott é um homem um tanto arrogante, um tanto ponderado mas, quando percebe que o estão a enganar, também explode, e causa danos que seriam de evitar, naquela situação.
Ainda assim, consegue conservar algum bom humor.
Kendra e Scott, enquanto aguardam a chegada do tenente, que parece nunca mais vir, passam o tempo todo a discutir, a atirar culpas um ao outro, a fazer mútuas acusações, a responsabilizar o outro pela situação em que o filho está agora, repetindo o padrão em que se tinha vindo a tornar o casamento.
Mesmo quando parece que estão prestes a dar tréguas, por uma causa maior, e por um amor comum, pelo filho de ambos, que está desaparecido, voltam ao ataque.
E será assim até aos momentos finais, quando é revelado o que realmente aconteceu a Jamal, e em que cada um deles percebe que todas essas discussões foram inúteis, que não existem culpados, que não podem controlar nada, nem ninguém, o tempo todo, e que cada um é responsável por si próprio e pelas suas acções.